A vida não nos poupa de nada. Não nos poupa porque não somos especiais. É sempre uma tentação muito grande acreditar que conosco tudo dará certo. Sempre caí nesta tentação de crer que comigo tudo seria diferente, mas descobri a tempo que não é nada disso.
Acho que sou de uma geração em que todo mundo acreditava ser uma criança prodígio com garantia de sucesso na vida adulta, principalmente essa turma da classe média em que nossos pais batalharam muito para que fossemos alguém na vida.
Imaginávamos carreiras meteóricas, amores eternos, famílias Doriana, casais nos quais as mulheres empoderadas seriam admiradas pelos seus maridos desconstruidões e vice versa, sucesso profissional e pessoal pleno aos trinta e poucos anos. Mas a realidade é bem diferente.
Somos uma geração como qualquer outra, guardadas as devidas dimensões. A verdade é que as mulheres empoderadas não tem tanto poder e firmeza nas suas decisões assim, os caras desconstruidões não são muito diferentes de seus pais no âmbito doméstico e no apoio a sua companheira, nossos relacionamentos não deram certo, boa parte de quem se casou aos vinte e poucos está se separando ou infeliz no relacionamento aos trinta e nós até temos uma carreira, mas não é meteórica e não nos faz tão feliz assim, com raras exceções.
No início, quando eu comecei a refletir sobre isso, quando perdi um bom tanto das minhas fantasias comigo mesma, eu achava que as coisas tinham dado errado só para mim... então comecei a fazer uma pesquisa de campo, e a partir de uma amostragem bem grande, concluí que nem nas coisas negativas sou especial. Sinto que a palavra de ordem da minha geração é DESILUSÃO.
O que mais encontro por aí é gente com idade por volta dos trinta sem esperanças. E a verdade é que eu estou numa luta pessoal homérica para não entrar completamente nessa frequência. Por um lado acho muito importante entendermos que não somos especiais e que a vida é trabalho duro, cheia de erros e acertos. Mas por outro lado, se não colocarmos algo mais maduro no lugar das nossas ilusões infantis quebradas, vamos deprimir e permanecer no limbo de nós mesmos.
O problema é que está muito difícil de encontrar algo que substitua as minhas ilusões, de realmente encontrar esperança. Sou escolada demais no assunto de relacionamento e feminismo para crer que algo deste âmbito me preencherá esses vazios. Já estou no mercado de trabalho por tempo suficiente para saber que nenhum emprego será mil maravilhas e a razão do meu viver. E no que tange a coletividade, as questões políticas, nunca vivi um tempo pior em que me faltasse tanto motivação para participar de qualquer coisa.
Sou crente, professo a fé cristã, e isso me consola em muitos aspectos da vida, e para além desta vida aqui... mas a forma com que creio em Deus não gera realmente um lugar quentinho para acalmar meu coração, as vezes ao contrário, me recorda mais uma vez de que esse mundo tem uma lógica e ela será seguida e que eu não sou especial.
Talvez a saída esteja próxima dos amigos que fazemos, dos vínculos que construímos, o que ainda me gera grande alegria. Talvez quem tenha filhos se sinta um pouco melhor porque se essa geração não der certo, você pode estar contribuindo com a próxima... mas não tenho certeza e acho que ter filho deve dar um medo infinito.
Aliás, acho que estou me acostumando a não ter respostas. Não acredito mais em revolução socialista. Não acredito mais em "felizes para sempre". Não acredito mais que a realização profissional me fará feliz. Não acredito mais que eu sou especial e que vim ao mundo para fazer algo absolutamente relevante. Talvez eu agora esteja no caminho certo, e quando eu achar algo novo para acreditar, não seja uma ilusão. Mas esse momento em que grandes sonhos não estão na pauta do dia, é realmente muito dolorido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário