segunda-feira, 6 de março de 2017

Todo medo é medo de barata!

             
                    Eu sempre tive medo de barata. Medo não, pavor mesmo. Do tipo que não conseguia ficar no mesmo ambiente em que houvesse uma barata ainda que morta, daquelas que fazem escândalo quando a barata aparece. 
                A barata é um ser sujo, que vem das profundezas das sombras (risos), mas não oferece um risco imediato. Ela não tem veneno, é um ser pequeno e que não é dos insetos mais velozes, o que significa que pode ser morta facilmente, com um chinelo esmagador ou um mero veneno comprado no mercado.
          Acontece que mesmo sabendo disso, ainda assim, o pavor contra baratas permanecia intacto dentro de mim. Algo não racional.
              Há alguns dias estou morando sozinha, e tive o desprazer de ter que enfrentar algumas baratas, fui racionalizando meu medo, comprei veneno e o medo se foi, talvez não por completo, mas sinto que tenho evoluído.
             No entanto, há algum tempo tenho refletido sobre os meus medos, não somente o de barata, mas todos eles. Em algumas reflexões da cultura oriental, o medo significa uma Falsa Evidência de Aparência Real. Porque no geral, o medo não nos ajuda em nada. Quando digo isso, excetuo o medo que pode ser traduzido como cautela diante de algo desconhecido. Mas me refiro a este pavor que temos diante de coisas, que tornam nossos problemas muito maiores do que são.
                O medo se retroalimenta, e muitas vezes cria seu próprio objeto temido. Medo é uma forma de autosabotagem que me acompanhou a vida toda. E inúmeras vezes me privou da vida. O medo cria uma narrativa muito pessimista dentro de nós, faz descrições lineares da vida, projeta nossas decepções antigas em pessoas que não tem nada a ver com o que foi, afirma nosso fracasso antes de realizarmos qualquer coisa. O medo nos diz que a solidão é algo terrível que nos destruirá. O medo diz que não seremos amados e nem capazes de amar. O medo é um tagarela perverso interessado em posse e segurança para o ego. E quando conseguimos superá-lo, percebemos que ele não tem razão.
               Por isso, guardada a excessão do medo sinonimo de cautela, todo medo é medo de barata. Na minha cabeça enfrentar uma barata antes era praticamente enfrentar um dragão que soltava fogo, algo maior que eu. Acontece que na verdade, assim como a maioria dos nossos medos, eles podem ser enfrentados de maneira simples, com um chinelo de borracha ou um veneno de spray. Basta não lhe atribuir poderes místicos, quanto mais acreditarmos em nossos medos, maiores eles serão.

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