domingo, 23 de fevereiro de 2014

Equivocados


Os melhores momentos da nossa história, acontecem sem que a gente espere por eles ou os queira desesperadamente. Provavelmente todas as pessoas já viveram isso, nas duas faces do que essa afirmação representa. Já tentaram com todas as suas forças ter algo e mesmo com todo esforço do mundo não puderam. Ou então, estavam distraídos, sem procurar por nada e de repente puderam ter algo maravilhoso, porque de alguma forma estavam prontos para receber aquilo que era bom, sem nenhum sofrimento ou esforço.
Isso vale para diversas áreas da vida... no amor, no trabalho, nas amizades, nas finanças, numa balada que parecia que não ia ser nada e acaba sendo super divertida. A vida é assim, quase sempre inversamente proporcional aos nossos desejos.
Quando nos tocamos dessa lógica que rege as "energias do Universo", muita coisa passa a ser mais fácil em nossas vidas. Quanto menos expectativas, menos quereres desleais nessa vida, mais podemos ser surpreendidos positivamente, vivendo momentos incríveis, possuindo coisas que nem imaginávamos, estabelecendo relações plenas e recíprocas. 
Mas o fato é que tem gente que não aprende. Não aprende nunca, por mais que se machuque e se estrepe com isso.
Tem gente que não enxerga que as coisas vem na hora exata e que certas coisas são apenas conseqüência daquilo que plantamos durante longo período na vida. E sai por aí invertendo valores. Venho observando algumas pessoas que conheço e que ultimamente tenho tido a felicidade de não precisar conviver. E acho que cometem na vida militante exatamente esse erro. Forçam a barra e invertem os valores. 
Deixaram de ter a noção de que qualquer benefício que venha por parte da militância política é um extra, um bônus que não devemos esperar. Militar, construir a luta política é antes de mais nada, paixão. Não devemos ser militantes para ganhar algo com isso. Antes de ser status ou qualquer tipo de glamour, liderar é servir. É entregar-se sem esperar nada em troca além da transformação da realidade coletiva.
É claro que outras portas podem se abrir, seu talento pode ser reconhecido em algum momento. Portas profissionais podem se abrir, você pode ter convites de trabalho que te tragam benefícios lícitos e justos.
Mas não se faz militância ou luta política por isso. 
E quanto mais a vaidade está à frente daquilo que realmente importa, menos se poderá provar dos bônus. Porque os proezas da vida procuram os despretenciosos, os que fazem sem querer nada em troca, os de coração leve.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sobre as coisas que eu não quero...


Ontem conversando com uma pessoa muito querida, sobre outra bem mais jovem que também tenho grande apego, a primeira falou: "nossa, está dando tudo certo pra ela, só está faltando encontrar alguém... o que logo logo acontecerá."Fiquei pensando nisso, e em como essas coisas são socialmente fortes.
Durante quase quatorze anos estive namorando ou me relacionando de forma mais ou menos séria com alguém. E faz oito meses que pela primeira vez na vida, que não, não tenho vivido nenhuma história romântica com ninguém. E estes meses foram tempos de profundas mudanças e reflexões na minha vida. Especialmente os últimos dois, quando passei a olhar para essa condição com olhos realmente felizes. O fato é que nunca me senti tão bem.
Vivi alguns romances e não estou negando a importância deles na minha vida, ao contrário. Passei por momentos maravilhosos ao lado de grandes homens com os quais eu me relacionei, e acho até que eles fazem parte da minha história e muitas coisas que sei, aprendi me relacionando. Contudo, ando descobrindo, concluindo, avaliando, que, ao contrário do que todo mundo diz, relacionar-se não é uma regra para estar bem, para estar alegre, para estar feliz.
Alguns dirão que esse minha fala serve apenas para um determinado momento da vida, que envelhecer sozinho é muito complicado. Até concordo. Mas a verdade é que a vida não é linear. Que não há uma obrigatoriedade em crescer, apaixonar-se, casar-se, procriar, envelhecer juntinho e morrer. A verdade é que há "mil e uma formas de preparar Neston", e que esses modelos sociais de comportamento só servem mesmo pra gente se frustrar quando não está no padrão, ou mesmo quando resolve estar nele a qualquer preço.
Outra verdade é que sempre que eu estive em um "relacionamento sério"e as coisas começavam a caminhar rumo as linearidades casadoiras, uma parte de mim achava lindo, ficava viajando no vestido de noiva e numa lua-de-mel em Paris, mas outra parte de mim queria sair correndo viver a vida loucamente, viajar pelo mundo com uma mochila nas costas, curtindo a minha solidão que volta e meia é a única companhia que eu quero.
Enfim, não estou dizendo que não posso e não vou viver outros romances daqui pra frente, não estou dizendo que não desejo me apaixonar de novo e talvez até me casar um dia. Contudo, não quero isso de qualquer maneira, a qualquer preço, cedendo às convenções sociais que faz infeliz a grande maioria da população. O fato é que acho uma grande porcaria as relações que estão estabelecidas em volta de um monte de hipocrisias e moralismos, que ou nos obrigam a oprimir alguém ou ser oprimidos pelo outro.
Considero doentio o fato de as pessoas olharem pra mim com quase trinta anos e me dizerem que meu relógio biológico está chegando perto do limite para ter filhos e que preciso me apressar, como se isso fizesse de mim uma pessoa infeliz. Acho simplesmente horrendo que a maior parte das mulheres tenha como central em suas vidas a questão do relacionamento romântico, enquanto o mundo é tão grande e há tantas maneiras de se realizar enquanto ser humano. 
O fato é que nunca me senti tão bem... tão completa a partir de meus próprios recursos. Em matéria profissional, política, física, espiritual, afetiva, sinto-me inteira como nunca. Cada vez menos picuinhas fazem parte da minha vida, e já não tenho paciência para os sensos comuns.
E no alto dos meus 28 anos, depois de muitas reflexões, paixões, romances, obrigações, histórias de sorrisos e choros, eu descobri o prazer e a importância da minha própria companhia, e eu posso até não saber exatamente o que eu quero, mas tenho a mais pura certeza do que eu não quero. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Imaginação


O primeiro era flamengo,
O segundo vascaíno,
E numa mesa banal,
De um boteco paulistano,
Nada fora mais bonito.

Enquanto a chama 
Do cigarro consumia,
Ela fitava aquela cena,
Onde eles diziam coisas
Sobre as quais ela entendia.

E mesmo ainda 
Não sendo carnaval,
Sua imaginação ardia,
E fazia... e fazia...
Um enorme festival.