Hoje de manhã li uma matéria no UOL sobre como o machismo atrapalhou a carreira de Isis Valverde devido ao suposto envolvimento dela com Cauã Reimond em 2014, quando ainda estava casado com Grazi Massafera. E apesar de a reportagem ter um tom de fofoca sobre a vida de famosos, tem uma abordagem interessante. Porque falava de algo que as mulheres vivem no cotidiano. Não só no âmbito da carreira, mas em tudo.
Sou uma mulher solteira, com 31 anos e já tive inúmeros relacionamentos. Uns curtos outros mais longos. E em diversos ambientes já sofri preconceitos devido a isso, inclusive em grupos que eu não esperava que fossem assim. Já tive notícias de comentários muito maldosos sobre minha vida particular no ambiente profissional, no âmbito da família, em grupo de amigos e em coletivo militante de partido de esquerda.
E por muito tempo isso me deixou mal. Talvez porque eu carregasse uma certa culpa nesse sentido, devido a uma formação cristã simplista anteriormente estabelecida. Sempre que eu terminava um relacionamento, eu vivia dois sofrimentos... um pelo fim em si, outro pelo auto-julgamento de que mais uma relação não tivera êxito, e que havia algum problema comigo.
Mas aos poucos fui vencendo meus próprios preconceitos. E agora até sofro com os fins dos meus relacionamentos... mas sofro de saudade, de carência, de palavras não ditas, de amor mal resolvido. Mas já não mais por me achar culpada, por não cumprir padrões esperados. Com certeza há problemas comigo, mas nada que fuja do razoável.
E depois que dei esse salto na vida, comecei a reparar menos como esses preconceitos vem por parte de outras pessoas. Ao vencer meus sentimentos de culpa, o que outras pessoas me acusam, parou de importar. O que não significa que não me indigno com algumas coisas.
Para ilustrar... num passado bem recente, fui a uma festa na qual estavam presentes velhos amigos. Dois deles estavam acompanhados de suas esposas, ambos casados há muito tempo. Quando eu cheguei na festa cumprimentei todos os presentes, mas ao abordá-las, ambas mal olharam na minha cara e todas as vezes que eu tentei desenvolver um diálogo com algum deles, elas vinham e os tiravam de perto.
Aquela situação me incomodou, eles são pessoas queridas que eu não via há um bom tempo e realmente gostaria de ter conversado direito. Demorei para perceber o que estava acontecendo. Percebi realmente só depois da festa. Aquelas mulheres foram machistas comigo. Eu uma mulher solteira não deveria estar conversando com os maridos delas. Ainda mais eu... que já tive relacionamentos com pessoas do mesmo círculo deles, "vai que são os próximos a entrarem para minha lista de destruidora de lares, né?!!" Represento uma ameaça. Seria cômico se não fosse trágico.
É trágico porque era um ambiente de pessoas com um nível intelectual bastante razoável. É trágico porque atrapalha minhas relações de amizade e de certa maneira até minhas relações profissionais. É trágico porque essas mulheres são extremamente inseguras e procuram depositar suas frustrações matrimoniais na primeira mulher que elas acham que escolheu trilhar um caminho diferente do delas. É trágico porque elas não são felizes com o caminho que escolheram.
E a verdade é que eu não tenho nada a ver com isso. E acho que o mundo deveria estar mais evoluído e que as mulheres deveriam ser as primeiras a se protegerem. Mas o que ocorre na prática é um ataque gratuito, que reproduz o machismo e a misoginia construída há séculos e séculos atrás. Minha resposta? Bem... fico com as belas palavras de Isis Valverde: "Me delegaram poderes que felizmente não tenho. Relacionamentos se iniciam e acabam com a naturalidade que lhes é peculiar"
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