Há um tempo venho falando de uma desilusão e desesperança que assola a minha geração. Minha percepção sobre isso se dá por alguns motivos. Não são poucos os amigos que tem cogitado a possibilidade de sair do país, gente que estudou, mas que mesmo com alto nível de escolaridade, está penando para pagar o aluguel todo mês.
Uma outra galera, que até já passou em concurso, que também sofre de desesperança, mas faz um discurso de que a vida não tem graça. Que é isso mesmo, trabalho, salário no fim do mês, bar no fim de semana, relacionamentos mais ou menos e só.
Não quero aqui deslegitimar nenhum sentimento ou impressão sobre a vida. Até porque passei por dias difíceis centrada nesta mesma perspectiva ou falta dela. Fui candidata a vereadora num dos momentos mais difíceis para a esquerda no país, e com um resultado eleitoral muito menor do que eu esperava, foi muito difícil entender que o problema era geral e não de incapacidade individual ou do grupo político do qual eu fiz parte.
Minhas esperanças foram abaladas, não só devido as eleições de 2016, ou o impeachment da Dilma, ou meu envolvimento com a militância, ou ainda a mudança para pior nas perspectivas em ampliação e manutenção de políticas públicas em benefício da parcela mais vulnerável da população, ou a incapacidade do PT de se reinventar e dar uma resposta a sociedade.
Parece que tudo faz parte de um círculo vicioso, que começa em aspecto macro, e atinge as nossas vidas particulares de maneira avassaladora. Dia desses em diálogo com um amigo, percebemos o quanto tudo o que está acontecendo no país atinge nosso humor dentro de casa. Mas creio que não seja bem isso.
Vejo uma relação dialética nesse momento histórico que estamos vivendo. De um lado os fatos gerais que nos desanimam, a ausência de lideranças nas quais podemos depositar confiança e renovar nossos votos de amor pela luta política. De outro lado, isso tudo vai alimentando nosso desânimo, nos faz abrir mão da elaboração política permanente. Nos faz não querer assumir uma responsabilidade geracional para reconstruir as coisas.
E por fim, nos dá a sensação de que tudo o que sabíamos sobre política, ficou velho. Por mais que volta e meia, as organizações tradicionais dos movimentos sociais ganhem algum fôlego, devido a absurdos propostos pelo atual governo, as alternativas que se apresentam no momento seguinte não empolgam ninguém.
Não sei onde chegaremos como consequência da atual conjuntura. Mas tenho refletido muito sobre a necessidade de reassumirmos a responsabilidade política do processo. De reinventarmos nossa esperança num novo patamar, mais complexo, mais elaborado. Não podemos nos entregar a uma estratégia que exacerbe ainda mais nosso individualismo e nos faça abandonar aquilo que compõe as nossas identidades.
Creio que é em movimento que perceberemos novas formas de diálogo e mobilização social. Não pretendo viver sem a luta política, não pretendo viver sem ser parte da construção de uma sociedade melhor... não pretendo viver sem esperança. Então, fica a certeza de que não podemos parar.
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