sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Desenho Invisível



Os arbítrios e o rigor eram de todo inúteis!!!  Pois diante dele, com rosto inerte, me surgiam novamente as mais extravagantes fantasias. Mas antes, apenas um instante prévio ao encontro, algo combatia em meu coração... num abrasado deserto, diante de uma medrosa solidão, os exercícios de severidade se faziam presentes, criando um exíguo labirinto, no qual por aquela hora, não podia enxergar a sublimidade de sua alma. Rigor que fracassou e tornou a fracassar... pois não havia em mim peso capaz de competir com a leveza do colorido de seus olhos. A vida por um bom tempo tinha sido um encontrar tristonho de poços de pouca profundidade ou cobertos por uma indisponibilidade também triste... isso antes, de perder-me nos novos delírios apresentados por ele. Ele penetrara... nos meus propósitos, contagiando-me por uma inquietude... Mas minha ansiedade multiplicava as redes de pedra do mundo lá fora, gerando um quase remorso aqui dentro, que ia e vinha, vento a vento. A nossa volta, os jogos de impressão brevíssima em vão tentavam esgotar nossos passos descompromissados mas de mãos dadas. Pois para a contrariedade expressa nos moralismos... o que vivíamos, se não fosse ela propriamente dita, era ao menos algo muito parecido com a felicidade. E de volta as minhas fantasias extravagantes... estas dialogavam numa linguagem que ignorava os substantivos e convocava deliciosa e desesperadamente os verbos mais pessoais possíveis. E nas noites e manhãs frias da metrópole, fez-se o fogo. E facilmente, aceitávamos aquela realidade paralela, talvez por intuirmos que nada era real e tudo poderia ser atraído em virtude do nosso ímpeto e desejo. Julgando vã qualquer obra já feita, criávamos nosso cosmos particular, em meio ao caos... é claro... Um desenho invisível a coroar a vida ou inaugurar uma forma secreta de viver. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Os mistérios da essência da vida


A espiritualidade, a paixão e a arte pareceram compor a força motora que a fizera entrar por um estranho portal. Uma fenda do Universo que aparentemente não mudara nenhum dos elementos concretos dos lugares comuns pelos quais transitava... e como eram comuns os mesmos lugares! Mas sua familiaridade com os mistérios e as relações místicas traziam elementos de que algo paradoxalmente sutil e avassalador havia se transformado. Pensava diferente, agia diferente e sentia tudo acentuadamente diferente. Talvez uma mudança objetiva em seu sistema límbico, talvez uma obra mística com requintes carnais... ou talvez as duas explicações fossem válidas e no fundo, a mesma coisa. Mas o fato é que a alegria como poesia aplicava-se com uma fruição profunda em seu espírito, corpo e alma. Vivia uma mudança paradigmática quanto a sua noção de si mesma e das coisas mais simples a sua volta. Como se tivesse passado alguns anos com parte de suas percepções mais finas adormecida. No entanto, ao seu despertar, na retomada destas funções de características oníricas, não acordara exatamente a mesma. Reconhecia-se, mas com seus encantos potencializados, lapidados... o amor por si, o amor pelo outro e por outros tantos e o amor por toda a beleza que transbordava em abundância e graça lhe permitiam quase tocar os mistérios da essência da vida.