Sempre tive a impressão de que ele era um poeta desses parecidos com uma parte dos meus amigos... que acende um cigarro e recita qualquer poema bêbado, de sua própria autoria, no fim da noite, na mesa do bar. Gente simples de tão complexa, que as vezes se enche de alguma fé quase cética, guardando as armadilhas, sem muita estética, para poder amar. Do tipo que diz..."hoje à noite namorar, sem ter medo da saudade, sem vontade de casar". Como eu gostaria de ter dito essa frase, para os ouvidos do mundo e para os meus... Sinto que ele foi alguém de uma efervescência de alma tamanha, com muito mais coragem que a maioria de nós, viciado em emoção. Que não se compreendia totalmente e quando se via no espelho expressava uma vaidosa lamentação... "Como é perversa a juventude do meu coração que só entende o que é cruel, o que é paixão". Uma homenagem única e honesta à intensidade. E então, demasiadamente humano, oscilava entre a desilusão e a esperança, dialogava com suas contradições, fazendo da sua arte o seu escape, sua arma, seu protesto e seu encanto: "Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso, eu vos direi no entanto: enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto."... Cantamos todos... pois em algum lugar dentro de nós, ainda acreditamos. E mesmo sabendo da complexidade psicanalítica que guardava o amor, essa de ser encontro de sintomas e percepções questionáveis, preferia dizer...: "Deixando a profundidade de lado, eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia, fazendo tudo e de novo, dizendo sim a paixão, morando na filosofia. Quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno. Viver a divina comédia humana onde nada é eterno". O que posso dizer? Também quero!!! E apesar dele não ter cantado as dores da minha geração, teve percepções poéticas atemporais, do quanto nossa arrogância a respeito da vida e das mudanças que podemos proporcionar as vezes são infantis... e que depois de algumas desilusões, isso tudo nos faz sofrer... e muito. Portanto, assim, em mil ocasiões, ontem, hoje e amanhã, entoamos com ele, sem mais...: "Minha dor é perceber que apesar de tudo que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais" ... Obrigada Belchior!!! Descanse em paz.
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