segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Pólos Opostos


Cada cena que construíram juntos naquela noite era uma confissão de suas faces mais ocultas para consigo mesmos. A ação consumada na presença um do outro dava contornos para o que antes, desforme, talvez morasse nas linhas tênues entre a consciência e os planos oníricos de cada um. Se de um lado,  era um tanto quanto estranho o outro sabê-lo tão nitidamente, para além disso, perturbador era rememorar a própria imagem a protagonizar os fatos. Testemunhas de um delito subjetivo com elementos de concretude. Assombrosa vitalidade que denunciava uma energia obscura de tal modo impressa em seus espíritos que não puderam resistir. E talvez não poderiam novamente, assim que se recuperassem de um avassalador esgotamento imposto pela necessidade de reconfiguração de seus recursos internos. A proposta, aparentemente, contradizia em demasiado o que o mundo entendia por suas identidades. E ao mesmo tempo não. Pois cortejar a loucura talvez fosse o principal elemento da manutenção de suas sanidades. O domínio revelava uma disposição sutil e profunda de amar a qualquer custo, depositando ali toda a energia do mundo, e o submeter-se clarificava uma força consolidada a ponto de entregar-se totalmente sem o medo de se perder. Mas os corpos eram templos para uma causa por demais humana... quase ilegítima, a não ser pelo compartilhamento tão revelador que os colocavam em profunda vulnerabilidade, que se não o fosse, ao menos muito lembrava a energia mais poderosa do universo, vulgar e divinamente conhecida como amor. Frente a frente, embevecidos de contradições, vivenciavam um aspecto sagrado do que, grosso modo, poderia ser denominado pecado. Pólos opostos de uma mesma demanda da alma, ao que tudo indicava, estariam para sempre ligados. 

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