As comunicações tácitas incomodavam, rasgavam o peito. Ao mesmo tempo que lhe acariciava. Sabia que estava sendo observada. Talvez lida. Uma parte sua guardava a tentação de estar fora daquele olhar que tantas vezes pudera ver presencialmente, atentamente... bloquear passava por sua mente... os olhos dele agora eram manifestações quase estranhas... tanto que nem lhe pareciam reais. Não tinha notícias do lado de lá. As últimas que obtivera não a fizeram feliz, ao contrário, criaram um abismo maior dando embasamento para afastar-se ainda mais severamente. Dias de raiva, dor, rancor. Uma traição silenciosa cuja causa não sabia ao certo qual era. Acusá-lo do quê? Tentava! Queria minimizar seu senso de empatia a todo custo. Desumanizar a presença dele ainda tão intensa. Tentava! Mas tentar é o mesmo que não conseguir. Não podia. Seus pensamentos ainda estavam bagunçados, seus sonhos perturbadores num sono sempre mal dormido. Luto por alguém tão vivo? Apagá-lo de sua história depois de tanto impacto causado? Preservar a gratidão. Gostaria... ou não. Ser grata, reconhecê-lo humano seria sinônimo de um amor ainda expresso, impresso, intenso gravado na sua própria pele. Lembrava dos motivos de sua partida, legítimos, dignos, cristalinos. Mas não era só isso... sua memória também era composta de manifestações transbordantes, de prazer, de trocas inéditas. Angústia. Os olhos enchiam-se de lágrimas, mas ainda não conseguia chorar, as lágrimas não escorriam. Dores. O corpo chorava por dentro o choro que não caia pra fora. História. Sabores. Sacadas. Diálogos. Descobertas. Pertencimento. Falta. Alma. Calma, calma, calma... dizia a si mesma "tudo vai passar, estamos na pior parte". Olhar para trás. Mas não havia caminho de volta sem negar-se... não havia estrada pra frente sem deixar para trás um pedaço de sua carne, de seu espírito. Viradas de chaves incompletas, repletas de sensações febris. Calor. Frio. Os sentidos do corpo que buscavam sentidos outrora experienciados. Desamor... amor... amados... amantes... tão perto, distantes.
sábado, 15 de dezembro de 2018
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Três
Existem sonhos que são pura poesia, mas existem pesadelos. Ela ainda não tinha certeza sobre em qual estado onírico estivera. Mas guardava a sensação de que seu entendimento simbólico não seria o bastante para interpretá-lo. Buscava ajuda. Dialogava mundo afora, sem as barreiras do tempo. No entanto, guardava uma impressão antipoética na garganta. Um sentimento nítido de ter se deixado invadir. Não sabia se a invasão havia sido feita pela natural intensidade da poesia ou pela antipoesia da vida real em sua face mais dura. Ou as duas. Em qualquer hipótese, uma certeza, tudo era por sua própria culpa ou mérito, a depender do referencial! O sonho havia tido um ardente apelo estético e emocional, talvez por isso lhe restara tantas dúvidas. Metáforas. A vida era metáfora da vida, os sonhos também, tudo se repetia. Qual era a matriz da sua história? A primeira experiência que a mantivera no mesmo círculo por tanto tempo? Três mulheres, ela já as tinha visto, vestido suas especificidades, vivendo de maneiras peculiares a mesma trajetória. Uma em três...como se fossem vidas diferentes, sem serem. Talvez uma versão herege e feminina da divindade ocidental de agora. Todas estéticas, arquetípicas, radicais. Mas sempre repetitivas. Compunham sua identidade mosaica Atena, Afrodite e Psique. Deusas de luto habitavam sua alma. Atena guerreira, oriunda da cabeça de Zeus, civilizada, sagaz, altiva, intelectual. Afrodite... a deusa do amor, a sensualidade a flor da pele, dona do sexo, da sedução e apreciadora das levianidades do Olimpo. Psique... a mortal que, ao encontrar o deus do amor (penso que talvez o amor-próprio)... tornara-se a deusa da alma. Havia um quê de fatalidade nas imagens apresentadas pelo inconsciente. Qual delas seria sua personalidade primária? A verdade é que elas não se davam entre si, mas haviam nascido tão juntas! Reconhecê-las em seus sonhos, mesmo machucadas e tristes, contraditórias, representava o estabelecimento e o desabrochar da totalidade originária potencial. Uma conclusão, portanto, poética e antipoética, afinal... composta por três deusas, nascia uma só mulher: plena, inteira, imortal!
Ilustração de Joaquim cartaxo
Texto inspirado em diálogos com a obra de Jung "A Psicologia do Inconsciente"
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
Maus poetas
Os dias eram completamente diferentes uns dos outros. Fazendo com que questionássemos a verdade da existência da primavera. Mas não por isso, exatamente. Quando se sai das rotinas padronizadas, previamente estabelecidas como padrões de vida, fica-se a navegar a deriva, com o desafio de encontrar novas formas de viver.
Sim, questionamos tudo, as instituições sacralizadas, as obrigações cristalizadas, nossos próprios quereres primários. Nunca sabíamos ao certo o que era nosso, o que nos era imposto. O que era do outro. Por suposto. As brincadeiras com palavras permitiam algum fôlego. Um fazer artístico rudimentar e sem compromisso. Sem compromisso mesmo... não nos importávamos com quem leria as nossas cartas, fazíamos para nós mesmos ou para o vento. Ou um para outro. Ou para ninguém.
Sublimação definia um pouco das nossas intenções. Nas palavras e no modo de viver também. A escrita permitia que lêssemos a nós mesmos. Desde sempre foi assim, conosco, maus poetas descomprometidos, como também com os bons. Os imitávamos como quem comparecia numa festa a fantasia vestidos com os devidos arquétipos. Uma forma peculiar de diversão. Mas voltemos, no começo falávamos sobre a primavera... só não façamos confusão, agora era sobretudo, sublimação.
Mas sublimar o que? Sabíamos ao certo? As paixões reprimidas ou vividas homeopaticamente? As palavras engolidas diante das travas do outro, com o eu exposto e imposto? As amizades entrelaçadas, mas impedidas pelo tempo e espaço? As mágoas contidas nos devorando aos pedaços? O enxergar nossos próprios limites e o quanto somos por tudo culpados? As noites jamais terminaram ou terminariam como gostaríamos...
Sim e não! Escrever como diversão e sublimação era só uma desculpa. Uma história que contávamos para parecer simples. Nossos ensaios escritos éramos nós descritos. E as palavras eram mágicas, davam formas a um abstrato perigoso e resoluto. Iam despindo as almas, revelando intentos, tornando grande o que parecia pequeno. A poesia, de aparência inofensiva, uma arma que as vezes era cura... outras, veneno!
Ilustração de Joaquim Cartaxo - feita para esta narrativa poética.
Ilustração de Joaquim Cartaxo - feita para esta narrativa poética.
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
Eu!
Totalidade circunscrita,
Interesses sistemáticos,
Conhecidas e infindáveis perguntas!
Eu!
Onde estavam em mim as lacunas que proporcionaram conexões tão viscerais?
Analisar o outro era sempre uma tentação sem pudores.
Analisar a si mesmo um caminho amedrontador.
Objeto, sujeito, arquétipo!
Freud, Adler, Jung!
Libido, poder, introversões e extroversões.
Amor, ego, construções histórico-sociais.
Os efeitos provenientes de si próprio,
As histórias repetidas ciclicamente durante toda a vida,
Guardando sempre inéditos requintes de deslumbramentos.
Efeitos incontroláveis de fundo psíquico.
Indagações aparentemente casuais.
Contínua atuação recíproca sobre o outro em molduras acanhadas,
Generalizações sempre precipitadas a um aspecto único.
Tudo e nada.
Ocasião de assumirem identidades individuais.
Teorias sempre e indevidamente atualizadas.
Agrupamento gradual de fragmentos.
O tempo, o tempo, o tempo.
De cujo evoluir não é possível escapar,
De cujas palavras se pode engasgar.
Participações místicas,
Monstros de cabeças infinitas capazes de reduzir o pensar.
Em não se tratar de objeções justas ou injustas,
As portas da fantasia,
Com capacidade relativa de sublimação,
Evocava-se então a função reguladora dos contrários.
Pois a saber que a plenitude da vida tinha normas e não as tinha,
Sendo racional e irracional.
Pensava, puxava os fios condutores,
Escrevia e temia perder o controle.
Ilustração de Tanya Shatseva (disponível no Instagram)
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Saberes de loucura
Quem se atreveria a uma contraposição poética
Capaz de anular os trâmites do eu?
Só o fluir nos resgataria
Da inconsistência absurda
Dos pequenos rumores periféricos do agora.
Histórias... memórias...
Tempos idólatras e nós também!
Muito mais além.
E logo na próxima esquina...
Espectros. Sinais.
Outros temores, rumores demais.
Tudo ruía...
Os desabamentos das impressões nítidas,
Das expressões implícitas,
Das compreensões tácitas,
Das rotinas da vida estática.
Nada, nada mais.
Sabores cítricos,
Saberes críticos,
Inclinações investigativas
Penetravam antigas prerrogativas
Há muito perdidas
Mas esquecidas jamais.
A confusão imposta,
Respiração gritante,
Face rubra exposta,
Fantasias irreais.
A espera vazia, a noite caía...
A Lua alta, o vento forte...
Gente que ficava para trás!
Que azar, que sorte.
O que não parecia,
Era vida,
Mas sempre um pouco mais de morte.
Mas sempre um pouco mais de morte.
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Contextos
Tinham direções opostas que em breve encontro, num cruzamento ilógico, se confirmaram como uma única direção. Quase que por acidente... numa obra fina, e talvez obra-prima, do tempo e do espaço como os mais falsos protagonistas.
"O tempo e o espaço não existem" - afirmavam em suas evidentes arrogâncias e inseguranças do primeiro encontro...
As demandas de suas camadas mais evidentes, na parte de suas identidades cheias de comprometimento com a vida, de maneira inglória, pulsavam pelo amor como princípio de não dominação, mas isso apenas quando, fundamentalmente, a gramática do inconsciente os mantinha livres do superego das doutrinas oficiais.
"Estamos em permanente desconstrução" - o que seria uma mentirosa afirmação não fosse um olhar muito atento a considerar passos lentos.
Talvez o destino gargalhasse deles, o desencontro de uma década que guardou um encontro avassalador. Os olhares fascinados, se fitavam e se perdiam no infinito reflexo dos seus abismos, talvez transbordantes de tudo, talvez apenas cheios de nada, mas firmando-se como uma força capaz de submeter as naturezas alheias.
"Em você... eu me perco e me encontro" - diziam em êxtase, sem muita explicação!
No entanto, se encontravam num complexo trânsito de difícil fazer e dizer, eram limitadas suas capacidades de adaptação e construções de consensos imediatamente eficazes, diálogos plenos diante de suas relativas maturidades. Dificuldades estas não somente no exercício a dois, mas principalmente, diante do enfrentamento individual de cada uma de suas identidades idiossincráticas de antemão.
"A vida não é linear e nem estática" - matéria prima de autoperdão...
Fases de declínio, energias em esgotamento faziam com que na distância degustassem boas doses de agonia, como também grandes parcelas de memórias do prazer e do calor. Memórias estas, que eram parte das causas de êxito de tão estranha interação, pois estavam acariciadas por suas relações contraditórias, embora não sem dor, com o poder e com o amor.
"Ah o amor... tudo era sobre o amor!" - de novo e de novo...
Registros
Os presságios anunciavam a intensidade da energia movida no Universo. Tudo estava ligado por linhas relativamente invisíveis, mas nítidas como a própria dor de existir. E fosse como fosse, não podiam resistir as verdades apresentadas. As almas transbordavam suas virtudes e vícios, seus padrões e suas necessidades de transformação. Do lado de cá, uma força se restabelecia, constituindo a sanidade de mãos dadas com a loucura... a explosão como cura, na qual toda a experiência outrora vivida servia como referência para a reinvenção. Do lado de lá, caminhos sombrios, a tristeza, a emoção a flor da pele tomava o lugar das simulações padronizadas, dos autoenganos cristalizados que dissimulavam a dor. Ambos viviam o desfecho de uma vida bem ou mal, mas intensamente, vivida. Tudo fora posto na mesa, os elementos de morte, cura, culpa e vida. Era possível duvidar de resoluções fáceis, redignificar a própria história seria tarefa difícil. Construída passo a passo, que incluía cortar na própria carne, colocar limites na pulsão de estar diante do outro, dos olhos bem quistos, dos afetos pulsantes que ignoravam qualquer verdade além do amor a ser vivido, do outro a ser acolhido. Mas a grande lição é que o amor resiste a verdade. E que ele não é óbvio e permeia todas as dimensões do ser. Se constitui na complexidade das ações. Na desconstrução do maniqueísmo, no olhar mais atento, na interpretação profunda da vida. "Interprete a vida!". Interpretar a si mesmo nos passos dados, nas pulsões sem explicação. Ninguém volta ao mesmo lugar depois de expandir, ou ao menos não deveria, volta e meia encolhemos o pensamento e voltamos a rudimentariedade outrora vivenciada. Mas as experiências estão lá, prontas para serem acessadas, para dar suporte a um novo ciclo de expansão. Relação. O enxergar ao outro é ver a si mesmo! E quantas vezes nos cegamos. Mas naqueles dias a vida cobrou bruscamente as vendas nos olhos que optamos por usar. Transbordou! Avassalou tudo! Sacudiu o mundo. Tudo estava devidamente registrado. Havia uma proximidade na distância estabelecida, um entrelaçamento cristalino, nunca tinham sido tão próximos...
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
Alma-Império
Polariza o teu amor do jeito que quiseres,
E te encanta ao acolher os teus quereres.
Queira o querer que em ti sempre esteve,
E de ti mesmo, o teu amor, te empoderes.
Dê os passos na direção do teu mistério,
Mergulha em teus desejos escondidos,
Reflexo dos amores ensinados outrora recebidos,
Revelando a essência, fundamento da tua alma-império!
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
Carta para Alice
Querida Alice,
essa não é a primeira carta que eu te escrevo. Aliás, talvez sejam mesmo para você todos os meus escritos, mesmo quando para outros. É à você que pretendo deixar os registros da história. No entanto, minhas cartas para você propriamente ditas nunca foram publicadas. O que talvez seja uma pena... e também um alívio.
Hoje acordei estranha, Alice. Sinto que estou com alimentos oníricos e questões da alma um tanto mal digeridos. Tem sido tantas formulações e em conclusão nenhuma. E acho que a indigestão me criou uns bloqueios. Ando meio sem sentir. Umas tantas camadas inibem minhas pulsões. Nem recebo as alegrias com fervor e nem as tristezas com o devido drama. Estes dias quase consegui... nas tristezas talvez seja mais fácil... não carregamos culpa em ser tristes, Alice. Mas em sermos felizes, ah... não posso dizer o mesmo.
Há poucos dias estive em lugares que não havia estado antes, conheci pessoas que não conhecia. E como são complexas as almas e como os corpos são tentadores. Não há pensamento linear que defina aqueles que aceitaram o desafio de viver sua própria identidade. E a minha identidade é cheia de paradoxos, contradições e angústias... e a dos outros também.
Sabe, Alice, no fim é tudo sobre o amor. O problema é que as "sociedades" inventaram receitas pré-fabricadas para amar. E isso é errado. O amor apenas é. De um jeito ou de outro. Tem amor que não cabe na nossa cabeça, tem amor que não cabe no nosso coração, tem amor que não cabe no nosso corpo. Mas é amor também. Tem amor que cabe em todos os nossos lugares. Tem amor que cabe por muito ou por pouco tempo. Tem amor incabível, tem amor intransponível. Não importa.
Ontem assisti um filme que o protagonista dizia que aqueles que se amaram um dia tem de no mínimo serem amigos para sempre. E acho mesmo, Alice, que basta um dia para amar infinito. E que bom seria se todos os que amamos e se distanciaram de nós por algum motivo, fossem nossos amigos para sempre. É lindo... mas acho que tenho mais amigos que nunca foram amores do que ex-amores amigos. Talvez eu não seja tão boa nisso.
Mas ainda sobre o amor, a verdade Alice, é que a gente é muito ruim de amar. A gente confunde amor com idolatria... tanto pra um lado como para o outro. Explico. Ídolo no conceito bíblico é um objeto com o qual tentamos substituir Deus. Ora tratamos o ser amado como deus, ora como objeto. Colocamos nele a expectativa que só poderia ser cumprida pelo Criador... desejando que ele atenda nossa vontade na exatidão de nossa exigência... mais ou menos o que esperamos de um forno microondas. Idolatria é um tipo de uso... amar é se relacionar, se comprometer, montar um quebra cabeças todos os dias. E aí, o lance é que volta e meia o outro também encarna o ídolo, se coloca como tal.
Amor é outra coisa. Amar é se ver como igual. É uma frequência em outro patamar. As vezes eu sinto, vivo, experimento o amor. Sempre que dá certo...eu estou pronta a viver o amor, ou as vezes, quase pronta, mas a gente ama assim mesmo. Por que não tem nada pronto na vida e também não tem descanso... o que mais se parece com descanso, Alice, é mesmo o amor!
E parece clichê, mas o amor é a melhor coisa do mundo, garota. E não tem receita não. Sempre quando eu paro, tiro o piloto automático do comando e assumo o volante, eu começo a sentir um pouco mais, saio da anestesia estranha e sinto tudo. Começa por sentir a gente mesma, desconstruir aqueles desamores que carregamos ao olhar no espelho, ao expressar a nossa opinião, aquele medo que dá, Alice, pois é... é ali que mora o desamor.
O medo de ser quem somos, da não aceitação do outro e da sociedade, do julgamento... esse medo vai criando raiz, se expandindo dentro da gente para diversas partes, quando a gente vê... a gente é puro medo e quase nada de amor. E nossas lacunas passam a falar mais alto do que as colunas do amor e de nossos sonhos. O que sobra é uma alma implorando uma migalha daquilo que é abundante no Universo... a gente acha que é pobre de amor, mas é rica, muito rica, Alice.
Por dentro de mim... é um pouco isso, minha querida. Por fora, tudo vai estranho também... os movimentos jogam as frequências cada vez mais para baixo. O medo que era mais dentro invade lá fora. E as vezes, quando a gente sente, a gente chora... mas não é sempre.
Só não se esqueça, Alice, tudo é sobre o amor.
Só não se esqueça, Alice, tudo é sobre o amor.
Eu.
terça-feira, 6 de novembro de 2018
Muito mais além!
As demandas do agora
Que me tiram do lugar,
O tiro seco, o rosto pálido,
O mistério a revelar.
O surto que inundava o quarto,
A narrativa desforme...
A negar a vida tão inadequada
E tão dentro do conforme!
Não, não e não...
Não haveria demanda do corpo
Que alimentasse o coração.
Uma oração silenciosa
Ensurdecia o sentido não exercido,
O não-ser escondido
No que se era também.
O agora, na hora...
E muito, muito mais além!
Texto sem fim...
As faturas da vida criavam dívidas impagáveis e desleais com quem se apresentasse disponível décadas depois das dívidas contraídas... haja juros emocionais para tantos déficits primários oriundos dos corações machucados pela vida afora. Portanto, não haveria zona de conforto. Uma vez resolvido aqui, logo se desvalia ali... e a reconfiguração e expansão das plataformas da alma eram constantemente provocadas. Simploriamente revelada pela metáfora do carro velho... quando terminávamos de consertar algo e pagar a conta, outra peça tinha seu prazo de validade vencido, num círculo infinito de arranjos e arrumações. Talvez por isso ela necessitasse de tantos instrumentos de manutenção. Tudo era um grande aparato para formulação de si... fossem as terapias alternativas, as interpretações de sonhos, a identidade revelada no trabalho, as leituras, as conversas sem fim com os interpretes da alma, as alucinações conscientemente provocadas, as elaborações do fazer amor... e a escrita, é claro... pois cá estamos. E sem nos perdermos do tema... houve um sonho... num sábado a noite qualquer. A verdade é que dormiu sentindo profundamente uma falta. Uma falta que parecia de alguém. E sonhou, sonhou um daqueles sonhos que se acorda lembrando, desperta-se sobreaviso, entendendo que algo precisa ser entendido. A começar pelas semelhanças que não eram coincidências, reveladas pelas pontes oníricas, mas que agora, nas noites subsequentes, não a deixavam dormir. E para avisar a alma, limitavam o corpo. Enquanto ia percebendo seus níveis motores baixarem a potência, obrigava-se a escutar a difícil trama narrativa do inconsciente tornando-a febril pouco a pouco, meio doente, meio surto. Elementos de amores-pretéritos revelavam os pavores das relações-presente. E a contradição filosófica liberdade-segurança traziam a tona a liquidez das tramas do agora... nada nunca seria o suficiente para as demandas do coração. Porque o preenchimento devido não era aquele que o agora pretensiosamente se propunha a preencher. Os medos eram cumulativos, mas uma coisa só. Verde ou maduro... sentia a mesma sensação... projetava no hoje a ausência de ontem, sabotando por dentro de si a existência do amanhã.
E as faltas eram uma percepção já mais elaborada... no início apenas não se sentia apta. Passeava pela vida onírica a transferir os próprios bônus e ônus que tornavam a vida, a vida! Não há dor sem delícia e nem delícia sem dor, mas no início parecia não saber, anestesiava-se de sua própria geração de vida, duplamente gerada por ela e feminina! No desenrolar da trama, se surpreende ao perceber sua própria alienação... como pôde negar-se a plenitude da vida? Passa então a reivindicar o óbvio, mas que outrora deliberadamente alienado, passou a ser o não-eu... um recurso natural que lhe fora esvaziado. A alienação é um sistema mesmo muito cruel. Descola o ser de sua sombra, cria gente meio sem rosto... constrói um inferno trancado por dentro.
No entanto, mal havia percebido a alienação que se auto imputara, estava a iniciar o processo de vencer os obstáculos, recuperar a identidade, a autoria de si mesma, quando outra armadilha se apresenta... o outro, o círculo vicioso, a dependência, as lacunas não preenchidas, a infinita e infinita ausência... as faturas da vida...
terça-feira, 9 de outubro de 2018
Significar a ressignificação!
O imobilismo do desespero.
Os pontos de vistas
E os atos alheios.
A vida humana possível.
A ação que não se insere numa tradição.
Cenário demasiado sombrio.
Afirmações histéricas sem hesitação.
Palavras que não significavam rigorosamente nada.
Pessoas ávidas...
De escândalo, sangue e agitação.
A existência que parece preceder a essência,
Em função de paupérrima percepção.
O que se projeta num futuro compreende
vulgarmente o querer que posteriormente se define...
Somos responsáveis por nossa estrita individualidade
Mas quando o fazemos,
Engajamos toda a humanidade.
Em meio a grande pluralidade dos possíveis.
Transpor a angústia à condição da ação.
Significar a ressignificação!
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Fosse como fosse
Todas as relações eram encontros energéticos cujas partes apresentavam compatibilidades de seus encaixes, para o bem e para mal. No aparato das compreensões humanas, as maneiras de arbitrar revelavam as marcas definitivas impressas nas almas de cada um. As possibilidades de transformações, ainda que remotas, existiriam somente condicionadas ao reconhecimento de si em meio a tudo o mais existente. Os olhares eram atrapalhados pelo primário senso de inautenticidade e adulteração infiltrados pelas culpas envoltas das contradições dos compromissos tácitos e expressos. Auditar e editar o próprio pensamento, remendar e recompor os olhares... desafio da tríade pensar-falar-agir. As verdades eram precárias, as mentiras revelam uma dimensão até mais honesta da alma e fazia-se necessário escapar da força gravitacional das certezas. Ser o que não se é, transformar o outro no objeto das expectativas... a pretensão refletida no ensimesmamento que afastava o pensamento da dimensão da unidade e a doença revelava o saber que a racionalidade não queria aceitar. Onde estaria o que é autêntico? Permitir-se entrever e intuir... montagens abstratas e sinapses reverberavam para dentro o que se experimenta no mundo... e entregava ao mundo o que se constituía lá dentro. Isto porque o amor é... e fosse como fosse, mesmo no menor espaço, no menor tempo... inundava a vida com os seus requintes sutis de empatia, transformando os diálogos mais apequenados em experiências transcendentais e risadas genuínas.
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
Pólos Opostos
Cada cena que construíram juntos naquela noite era uma confissão de suas faces mais ocultas para consigo mesmos. A ação consumada na presença um do outro dava contornos para o que antes, desforme, talvez morasse nas linhas tênues entre a consciência e os planos oníricos de cada um. Se de um lado, era um tanto quanto estranho o outro sabê-lo tão nitidamente, para além disso, perturbador era rememorar a própria imagem a protagonizar os fatos. Testemunhas de um delito subjetivo com elementos de concretude. Assombrosa vitalidade que denunciava uma energia obscura de tal modo impressa em seus espíritos que não puderam resistir. E talvez não poderiam novamente, assim que se recuperassem de um avassalador esgotamento imposto pela necessidade de reconfiguração de seus recursos internos. A proposta, aparentemente, contradizia em demasiado o que o mundo entendia por suas identidades. E ao mesmo tempo não. Pois cortejar a loucura talvez fosse o principal elemento da manutenção de suas sanidades. O domínio revelava uma disposição sutil e profunda de amar a qualquer custo, depositando ali toda a energia do mundo, e o submeter-se clarificava uma força consolidada a ponto de entregar-se totalmente sem o medo de se perder. Mas os corpos eram templos para uma causa por demais humana... quase ilegítima, a não ser pelo compartilhamento tão revelador que os colocavam em profunda vulnerabilidade, que se não o fosse, ao menos muito lembrava a energia mais poderosa do universo, vulgar e divinamente conhecida como amor. Frente a frente, embevecidos de contradições, vivenciavam um aspecto sagrado do que, grosso modo, poderia ser denominado pecado. Pólos opostos de uma mesma demanda da alma, ao que tudo indicava, estariam para sempre ligados.
domingo, 9 de setembro de 2018
Hoje não!
Hoje não!
Só a solidão é companhia,
Resgatar minhas memórias,
A paz da melancolia.
Hoje não!
Ninguém me determina,
Não há espelhos, não há intenção,
Meus olhos, meu espaço,
Sem êxtase, sem agonia.
Hoje não!
O coração se cala,
Meus próprios braços que me acolhem,
Cata os meus pedaços, me recolhe!
Silencia.
Hoje não!
Preciso me enxergar,
Tecer meus planos,
Lamentar os danos,
Me lembrar de que sou minha.
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Agonia
Não, este não será um texto sobre o amor. Era, mas não é mais. Começou assim... numa agonia profunda provocada aparentemente pela óbvia desatenção do outro. O texto foi se formando em seu ser, sendo gerado com as palavras mais triviais, embaladas pela poética musical da vez, que mesmo variando, dizia sempre a mesma coisa.
Conforme o texto foi crescendo, as plataformas começaram a dar sinais de esgotamento. Mais uma vez escreveria um clamor ao outro? A música que ouvia e recitava seus sentimentos poderia sabê-la assim tão profundamente se fosse verdade o que acreditava ser a base de sua agonia? Quantas vezes este mesmo sentimento havia lhe visitado... as respostas poderiam ser sempre as mesmas? Não... aos poucos via com clareza.
Decidiu radicalizar no que lhe pareceu a sua mais possível verdade. Confessou então que nenhuma atenção jamais lhe seria suficiente (e que difícil era confessar aquilo). Para alguém algum dia fora? Não, era claro que não. Tivesse ele religiosamente lhe adorado ou profanamente lhe desejado dia após dia... estaria ela satisfeita? Sempre demandaria mais e mais e se fosse assim ele mesmo não existiria em verdade. A razão disso tudo morava em algo de outra natureza.
A paixão, este encontro de sintomas, este preencher lacunas incuráveis no entorpecimento da projeção sempre daria um jeito de agoniar-se. Cedo ou tarde a insatisfação se instalava e começava a gritar. E as projeções óbvias no outro eram os lugares comuns aos quais caminhávamos cegos, num círculo vicioso sem fim.
A verdade era que as razões para o amor faziam-se todas e nenhuma. Eram a presença absoluta e a ausência infinita. Que triste fim tinham as paixões absolutamente consumadas, terminavam em pó... muchas e acabadas, expressas ou em afastamento ou num errante pedantismo artificial e infantilizado. Por outro lado, as paixões nunca vividas eram um copo cheio de vazio, um alimentar-se de vento. Eis aí a contradição implacável do amar.
Pois então... não fosse um sofisma acusá-lo de desatenção, a solução posta talvez seria guardá-lo num pote, descaracterizá-lo, impedi-lo de ser. A resposta era não haver resposta! Não havia caminho sem tensão, contradição... sem paradoxo. Invocou então a dialética... a melodia da evolução cantava tese, antítese, síntese... podendo ser traduzida por encantamento, agonia... epifania! Esta música sim podia finalmente traduzi-la!
Todo amor ao outro era de alguma maneira sobre si mesmo. E ela sabia. Sempre soube... mas perder-se era uma tentação constante. Os mimimis estavam espalhados pela esfera social e eram mais perigosos que os demônios do mais alto escalão... e talvez os fossem! Descobriu então um caminho, uma razão.
Ela o buscava desesperadamente devido a intensidade que ele lhe despertara. Era a si mesma que procurava. Ele era sua zona de conforto feita de um permanente caos. Justo ela que bebia intensidade, evolução.... Como não amar-se mais diante do caleidoscópio que ele proporcionara? Essa era a graça. Ele era ela ou parte do que gostaria de ser... a possibilidade de ser, a prova de que podia.
Mas então é isto? Primeiro indigna-se que objeto de desejo seja uma pessoa que dança a nossa frente como quem tem vontades e maus humores... e o pior de tudo, tem também seus próprios e outros objetos de desejo... depois faz-se o confronto, a mea culpa, diagnostica-se a contradição da vida e acabou? Só existe o EU neste jogo permanente. E tudo fica resumido ao espelho? Confessa-se que a agonia, a tensão é responsabilidade de quem a tem e pronto, faz parte da vida?
Não!!! Vamos confessar aqui antes de ir embora a maior das mentiras... este é sim um texto sobre o amor. Os outros textos é que não são... as canções que choram de desatenção é que não sabem nada sobre o amar. Os outros textos, canções, poemas é que nunca puderam observar a agonia de cima, admirá-la... amar sobretudo a contradição expressa na intensidade da vida. Que ele, somente ele personificara ao entrar por aquela sala numa noite de agonia... uma cena eternizada!
sexta-feira, 24 de agosto de 2018
Desenho Invisível
Os arbítrios e o rigor eram de todo inúteis!!! Pois diante dele, com rosto inerte, me surgiam novamente as mais extravagantes fantasias. Mas antes, apenas um instante prévio ao encontro, algo combatia em meu coração... num abrasado deserto, diante de uma medrosa solidão, os exercícios de severidade se faziam presentes, criando um exíguo labirinto, no qual por aquela hora, não podia enxergar a sublimidade de sua alma. Rigor que fracassou e tornou a fracassar... pois não havia em mim peso capaz de competir com a leveza do colorido de seus olhos. A vida por um bom tempo tinha sido um encontrar tristonho de poços de pouca profundidade ou cobertos por uma indisponibilidade também triste... isso antes, de perder-me nos novos delírios apresentados por ele. Ele penetrara... nos meus propósitos, contagiando-me por uma inquietude... Mas minha ansiedade multiplicava as redes de pedra do mundo lá fora, gerando um quase remorso aqui dentro, que ia e vinha, vento a vento. A nossa volta, os jogos de impressão brevíssima em vão tentavam esgotar nossos passos descompromissados mas de mãos dadas. Pois para a contrariedade expressa nos moralismos... o que vivíamos, se não fosse ela propriamente dita, era ao menos algo muito parecido com a felicidade. E de volta as minhas fantasias extravagantes... estas dialogavam numa linguagem que ignorava os substantivos e convocava deliciosa e desesperadamente os verbos mais pessoais possíveis. E nas noites e manhãs frias da metrópole, fez-se o fogo. E facilmente, aceitávamos aquela realidade paralela, talvez por intuirmos que nada era real e tudo poderia ser atraído em virtude do nosso ímpeto e desejo. Julgando vã qualquer obra já feita, criávamos nosso cosmos particular, em meio ao caos... é claro... Um desenho invisível a coroar a vida ou inaugurar uma forma secreta de viver.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Os mistérios da essência da vida
A espiritualidade, a paixão e a arte pareceram compor a força motora que a fizera entrar por um estranho portal. Uma fenda do Universo que aparentemente não mudara nenhum dos elementos concretos dos lugares comuns pelos quais transitava... e como eram comuns os mesmos lugares! Mas sua familiaridade com os mistérios e as relações místicas traziam elementos de que algo paradoxalmente sutil e avassalador havia se transformado. Pensava diferente, agia diferente e sentia tudo acentuadamente diferente. Talvez uma mudança objetiva em seu sistema límbico, talvez uma obra mística com requintes carnais... ou talvez as duas explicações fossem válidas e no fundo, a mesma coisa. Mas o fato é que a alegria como poesia aplicava-se com uma fruição profunda em seu espírito, corpo e alma. Vivia uma mudança paradigmática quanto a sua noção de si mesma e das coisas mais simples a sua volta. Como se tivesse passado alguns anos com parte de suas percepções mais finas adormecida. No entanto, ao seu despertar, na retomada destas funções de características oníricas, não acordara exatamente a mesma. Reconhecia-se, mas com seus encantos potencializados, lapidados... o amor por si, o amor pelo outro e por outros tantos e o amor por toda a beleza que transbordava em abundância e graça lhe permitiam quase tocar os mistérios da essência da vida.
terça-feira, 31 de julho de 2018
Arquétipos
Discernir as formas de pensamento,
Conteúdos reprimidos ou esquecidos,
Os mesmos em toda parte,
Em todos os indivíduos.
Complexos de tonalidade emocional,
E intimidade pessoal da vida anímica.
Ou tipos arcaicos ou primordiais,
Originalmente provindos
De uma fórmula historicamente elaborada.
Dados imediatos nos níveis mais altos
Dos ensinamentos secretos e sagrados,
Dispensavam (ou não) explicações objetivas do óbvio.
Necessidades imperativas impelidas
Irresistivelmente a assimilar
A experiência externa sensorial.
Exterioridades banais mas que não eram
De modo algum alegorias quaisquer.
Eram na verdade uma pequena representação
Do que a experiência humana
Conseguiu aprender através da projeção.
Elementos espalhados nos fenômenos da natureza.
Relação entre os mitos e os acontecimentos anímicos.
Sabedoria revelada,
As vestes externas estranhas do processo
Guardavam câmaras de tesouros
Num paradoxo quase isento de sentido.
Fantasias filosóficas?
Um emaranhado de neuroses?
Ou uma invejável compreensão da vida?
segunda-feira, 23 de julho de 2018
Particular selva sem lei
Voluntária separação do corpo e da alma,
Extraordinária excitação.
Os abismos concretos da cidade,
A razão que oferecia pouca resistência a paixão,
Numa série de oposições e contrastes,
Representação!
Bem definida, a constituição do desejo,
A emergência do simbólico,
A superação da teoria,
A pulsão propriamente dita.
Trabalho meticuloso, inscrito no inconsciente,
Objeto de reintegração com a vida.
Em contraste ao tédio resistente.
Opostamente ao que se omite,
Da estreiteza do limite...
A confusão original do Um.
Que se dava em meio ao nada,
Sem aparatos alienantes, em quaisquer camas,
No cinema, nas ruas, na estrada!
Em sua particular selva sem lei...
Ele refletido nela,
Gozava como rei!
quarta-feira, 18 de julho de 2018
Significações Perturbadoras
Às margens da hesitação, partilhavam entusiamos. De cada arte praticada, cuja finalidade pautava somente o alimentar da vida, encontravam-se comicamente deslumbrados com o sucesso de uma pequena parte da conquista. Em meio a rusticidade dos machismos em desconstrução, trocaram sensibilidades e códigos de acesso pertencentes ao mesmo reino das subjetividades. E compartilhavam uma experiência de abrasadora dispersão. Sensações quase sagradas, risos, só que não... Mesmo que toda experiência sensual nos coloque em face ao outro... causando um certo abandono necessário aos delírios dos corpos e dos desejos, guardava-se uma certa essência de imortalidade. Mas não sem perceber os receios dos próprios demônios, fosse porque lhes resistiriam, ou fosse porque se entregariam a eles. No entanto, as alucinações do medo eram quase tão absurdas como as da esperança... E estas últimas, conheciam bem... Guardavam-na. Afinal, o desfecho que parecia tão próximo poderia não ser necessariamente imediato... Já que o ser humano é um amontoado de humores nem sempre previsíveis. Os diálogos? Vagas expressões, as vezes demasiado banais... Mas não era deles, os assuntos ditos e falados, o protagonismo da história... Anos de olhares embevecidos de significações perturbadoras. Olhares subitamente iluminados carregados de expressões apreciadoras... Estes, sim, tinham muito a dizer!
sexta-feira, 29 de junho de 2018
Sobre Desejos e afins...
A história não registrou nenhum debate manifesto entre os dois pólos,
(a não ser em seus instrumentos particulares de comunicação)
Imbuídos de desconhecimento mútuo,
Não estavam melhor posicionados na arquitetura dos vínculos sociais
(Afinal eram influenciados ao menos pelas exclusões de gênero e raça que os alcançava).
Ele, sobretudo, no reconhecimento da irrebutibilidade do bloqueio produzido...
Ela, passeando, volta e meia, por um horizonte utópico de reconciliação...
Ambos entre o saber da consciência que os afastava através da dureza de seus cotidianos
E a verdade do inconsciente embevecido de desejo.
No simples catálogos de interfaces possíveis...
(pessoas de suas relações e possibilidades tecnológicas inúmeras)
Uma infinidade de possibilidades sem o mesmo gosto peculiar.
Haja contradições...
Contradições firmadas na estranha relação entre a pulsão e a estruturação do pensamento...
(Contas estratégicas de desgastes sociais)
Estranhas pessoas filiadas, entre outras agremiações, ao espírito das descobertas.
Mas a autoidentidade e a força do narcisismo também falavam alto,
E assim como isso os poderia afastar e lhes atribuir um abismo que incluiu novos elementos na sua reles pré-história particular
(Graças ao péssimo hábito masculino de autoafirmação).
Era também parte da pequena chama mal acesa que volta e meia os atingia.
O fato é que aquilo tudo se dispunha contrariamente às tendências da história.
No início, os dois estiveram dispostos ao princípio da subjetividade
(Gastando suas unidades de tempo e atenção de modo que parecia não haver tantos poréns).
Hoje, a conjuntura indicava apenas a ausência de um espaço privilegiado de manifestações
Através da experiência do corpo
(Talvez mais conhecido como negativas tácitas de encontros amorosos).
segunda-feira, 28 de maio de 2018
Attach me
Attach me,
Disconsider my wrong attempts,
Attend in my life,
Attract me!
Be available,
Stay above avagare,
Avoid being asshole.
Keep awake,
Keep aware,
Show your awereness.
This is a world awful,
And we are awkwards.
Stay in backgroud,
Take a step back.
But do not it in a bad way,
Only,
Attach me!
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Tarefa de Inglês!
Capaz, acima... Able, above...
No exterior, ausência! Abroad, absence!
Preciso, conquistar, reconhecer, Accurate, achieve, acknowledge,
Através de anúncios, Across ad,
Adicionar, avançar. Add, advance.
Vantagens, conselhos, Advantage, advice,
Aconselhar, Advise,
Conselheiro, proporcionar! Adviser, afford!
Receoso, Afraid,
Depois, contra, envelhecido, Afterwards, against, aged,
Adiante, ajuda, alvo, Ahead, aid, aim,
Vivo... Alive...
Quase, ao longo, ao lado, Almost, along, alongside,
Já, além disso!! Already, also!!
Alterar, apesar... completamente, Alter, although... altogether,
Entre. Among.
Montante, raiva, ângulo, Amount, anger, angle,
Bravo. Angry.
Anunciar, anúncio, Announce, announcement,
Incomodar, outro. Annoy, another.
Responda: Answer:
Ansiedade, ansioso!! Anxiety, anxious!!
Qualquer, Any,
De qualquer maneira... Anyhow...
Alguém, qualquer pensamento... Anyone, anythink...
De qualquer forma, Anyway,
Qualquer lugar. Anywhere.
Pedir desculpas, recurso. Apologize, appeal.
Aparecer. Appear.
Nomear, abordagem, Appoint, approuch,
Aprovação, aprovar, Approval, approve,
Argumentar, surgir, Argue, arise,
Exército, organizar, Army, arrange,
Arranjo, prender. Arrangement, arrest,
Chegada... Arrival...
Surgir como envergonhado, Arrise as ashamed,
A parte, de lado. Aside.
Pergunte, adormecido. Ask, asleep.
Avaliar, avaliação, Assess, assessment,
Tarefa, assumir!! Assignment, assume!!
Suposição. Assumption.
terça-feira, 15 de maio de 2018
Emaranhados
As falas, os silêncios,
A cidade é grande
Em um mundo pequeno.
As palavras nada soltas ao vento,
São ditas nas ruas, nas músicas...
Que nos despertam
As manhãs e o desejo.
As tristezas se calam
Nos copos, nos corpos,
No embalo do vento.
Cada canto da alma
Traduz uma lembrança,
A desgraça, a dor...o amor,
E também a esperança.
As relações desconjuntadas,
Afetividade emaranhada,
A infinita e tão humana
Insegurança.
Os nós da vida
Sem soluções visíveis no tempo,
Se conflitam no espaço,
Ameaçam os laços,
Sem haver contentamento!
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Fragmentos de esperança
Ansiedades essenciais estavam na pauta dos dias infindos. Quando tudo estava dito, como dar vazão ao ato de comunicar sem a ajuda das palavras? Faces que evocavam a prontidão poética, espíritos que divagavam à vontade no intuito de disporem da vida que lhes pertencia.
A rudimentar transcendência era o que as erguia para além de si mesmas. No entanto, não estavam livres de serem herdeiras das mais diversas convenções. Suas virtudes tinham sido tão pouco enfatizadas, virtudes ocultas sempre nos bastidores da vida real.
Nada nelas lhes parecia completo, nem o espírito, nem a carne. Foram ensinadas a preencher seus vazios com as mais diversas formalidades. O que no fundo as tornava parte de um cinismo público em harmonia com o caos do mundo estabelecido.
Valores que não eram os seus, nem nascidos de suas formulações guiavam a história. Muitas vezes, por isso, estavam no lado avesso da consciência, acessando assim somente uma inteligência dos sentidos. E devido a seus instintos contidos, movimentavam-se a partir de ações promovidas por pequenos ódios.
Mas sabiam que tudo pode se tornar alternadamente falso ou verdadeiro. E das belezas que as contradições fazem nascer, nestes caminhos íngremes há coisas que matam tão bem quanto fazem viver. Surgem-lhes então uma vaga inquietação no olhar.
Deixam de acolher e corresponder às aprovações tácitas. E aos poucos tecem suas personalidades. Fomentam os limites dos que amam as colheitas sem o trabalho de semeadura. E passam a se reconhecer na escala das inteligências humanas.
Abandonam a identidade de peregrinas sem entusiamo. Percebem que não são seus próprios algozes. Permitindo-se assim a evidentes e deliciosas heresias. Deslocando a substância de que a diferença seria razão para prevalência. Reunindo assim fragmentos de uma velha esperança.
Que fonte infinita são os benefícios de ações libertadoras. Nada fortuito ou casual... novas formulações nitidamente concebidas. Conceitos introduzidos com afetividade... a negação de significações reduzidas.... o resgate de dados primordiais. Outra derivação. Uma concepção que origina a unidade dinâmica e integral da existência!
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