Uma vez em diálogo com uma amiga, ela me contou sobre como via o mundo e em como isso tinha impacto na sua maneira de viver. Disse-me que imaginava o mundo real como se estivesse em um sonho, no qual todos eram arquétipos dela. Com isso, considerava as pessoas com as quais se relacionava, a partir da mesma régua que considerava a si mesma. E acreditava que nenhuma relação que estabelecia, era por acaso.
Considerei esse conceito em alto nível. O que para um entendedor simplista pode parecer individualismo, é na verdade um fantástico senso coletivo. Pois, ela explicou que assim, vendo a todos como parte de si mesma, sempre assumia as responsabilidades de suas relações e amava o próximo com o seu amor próprio.
Não sei se consigo desenvolver um senso tão elaborado. Mas para mim há um sentido psicológico muito importante nisso. O qual tem tido grande eco dentro de mim. Antes de entrar na polícia civil e atender vítimas de violência doméstica, eu nunca tive uma empatia profunda com elas, apenas uma solidariedade racional.
Hoje em dia, mesmo tendo experiências relacionais diferentes da maior parte das mulheres que atendo, eu me sinto um pouco elas, no que tange a minha identidade feminina e todos os bônus e principalmente ônus que isso me causa. Cada um dos casos, me vejo um pouco, penso que poderia ser eu, não fosse ter tido oportunidades diferentes. Penso, as vezes, que em outras proporções, elas são eu e eu sou elas.
Isso também se reflete nas demais relações. Sinto que cada pessoa que me relacionei na vida, passou a ser um pouco parte de mim. Cada identidade com a qual tive contato... familiares, amigos, colegas, amores... todos eles juntos formam o mosaico que eu sou, e a partir da suas, me proporcionam uma identidade única. E os sinto dentro de mim com muita intensidade. E as vezes, mesmo que eles não saibam, dialogo intensamente com cada um... e assim, me trazem conforto, respostas, dúvidas, angústias...
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