Quando eu era criança, pré-adolescente, adolescente e me colocava em alguma situação de conflito na escola, havia um número imenso de possibilidades de resolução. Uma vez aos 7 anos, uma coleguinha me acusou de ter furtado uma canetinha marrom, porque justo a canetinha marrom dela tinha um formato diferente das outras. Mas todas as canetinhas marrons daquela marca, eram assim, inclusive a minha.
Eu sei que aquela "calúnia" me tirou o sono, eu não queria voltar para escola e enfrentar a colega que era a mais popular da turma e me acusava. Relatei os fatos para o meu pai. Ele, antes de qualquer coisa, ao me levar para a escola, estacionou o carro um pouco antes e orou para que Deus agisse naquela situação e abrisse os olhos da colega quanto a falsidade da acusação, depois me encorajou a encarar os fatos e me defender. Deu certo, ela achou a canetinha marrom, e me pediu desculpas.
Vivi diversas outras histórias, nas quais minha mãe também interveio. Diálogo com professores, pais de colegas, orientações. Minha mãe sempre ensinava que a gente não deveria bater em ninguém, mas caso fossemos agredidos, dizia: "se defenda". Minha irmã também deu uma grande ajuda na resolução dos meus conflitos infantis e pré-adolescentes na escola e em outros ambientes. Ela sempre foi temida e por isso, quando alguém mexia comigo, ia lá e já resolvia, as vezes com apenas um olhar ameaçador.
Resumo da história: existem mil e uma formas de resolver conflitos relacionais de crianças e adolescentes. Ou ao menos existiam. Soluções que vão de oração e manutenção da serenidade, passam pelo diálogo, até a devolução da agressão sofrida na mesma moeda. Aprendi isso em casa, como a maioria das pessoas.
Mas hoje, nem estamos na metade da manhã e atendemos na delegacia uns três casos bastante similares ao da canetinha marrom. Pessoas que não ensinam seus filhos a enfrentar as situações de conflito infantil e querem recorrer a polícia para resolver absurdos. Tenho certeza de que nunca nem passou pela cabeça dos meus pais ir até uma delegacia de polícia para requerer resolução quanto ao que era responsabilidade deles resolver. Não sei se já existia uma parcela da sociedade, mesmo naquela época, que já fazia isso, mas hoje em dia tem de penca.
Acho que essa atitude dos pais passa uma mensagem errada para crianças e adolescentes, de que um órgão público deve resolver seus conflitos subjetivos e privados. Fico pensando o que motiva alguém a ir até a polícia para requerer soluções assim. Todos os adjetivos que consigo pensar não são nem um pouco lisonjeiros. Gosto de diversos aspectos desse novo mundo politicamente correto, mas há que se ter limite quanto a intervenção do Estado em conflitos particulares... linhas tênues.
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