terça-feira, 31 de maio de 2011

Pílulas Vermelhas

Essa é uma letra de música que eu e minha irmã Débora fizemos há muito tempo... filosofia matrixiana... é simples, mas gosto muito...a melodia é ótima (feita por ela, pq não entendo nada de música), mas aqui vai só a letra...

Eu não quero mais,
Eu não quero mais,
Promessas vazias,
Realidades virtuais...

Eu não quero mais,
Eu não quero mais,
Conspirar no silêncio,
Viver nesse tempo,
Eu não quero mais...

Quero pílulas vermelhas,
Concretizações,
Que venham os dias,
E as revoluções.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

E por falar e reflexões psicóticas...muito bom!!!

E por falta de inspiração ou capacidade de escrever algo que contemple a minha alma com genialidade... recorro aos gigantes...


Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

*Paulinho Moska

AFF...


Estou aqui...tarde da noite, tentando escrever algo que me contemple a alma, seja inteligente, com humor ácido, e ainda sirva pra alguém me admirar alimentando minha vaidade... mas realmente está difícil. Alias cada dia gosto menos das minhas escritas cansativas, densas e chatas... é um processo difícil... volta e meia tenho vontade de mudar, ser uma pessoa totalmente diferente do que sou. Vejo por aí gente leve, com uma medida exata de volubilidade e intensidade, e chego a sentir inveja. O fato é que sou mal-humorada, exigente nas relações pessoais, analiso tudo, cada gesto tem significados homéricos, as vezes tenho a sensação que vivo numa mistura de novela mexicana com filme do Almodóvar... do céu ao inferno, ou do inferno ao inferno, mas do inferno pobre e pouco elaborado do Paulo Coelho, com diabo de chifre e tridente na mão, ao inferno cinza e cheio de ausência do C.S. Lewis. Sei lá... não é depressão não... é exaustão, estou cansada do modelo, a minha sensação é que não aguento mais as palavras repetidas que sempre são ditas... não é porque o Renato Russo (ídolo da minha adolescência) disse que pode, que me sinto melhor. Estou cansada de usar as mesmas imagens poéticas, os mesmos argumentos psicológicos para definir o mundo... as vezes penso que meu mundo é muito pequeno e por isso o meu olhar é pequeno, cansativo, cansado e repetitivo.
Mas por mais sorte que juízo, toda vez que começo a ter esta sensação de exaustão, quando alguma coisa começa a gritar dentro de mim, me angustiar com profundidade... nasce algo melhor, uma elaboração... geralmente algo chato, denso, e que só faz sentido pra mim... mas faz parte.
Espero fechamentos destas reflexões psicóticas... vamos ver o que sai.

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Hipocrisia

Faz tempo que não posto nada... na verdade acho que chega uma hora que a gente vai se sentido cansativo... diz sempre as coisas na mesma linha, percebe o mundo do mesmo jeito, com o mesmo olhar com as mesmas palavras até... sei lá estou meio cansada daquilo que tanto sei e não sei nada. Acho que no fundo a hipocrisia é inerente a todos. Pois todos nós, seres humanos percebemos o mundo, temos críticas a muitas coisas, vivemos falando muito sobre isso, e na verdade a energia que se gasta para mudar as coisas é muito pequena. Não estou falando do "mudar o mundo" de forma militante, isso, acho até, que bem ou mal, muita gente faz... estou dizendo quanto as mudanças em nosso próprio mundo... somos cheios de teorias de como as coisas deveriam ser, e no entanto, não as colocamos em prática, dissertamos sobre a racionalidade humana, contudo quase sempre nos rendemos aos instintos... somos repetitivos, cansativos em nossas convicções, porém somos profissionais em contradize-las na prática... é acho que eu estou bem cansada, da hipocrisia minha e alheia (claro que mais da alheia, como boa hipócrita que sou).
As pessoas falam muito nos últimos tempos sobre elementos como auto-estima, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, empreendedorismo, sexo seguro, bulling, trote solidário, fidelidade e por aí vai... um monte de elemento considerado politicamente correto que na verdade a maior parte nunca tinha existido como instituição na sociedade e agora passou a existir, elementos que justamente concentram hoje em dia a maior parcela da hipocrisia social.
Pos vejam bem... auto-estima é um lance igualzinho a dinheiro, quanto mais se tem, mais se quer, obviamente, então esse lance de auto-estima construída, vida feliz, na verdade é uma fraude, nunca haverá em plenitude, e fica todo mundo pirando e correndo atrás disso como se fosse possível alcançar. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável, outra farsa, a vida inteira ensinaram uma coisa pra todo mundo, de que o homem podia dispor dos recursos naturais a vontade, aí (como se ninguém tivesse percebido que isso era ruim antes) agora não pode mais... e quem se ferra? claro que quem é pobre... porque o dono da pequena empresa não tem como adequar suas instalações pra não poluir, mas o milhonário tem...hipocrisia. Outro termo horroroso é o tal do empreendedorismo... o jovem empreendedor... nossa que merda, como se fosse simples né... o cara se fudeu a vida inteira estudando em escola que professor nunca foi dar aula, quando foi, vomitou a matéria na cara dele, teve que trabalhar de operário braçal, e aí neguinho vem dizer que ele tem que ser empreendedor, que na verdade é o indivíduo que transforma a sociedade, lógico, fica bem fácil esse discurso de merda na boca do político que não quer fazer nada pelo povo. Outra coisa tosca é o tal do sexo seguro, que quase ninguém faz, até porque, se essas campanhas dessem certo, a humanidade ia acabar né... porque com sexo seguro, não tem bebê, sem bebês a humanidade não tem futuro... ah fala sério, que agora até gente casada tem que usar camisinha... meu, nêgo casa, justamente pra isso, pra fazer sexo em paz, e tão dizendo que tem que usar camisinha... e alguém ainda acha que essas campanhas vão dar certo... é muito dinheiro jogado no lixo... e mais hipocrisia!!! Outro lance muito louco é essa história de bulling... desde os primórdios da humanidade há disputa de espaço e território entre os seres humanos, e é fato que é desde criança que a gente aprende sobre a vida e passa a criar armas pra se defender, e agora com essa proibição geral do bulling, no fundo eu acho que a sociedade vai é piorar, porque ninguém mais vai aprender sobre a vida na escola, e a escola que já era uma fraude, vi ficar mais ainda. E por falar em escola, o lance da merda do trote solidário, é mesma coisa que o bulling, trote é ritual de passagem, aprendizado sobre a vida, aí vem neguinho, que cansou de passar trote quando estava na faculdade dizer que não pode mais, que é uma agressão... a vida é cheia de agressões, e é assim que a gente se estrutura, mas agora, neste mundo lindo em que vivemos, não pode mais, o povo acha, que ritual de passagem pode ser plantar árvore ou doar sangue, além de não funcionar, ser hipócrita, estão tentando deixar o mundo muito mais chato do que já é. E a tal da fidelidade, que troço hipócrita...todo mundo olha pro lado e vê alguém uma hora ou outra e sente desejo, flerta, sonha, se masturba... e tem gente que acha que isso é traição, aliás acho que o mundo tá emburrecendo, o que eu encontro de gente (maioria mulheres) que implicam com o olhar do outro, com o futebol, tem gente que consegue ter ciúme até de pensamento... fora que ninguém aprofunda o debate nesse âmbito, o culpado é sempre quem traí, vai lá e transa com outro, mas o inferno que era o relacionamento, isso ninguém quer saber... tem o lance também da banalização do que é fidelidade... agora comprar em posto de gasolina tudo é ser fiel, viajar com a mesma companhia é ser fiel...uma merda, como se fidelidade fosse assim algo simples, que se resume a um cartãozinho que você faz da mesma loja...
Enfim, o mundo é hipócrita, e isso inclui todo mundo, inclusive eu, tô me sentindo cansativa e cansada, cansada da minha escrita que as vezes é tão bobinha, pobre... e cansada de comprar discursos prontos, politicamente corretos... talvez amanhã tudo volte ao normal e eu faça um poeminha de amor, lotado de sensos comuns e ão rimando com ão... mas hoje tô ácida, e tô registrando neste post pra lembrar de como gosto de mim neste estado, não serve pra nada, mas sinto que aplaca um pouco a dor da minha mediocridade e principalmente, a dor da certeza de ser hipócrita.

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Do Batom Vermelho no Trabalho

























por Luiz Felipe Pondé para Folha


Muitas leitoras me perguntam se sou contra a emancipação feminina. Como alguém pode ser contra uma mulher fazer o que quiser da vida e se desenvolver livremente? Ser contra a emancipação feminina é como ser contra aviões ou computadores.

O que leva muitas leitoras a pensarem que sou contra a emancipação feminina é porque não poupo o feminismo de seus excessos teóricos e de sua desmedida negação ideológica dos sofrimentos que a emancipação causou.

Não acredito na afirmação de que a sexualidade seja mero fenômeno social (teoria de gênero na sua versão hard), sou darwinista até a última gota de sangue: acho que nossas fêmeas (não apenas elas) carregam sobre suas almas o peso de milhares de anos de adaptação a condições específicas de cada sexo.

Por exemplo, para que serviria um macho chorão e covarde, em meio à savana africana, se escondendo atrás de "sua" fêmea grávida, no momento em que um predador fosse comê-los como janta? Para nada.

Provavelmente as mais inteligentes se recusaram a reproduzir com tais frouxos. E elas legaram às suas filhas essa percepção aguda contra o macho fracassado.

Resultado, as fêmeas da espécie não suportam homens pobres, fracassados e deprimidos, mesmo que mintam por aí dizendo o contrário, porque ficou bonitinho mentir para deixar todo mundo feliz.

O pensamento público hoje em dia flerta com o jardim da infância. A mentalidade de classe média (covarde e mesquinha) devora a inteligência viril.

Lembro quando estava na sétima série do então "ensino fundamental", por volta de 1974. Estudava num colégio da elite branca de Salvador. Colégio jesuíta, que só tinha meninos. Naquele ano, os padres colocaram quatro meninas em cada classe. No ano seguinte, mais quatro. No seguinte, a sala estava cheia de meninas, todas lindas, pelo que me lembro. Com seus cabelos longos e cacheados.

Foi uma mudança cósmica. Novas hierarquias foram criadas. Os hábitos mudaram, passamos a brigar menos no recreio, não só o futebol contava, mas também com quem as meninas falavam. Quem comia o lanche com uma delas estava no paraíso.

Quem ganhava um sorriso de uma delas virava celebridade. Grande parte dos meninos morria de medo de falar com elas. Chegar perto era um ato heroico porque a indiferença era como a morte.

Os grupos de trabalho em classe disputavam cada uma delas. Grupos só de meninos eram a assinatura do fracasso.

É assim que vejo a emancipação feminina: um presente para nosso cotidiano, na escola, no trabalho, nos aeroportos, nos congressos, nas ruas. Com suas saias, calças justas, saltos altos, batons vermelhos, elas pintam nosso cotidiano com o desejo. E, com o desejo, o clássico inferno da insegurança de cada um de nós.

Imagino o horror que era trabalhar numa universidade onde todo o corpo docente fosse apenas de homens e as classes fossem cheias de rapazes. Que tédio.


Ou uma empresa onde apenas homens trabalhassem. Como seria uma reunião sem uma colega de pernas lindas resolvendo problemas sérios com um toque de charme inigualável? Claro, as mais chatinhas me acusarão de machista quando pareço "defender" a emancipação feminina porque gosto de ver o mundo do trabalho cheio de saias curtas e batons vermelhos. Podem achar, não ligo para o que elas pensam. Dirão que sou um egoísta. Será culpa da minha mãe?

O erro das mais chatinhas está em supor que a percepção da beleza feminina implica em exclusão da percepção da capacidade feminina. Não, a beleza feminina torna a parceria com as mulheres no trabalho um oásis em meio ao deserto da violência profissional cotidiana.

Outro erro é não perceber o escopo da beleza feminina no cotidiano do trabalho. A beleza feminina inclui uma série de fatores que vai do corpo à voz doce ao dizer "bom dia", das ancas à forma sutil com que elas enxergam coisas para as quais os homens são cegos, surdos e mudos, da "intuição feminina" ao erótico de ter "um chefe" mulher.

A vida sem Eros é uma vida menor. Um mundo só de homens é em branco e preto. Prefiro o batom vermelho na boca à burca no corpo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Rimas Pobres
















Há sempre limites que eu não sei quais são,
Há sempre milagres que podem ser ou não,
Que confundem a minha alma e a minha razão,
Há sempre dúvidas que afligem o meu coração,
Que fazem de mim pequena diante de uma situação,
Há sempre eu perdida no meio da multidão,
Há sempre pessoas que aumentam a minha solidão. ***

sábado, 14 de maio de 2011

O Amor II














Novamente me atrevo aqui a falar do assunto mais popular que há... e também de novo faço isso através da interpretação das canções.Hoje chamo a reflexão sobre o amor a partir da música do Zeca Baleiro "Lenha"... que de certa forma, nesta semana foi trilha
sonora do meu coração. Há três verbos na música que ele afirma dizer...
O primeiro é o verbo Parar..."Se eu digo pare, você não repare o que possa parecer"... nesta frase, me vem a sensação de que há coisas que não são possíveis de serem compartilhadas por mais intimidade que haja entre duas pessoas. Há limites na reciprocidade, nas explicações, para mim, isto é uma das principais lições do amor: o respeito as individualidades e aos limites do outro. O segundo verbo é seguir..."Se eu digo siga, o que quer que eu diga você não vai entender" ... neste ponto, vejo a importância de cada um ter vida própria, o amor não deve partir da dependência. Cada um deve saber seu caminho, ainda que decidam caminhar juntos, mas para o amor dar certo, é necessário autonomia, relação de igualdade... é preciso sempre ter recursos internos para seguir em frente, ainda que o amor não dê certo. O amor só sobrevive em liberdade, só sobrevive quando não é obrigado a sobreviver.E o terceiro verbo é vir... "Mas se digo venha, você traz a lenha pro meu fogo acender". Sem dúvida este é o mais bonito, e traduz a parte que mais nos agrada no amor, o encontro absoluto entre duas pessoas, seja entre as almas ou entre os corpos, ou melhor ainda, ambos. O amor é a disposição pura e simples do ir e vir de duas pessoas. Mas não basta disposição, é preciso acontecer, é preciso o fogo acender.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

As feridas










Gosto de estar longe de casa em alguns momentos...gosto de sentir uma força e uma fragilidade que não estão em mim em todo o tempo. Gosto de me aventurar em lugares escuros, aprender uma lógica que não fez parte do meu cotidiano até então. Vou do calor fraternal da minha casa e cidade, a um frio, um clima gélido que ao mesmo tempo que me assusta, me desafia. Um desafio que me traz um recurso novo, que me distrai da anunciação das dores que me alma traz. Porém apenas me distrai... ao refletir, parar para escrever as percebo novamente aqui. É possível distrair-se, ou se concentrar profundamente em outras coisas... mas as feridas que marcam a alma, não se curam com o frio, com a distância, trabalho ou distração... Na verdade não sei se elas curam...espero que sim.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Amor
















É estranho quantas são as contradições da vida, somos o tempo todo surpreendidos com muitas coisas. O amor, apesar de ser assunto popular e constante, cantado por todos os estilos musicais, dos mais eruditos até os mais senso comum, nos surpreende sempre.
Andei ouvindo por esses dias uma música da Rita Lee que diz "Me acostumei com você sempre reclamando da vida, me ferindo, me curando as feridas, mas nada disso importa. Vou abrir a porta pra você entrar..."
Tal afirmação é literal, mas pode ser também sutilmente metafórica, mas o fato é que resume em muito o que é o amor...
O outro é o que é, nos machuca e também nos traz a cura ou as melhores sensações que podemos ter, porém, indepedente disso, do que possa ser feito de bom ou ruim pelo outro, quando há o amor, tudo fica pequeno e abrimos a porta, seja ela qual for...
Achei lindo!!! O amor.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Rimas Óbvias...















Meus olhos estão abertos,
Mas não vêem nada,
Meu corpo está andando,
Mas minha alma está cansada,
E as palavras entram em mim
Como se eu não tivesse armas,
E saem da minha boca
Como quem não sabe nada,
E mesmo com a luz de um dia lindo,
Eu prefiro estar na escuridão,
E apesar do convite da vida
Para entrar na festa,
Eu opto pela solidão,
E tanto esforço despendido
Ao invés de mudar o mundo,
Apenas machuca mais meu coração.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Falsa Contradição dos Mandatos Eletivos para com os Movimentos Populares






Segundo Scherer-Warren, pode-se afirmar que a sociedade civil é a representação de vários níveis de como os interesses e os valores da cidadania se organizam em cada sociedade para encaminhamento de suas ações em prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações simbólicas e pressões políticas.
Em outras palavras, o movimento social e popular, em sentido mais amplo, se constitui em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou opositores e de um projeto ou programa, num contínuo processo em construção e resulta das múltiplas articulações da sociedade. A idéia de rede de movimento social é, portanto, um conceito de referência que busca apreender o porvir ou o rumo das ações de movimento, transcendendo as experiências empíricas, concretas, datadas, localizadas dos sujeitos e atores coletivos.
Porém, há tempos vem surgindo, por parte de dirigentes ou membros do movimento social e popular seja dentro ou fora dos Partidos, uma falsa contradição relacionada com a disputa e conquista eleitoral e os movimentos sociais e populares. Um discurso que se pauta, fundamentalmente, em que disputar a eleição e ganhá-la significa cada vez mais estar distante dos movimentos. Em uma análise simplista, tal afirmação possui razão de existência.
Pois, neste discurso, tanto difundido, parte-se de uma premissa que ao haver a conquista dos mandatos referentes ao poder central, tanto executivo, quanto legislativo, passa haver uma distância dos mandatos quanto as suas chamadas “bases”, devido ao acesso a uma estrutura de poder institucionalizada, permitindo aos que estão a frente desse processo, negarem suas origens populares e articularem-se apenas em meio a política institucional.
Penso que tal cenário não é absolutamente falso e que em muitos momentos isso se faz presente na lógica partidária de qualquer legenda. Porém, creio ser esta uma construção social invertida que cria uma contradição que não é de essência, pois mandatos eletivos e movimentos sociais e populares podem estar distantes. Contudo, no Partido dos Trabalhadores, que é oriundo dos mais diferentes movimentos populares, a gênese dos mandatos, não é essa.
Pois se o movimento social e popular se constitui em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou opositores e de um projeto ou programa, num contínuo processo em construção e resulta das múltiplas articulações da sociedade, temos aqui uma descrição que pode muito bem caber, sem nenhuma modificação de palavras ou vírgulas, com a definição de mandatos eletivos comprometidos com o povo.
No Partido dos Trabalhadores temos mandatos que absolutamente, não estão apenas comprometidos com os movimentos sociais e populares, mas sim, mandatos que podemos afirmar que são mais uma célula dos movimentos. Mandatos legislativos que em sua equipe de assessoria priorizam pessoas que são agentes articuladores dos movimentos populares. Parlamentares que não fogem das pautas fundamentais a população. Deputados que chegam a financiar manifestações e outras atividades dos movimentos. Gente que, embora, tenha sido eleito, continua indo às ruas e subindo nos caminhões de som mobilizando a sociedade.
E ainda podemos falar aqui dos mandatos no executivo. O sistema de conferências difundidas pelo Governo Lula ao longo dos últimos oito anos, nada mais foi do que o envolvimento absoluto dos movimentos sociais e populares na elaboração das políticas de governo. Há quem diga, que o Governo Petista fez com que os movimentos sociais e populares esfriassem no Brasil. Creio que tal leitura não poderia ser mais equivocada. Não houve cooptação dos movimentos, aconteceu uma abertura, uma participação real e inquestionável dos movimentos na elaboração das políticas públicas do Governo.
Portanto, não vejo contradição real quanto ao Partido dos Trabalhadores darem valor ao processo eleitoral, penso que sem poder não há transformação. Acredito que mandatos democráticos, oriundos dos movimentos, são o próprio movimento popular e não o corrompimento de sua “pureza”. Creio que tal discurso de incompatibilidade entre os mandatos e os movimentos deve ser combatido. Combatidos quando fizerem sentido na prática e quando os mandatos forem buracratizados e anti-democráticos, pois aí não estaremos falando de mandatos de essência petista. E combatidos quando forem vazios, quando forem apenas discursos advindos de um “puritanismo”e de um anacronismo político de um tempo não muito distante que apenas as oligarquias estavam no poder.