quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Dialética

A dialética existe na vida da gente de maneira muito evidente. Tudo no mundo funciona num giro de tese, antítese e síntese, chamada por grandes filósofos desde o mundo grego até hoje, de Dialética. A tese é o estado primeiro no qual algo se encontra. Aí vem a antítese, o elemento que incomoda o estado inicial (a tese). A contradição entre estas duas situações, o diálogo delas, o embate entre elas, gera uma terceira, a famosa síntese... tal dinâmica, permite que as coisas sejam mutáveis e estejam em movimento, saiam do lugar, se reinventem, permite que as zonas de conforto não durem, é o que gera evolução. Contudo, a vontade humana é ser uma síntese pronta, eterna, algo perfeito e acabado. 
Uma constante ilusão. Sempre que saímos de um processo difícil, pensamos, pronto, cresci, agora estou no meu estado pleno, não sofrerei mais, porque aprendi como se deve agir. Aí vem algo novo, uma antítese que não fomos capazes de prever, e a dinâmica da dialética se faz presente novamente em nossas vidas, nos obrigando a novamente construir síntese. Não tem fim. Mas dói. Crescer, aprender, evoluir, melhorar, tudo isso dói. Fisicamente, quando queremos melhorar nosso desempenho físico,  sentimos dor, dificuldades. Intelectualmente, quando queremos crescer e nos debruçamos no estudo, dói também. Nos relacionamentos então, nem se fala, no geral tese e antítese se materializam nos cônjuges, um é tese o outro é antítese, sobrevivem somente aqueles relacionamentos que conseguem criar síntese real, verdadeira, quando dois pontos tão diferentes misturam-se aparando as arestas de suas contradições, abrindo mão de suas vaidades e dando origem a algo novo. Tão difícil. Mas este é o mundo... um mundo duro, no qual qualquer evolução, construção de algo bom exige luta... "Neste mundo tereis aflições..."disse Jesus.
Contudo, tenho a esperança de que tudo isso seja apenas um treinamento, uma vida que está nos preparando para a vida de verdade, tenho a esperança de que haverá um lugar que essa ânsia constante pelo descanso, pela alegria plena será suprida... Creio em um momento no qual tudo será perfeito e acabado, viveremos em plenitude... chamo este momento e lugar de céu, e seu provedor de Deus... um mundo que "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram". Porém, a ponte  para acessar este lugar onde a dialética e o sofrimento não existirão mais e  suportar tudo o que o treinamento desta vida propõe e experimentar por aqui um pouquinho do que virá, chamo de Jesus Cristo. E por Ele e com Ele, seguimos em frente  e continuamos a luta guardando a esperança!!!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Liberdade e Ignorância


Sempre achei que sabia muito quanto a tudo que dissesse respeito as questões de relacionamentos e sentimentos... sempre me achei a pessoa mais entendida em tudo o que se relacionasse com a subjetividade, sempre dei conselhos longos e complexos as minhas amigas e a qualquer pessoa que me pedisse. E engraçado que no geral, sempre convenci, e muitas vezes, conselhos que dei foram realmente bem aproveitados por muitas pessoas. Isso fez com que eu me sentisse uma sumidade, e julgasse todo o resto da humanidade com um pouco menos de inteligência emocional que eu... na verdade muito menos, inclusive o blog é prova disso. No entanto, algo começou me incomodar, nos meus últimos relacionamentos senti buracos gritantes, achei estranho, como alguém tão preparado como eu poderia se equivocar tanto. Então, há uns meses atrás, ao conversar com um amigo, que leva um relacionamento desses bem sem noção, que jura estar com a namorada até hoje porque ela está em um momento difícil que ele tem obrigação de apoiar, mas no fundo não gosta dela, não a ama e queria mesmo terminar... ao ouvir isso, eu numa inspiração que talvez não fosse minha, disse a ele que o relacionamento da gente diz de nós mesmos... portanto, se temos uma relação cagada, é um reflexo do que somos... Uma fala forte...  mas que fez eco mim mesma... eu, praticamente uma PHD em subjetividade vinha de uma sequência de  relações ruins, pobres, pela metade... doeu!!! Então, depois de uma série de reflexões e angústias, descobri que sou ignorante no assunto... e como sou!!! E como é libertador perceber que não se sabe muito. Entender que é necessário crescer, se desfazer de preconceitos, e inaugurar novas reflexões, aprendizados... perceber os próprios vícios e as razões de tantas angústias. Voltemos a escola da vida, contudo hoje, sem a menor arrogância.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A vida é dura...


Assisti um filme semana passada cujo jargão era: " a vida é dura"... o filme é bom, brasileiro, com Selton Mello... chama-se "o Cheiro do Ralo"... e depois de muita gente indicá-lo para mim, lembrei dele quando estava na locadora e resolvi locar. O filme dá altas reflexões. Contudo, não é sobre o filme que quero escrever. É sobre esta frase : a vida é dura. Concordo, acho que de fato é. Tem dia que tudo parece difícil. Acordar parece difícil, trabalhar, se relacionar. Como cada coisa que fazemos na vida por inteiro é um gasto de energia imenso... tanto... e quanto mais refletimos sobre a vida, mais eleboração é necessária para as nossas ações. Encarar um relacionamento em bases diferentes do senso comum não é tarefa fácil... aceitar desafios como um diálogo sincero, um relacionameno sem jogo, sem manipulação, e com a lealdade como centro... isso tudo com o coração pulsando de paixão... é realmente desafiador. Acho que as melhores coisas construídas na vida são difíceis, são duras, exigem esforços grandes. Mas apesar do cansaço que dá, acho mesmo que este é o melhor caminho.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Inveja


O pior sentimento que existe é a inveja. E acho que todo mundo um dia sentiu ou sentirá inveja de alguém. O jardim do outro sempre parece mais verde que o nosso... e quase sempre é mesmo. E ficamos lá vendo tudo e sem ter a menor condição de copiar. Inveja na verdade é um sentimento que deveria ser bom mas foi distorcido... é um tipo de admiração inversa... tipo: "acho lindo o que você tem". Mas não podendo ter me contorço de inveja. Contudo este é um sentimento sem cura, mas com tratamento... a inveja realmente destrutiva e que as pessoas acabam pagando mico por causa dela, é a inveja inconsciente... e pessoa não se toca que está com inveja e vai lá e destila um veneno tão evidente de inveja que fica até engraçado. Esses dias me aconteceu algo assim... economizei meses para comprar um sapato de uma grife que adoro mas nunca foi pro meu bico. Um sapato simples de cor neutra, daqueles que você só não gosta se for muito extravagante, mas mesmo assim, ia querer ter no guarda-roupas para uma eventualidade... isso é, o sapato é uma unanimidade, básico e sofisticado. Então resolvi usá-lo, fui pro bar e lá encontrei uma pessoa que conheço há anos, que já tive altos e baixos  (mais baixos do que altos diga-se de passagem)... e conversa vai conversa vem, a menina olha pro meu pé e diz: "nossa, que sapato horroroso!!", pensei que fosse uma forma de dizer que ele era lindo, ironicamente... e brinquei também... mas aí ela insistiu, fez um tratado porque o sapato era feio e a minha roupa também (eu estava linda)... resumindo, ela sofre de uma inveja inconsciente, o pior tipo, o tipo que a gente não admite e sai queimando a cara e todo mundo percebe que a gente é invejoso... o melhor seria não ter inveja nunca... mas acho que ninguém vive isso. Eu tenho inveja consciente... inveja de gente que tem uma vida tranquila, que tem um amor presente que pode ver todo dia, dormir abraçado todo dia, assistir TV junto e comentar da vida dos personagens da novela.....quem pode ir para a academia todos os dias, ter uma alimentação saudável, ir na igreja todo domingo e poder planejar ter filhos. Morro de inveja disso... isso não significa que eu trocaria minha vida por uma vida dessa... mas quando olho, tenho inveja, quase morro, sorte que é consciente, aí não pago mico, guardo pra mim.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Elemento surpresa

Na política quando estamos disputando algo, temos que nos preparar sempre para o momento surpresa... há sempre um elemento que não constava em nossos cálculos que aparece e temos que lidar com ele de repente sem tempo para grandes elaborações... geralmente é nessa hora que vemos quem é bom mesmo... que atua e segura a onda diante das piores pressões. Toda eleição com alguma disputa tem isso. E sempre espero... me preparo pra esse momento, não baixo a guarda, sei que virá, sei que fugirá as minhas expectativas. O problema que na vida também é assim... volta e meia tem uns elementos surpresas que aparecem que não estava em nossos cálculos... que não sabíamos exatamente a nossa reação diante deles. Não gosto... 

Novela


Gosto de novela. Mas gosto tanto que sofro junto. Parece que o que acontece com as personagens acontece com gente próximo da gente. Hoje essa novela "A vida da gente" está me fazendo sofrer... a protagonista Ana, sua irmã Manuela e sua filha Julia sofreram um acidente horrível... ai que tensão!!! Detesto quando a novela começa entrar na trama mesmo sabe. No geral tenho pouco tempo pra assistir, mas me apego facinho, então, se assisto uma vez por semana e vou acompanhando pelas propagandas ou resumos na internet é o suficiente pra sofrer ou ser feliz junto com com os personagens. Sei que novela é um lance assim bem óbvio e alienado... tipo, que está longe de retratar a realidade mesmo e acaba sendo um instrumento ideológico para manter a ideologia dominante, reforçando valores dos quais muitas vezes lutamos contra. Mas a vida é quase sempre tão dura que me reservo de vez em quando um tempo para não pensar, sentar em frente a TV e vegetar, me envolver com algo que não existe e quando acaba posso esquecer.

A culpa


Feriado é bom. A gente descansa sem culpa. Aliás acho que a culpa é o grande mal da humanidade. Penso que muita coisa na vida das pessoas dá errado por causa da culpa. E para descansar de verdade é preciso estar livre dela. Já me aconteceu de tirar um dia de descanso tendo compromissos pendentes e sonhar com eles... e acabar não conseguindo descansar e também não resolvendo meus negócios pendentes.
E fazendo um paralelo meio louco, acho que se relacionar é assim também. Penso que enquanto não tomamos uma postura definitiva com relação a uma história do passado, não conseguimos viver em plenitude uma história no presente. Chega uma hora que as coisas vem a tona e acaba melando tudo. Sempre tive dificuldades de seguir em frente em se tratando de relacionamentos afetivos... consigo cultivar a paz há muito tempo em outras áreas... mas nessa estou aprendendo a dar os primeiros passos em relação a uma vida saudável, para ter um relacionamento saudável. 
Confesso que nunca quis encerrar verdadeiramente aquilo que fez parte um dia da minha história. Isso não significava nenhum tipo de traição a quem estava comigo... mas acho que um tipo de traição a mim mesma... de não me permitir deixar para trás aquilo que era necessário ficar no passado. 
Talvez por culpa... culpa de ter vivido algo bom e aquilo não existir mais na minha vida, culpa por estar feliz e outro que fez parte da minha história não estar, culpa por ter fracassado diante de uma tentativa de se relacionar, culpa por que estamos acostumados a tê-la!! Não quero mais isso na minha vida... quero viver em plenitude... quero a paz daqueles que se entregam por inteiro ainda que dê errado... quero a serenidade de ter objetivos absolutos, ainda que lá na frente eu tenha que os relativizar...  eu quero a liberdade de querer de todo meu coração uma única pessoa e que diante dela tudo (ou todas as outras pessoas) fique absolutamente menor. 
Não quero ter plano B, não quero ter muletas, nem válvulas de escape, não quero nada para amenizar a intensidade da vida. Não quero desconfiar que não vai dar certo. Sei que tudo pode acontecer, sei que relacionamentos são difíceis e sujeitos a chegar ao fim. Sei que a vida não é linear e que nossas idealizações românticas são sempre perigosas e podem nos fazer sofrer. Mas pior do que ver algo que investimos não dar certo e sofrer por isso é não viver, é estar anestesiado, é fazer tudo pela metade, é deixar as nossas culpas se instalarem, é permitir que a idéia de que o amor não é pra gente se instale. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um clichê desejado...


Não tenho palavras, mas insisto em escrever... ainda que seja para dizer o clichê, o senso comum. Sinto-me como quem anda nas nuvens. Suspirando. Numa paz absoluta, num ânimo intenso e sereno. Sinto prazer no ar que eu respiro e rio sozinha acompanhada de minhas lembranças e sentimentos de uma noite daquelas que seríamos quase capazes de trocar a eternidade por ela, como hiperboliza o poeta Nando Reis. Acho que no fundo todo mundo deseja esse clichê sublime. Deseja esse lugar comum tão delicioso. Acho que no fundo todo mundo deseja se sentir cuidado e amado como me sinto e correspondo neste momento. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Professor de Deus


Acho engraçado que nesta vida não falte gente se achando "professor de Deus". Tipo assim, gente que tem todas as receitas para transformar o mundo e ainda sobrar tempo pra tomar aquela cervejinha no final. Como se fosse tudo fácil de resolver. Pessoas que tem todas as fórmulas para fazer da humanidade um novo Jardim do Éden... Hoje acordei cansada das síndromes de perfeição e das receitas fáceis... amo a vida, mas não tenho grandes ilusões, não me deslumbro com os momentos bons e nem com bobagens que parecem coisas importantes, mas não são. Sei que as dificuldades virão, e que a imperfeição que incomoda é justamente a parte que nos faz humano. Gosto de gente que admite que erra, admite que não sabe, e que ri de si mesmo. A coisa mais pedante que existe é gente que pensa que é "professor de Deus".

Quase normal


Sábado em Maringá. Está muito calor, deve estar fazendo mais de trinta graus. Eu saí ontem com amigos para tomar cerveja no bar, voltei as três da manhã, acordei onze e meia, estou assistindo filmes pela metade na TV a cabo, depois de almoçar a comida da minha casa logo que acordei, comida que não fui eu que fiz. Ai ai, como isso é bom! Sinto-me quase normal fazendo coisas de gente normal num sábado de primavera. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sou Poema


Não me forçarei ser prosa,
Porque sei que sou poema,
Não tentarei ser grande,
Quando desejar ser pequena,
E não serei pequena,
Quando puder ser gigante,
E não direi  apenas com o olhar,
Enquanto puder desenvolver
As minhas teses falantes.
E nas relações propostas,
Farei apenas aquilo que compete a mim,
Sem compromissos com as formas,
Sem insanas economias do amor,
Ou fugas a um vazio distante,
Cultivando uma paz serena,
E seguindo adiante.

Esforços


Estranho ver no presente
As manifestações desejadas no passado...
E foram tantos os desejos que passaram,
E tantos os esforços para que não mais estivessem no presente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Significados insignificantes


Os formatos surgiram no mundo para contemplar as essências. Explico: primeiro surgem as ações humanas, e a partir do momento que elas se repetem e são gerais em determinado grupo, passam a ser instituições sociais. Tipo assim, o casamento hoje é uma instituição, contudo o que vem antes dele é que pessoas que se amam decidem viver juntas. A maternidade é uma instituição social, mas antes disso veio a natureza que faz com que mulheres possam ser mães. A religião é uma instituição que surge devido as pessoas terem necessidades espirituais. Poderia dar muitos exemplos de instituições sociais, formatos que surgiram a partir de ações humanas que se repetiram e que tem as relações afetivas como essência. 
Ótimo, isso significa que todo formato criado, antes tem uma origem relacional, demasiada humana, cheia de afetividade, sentimentos, amor. O problema que volta e meia há inversão completa de valores neste mundo pós-moderno em que vivemos. Muita gente começa a dar mais importância as formas do que as essências. No geral cada vez mais as pessoas cumprem os rituais sem que seus corações estejam ganhos para o que estão fazendo. Mulheres que desejam se casar não por que realmente amam a pessoa que está em seu lado, mas porque desejam aquele ritual de vestir-se de noiva e mostrar a sociedade alguma capacidade. Casais que tem relacionamentos estragados mas continuam casados pela forma desta instituição social. Gente que vai a igreja toda semana e não coloca nada em prática do que é dito lá, pensando que o simples cumprimento de um ritual é sinônimo de fé. Ou ainda, pessoas que entram na política para realizar a transformação e na primeira proposta de "indecente" se entregam a corrupção justificando isso como um meio para bons fins. Acho triste, muito triste o abandono da essência pelas formas. Gente que no fim vai ver que só sobrou casca e conteúdo não há mais.
Vidas cheias de formas, rituais, instituições, rotinas e vazias de essência, carinho, intensidade, verdade não fazem sentido... é, o mundo anda mesmo assim cheio de vazios e significados insignificantes.

Pôr do Sol



O sol começa a se pôr,
E com ele vai um tanto de coisa,
Inclusive uns pedaços da gente.

Desejo - Victor Hugo



"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar "

Alma Cansada


Hoje minha alma anda bem cansada. Um desses dias bonitos, porém melancólicos. Tenho motivos para estar alegre e motivos para estar triste. Para variar a vida equilibra o que nos dá, nos tirando. É assim... e diante de algumas coisas não adianta se indignar.
Espero que amanhã eu tenha a sensação de acordar e realmente estar em um novo dia... o qual a misericórdia de Deus se renove... promovendo também a renovação das nossas forças para seguir em frente. Porque hoje tudo parece meio cinza, o meu sorriso está pálido, minhas motivações operando no mínimo. 
Mas por fim, apesar da alma exausta, fico com Vitor Hugo, crendo que é possível recomeçar amanhã... por que existe amor dentro de mim.

Amor Fino


"Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: "O amor fino não busca causa nem fruto". Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino."  

Antonio Vieira

"SOBRE A MORTE E ALÉM DELA"


02/10/2011
Pastor Marcelo Gomes
Diante da morte tudo é diferente. A iminência da morte reconfigura a vida e redefine prioridades, valores. Ninguém permanece indiferente aos seus sinais. Ela prova, exige, expõe. Destrói fantasias de onipotência, esmaga o espírito arrogante e aniquila ilusões de imprescindibilidade. Desengana. Desmascara. A morte devolve-nos à nossa condição original: pó. Nas palavras do Padre Vieira: “Deu o vento, levantou-se o pó; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o pó levantado; estes são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído; estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó levantado; os mortos pó caído; os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos pó sem vento, e por isso sem vaidade. Esta é a distinção e não há outra”.
 A morte causa medo, desconforto. Sua inevitabilidade e mistério fazem tremer os mais corajosos. Chega sem avisar, não negocia com ninguém nem faz acepção de pessoas. Impõe-se. Desconhece posição social, condição econômica, planejamento pessoal ou idade. É universal. Mas não segue padrão: pode vir mansa, suave, ou trágica, estarrecedora. É imponderável. Dificilmente se faz desacompanhada de seu fiel escudeiro, o sofrimento. E não poucas vezes deixa-o tão à vontade, por tanto tempo, que acaba sendo desejada, pedida. Caprichosa, não? Como Kierkegaard escreveu: “Enquanto a morte é o supremo risco, tem-se confiança na vida. Mas quando se descobre o infinito de um outro perigo, tem-se confiança na morte. Entretanto, quando o perigo cresce a ponto de a morte tornar-se a esperança, o desespero é desesperar-se de nem sequer poder morrer”.
Por tudo isto, a morte é um convite à decisão. Sua realidade pergunta-nos sobre nossas mais íntimas convicções e desafia-nos a uma tomada de posição urgente (afinal, nunca se sabe). Quem somos? Como estamos? Em quê cremos? Estaremos preparados? Jesus disse que nenhuma pessoa é capaz de acrescentar uma única medida ao curso de sua vida. Também contou uma parábola sobre um homem que colheu com fartura, ajuntou em celeiros e celebrou sua sorte, mas ele não sabia que seria aquela a última noite de sua vida. Importa que estejamos preparados e somente a fé poderá nos preparar. Somente a fé nos falará de uma vitória final sobre a morte. Somente a fé nos ensinará sobre o amor, o cuidado e a presença contínua de Deus conosco mesmo em face da morte. Somente a fé nos ajudará a seguir em frente apesar da força da morte. Cristo venceu a morte.
O triunfo de Jesus sobre a morte é um conforto e um incentivo ao coração que confia. Abre os olhos para o futuro de Deus, onde não haverá mais morte (tragada foi a morte!), e restaura o vigor. A esperança inunda a alma e a alegria torna-se viva. O “adeus” não passa de um “até breve” e a saudade não fica com a última palavra. Dos que foram na velhice afirma-se que descansam de suas fadigas e suas obras os acompanham. Dos que foram na juventude, às vezes tão precocemente, afirma-se que foram poupados de muitas tristezas e provações para entrarem no gozo de seu Senhor. Gente da qual o mundo não era digno. A morte é assumida como dádiva. Viver é Cristo e morrer é lucro. Como nas palavras de Eugene Peterson: “Nenhuma vida é completa até que haja morte. A morte marca o limite. Ser humano é morrer. Ao morrermos, atestamos nossa humanidade. A morte aprova, mais do que encerra, a nossa humanidade”.
Tudo, porém, pela fé. Não sem lágrimas ou dor para os que ainda precisam ficar..