Nos últimos tempos tenho estudado assuntos nos quais nunca me aprofundei. Um deles é a Filosofia. E tem sido uma experiência muito gratificante entender a história do pensamento da humanidade. As vezes encontro dificuldades, mas tenho persistido. É interessante perceber que, assim como os filósofos percorreram um caminho que ao longo dos séculos permitiu a formulação humana se tornar mais complexa, individualmente também passamos por isso. A infância, a adolescência, a juventude e a vida adulta são fases nas quais em cada uma delas temos condições de ver o mundo de uma maneira, lançando mão de elementos e percepções diferentes.
Nessa semana no meu programa de estudos filosóficos me deparei com o pensamento de Immanuel Kant, filósofo alemão, cujo pensamento se tornou uma das principais colunas do Iluminismo. O autor afirmou que "O Iluminismo é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o próprio responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de um outro. O homem é o próprio culpado dessa menoridade quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de outro. Tenha coragem de usar seu próprio entendimento - esse é o lema do Iluminismo".
Confesso que as elaborações do filósofo alemão dialogaram muito comigo. Inspirada em seu pensamento, fiz o texto de ontem "Assuma a Responsabilidade". Concordo com ele que é preciso coragem para ser quem somos, para assumir a responsabilidade pela nossa própria vida.
No entanto, esta mesma base filosófica foi o que deu origem ao pensamento de Comte, principal expoente do Positivismo. Que até certo ponto, faz sentido, na direção de que a humanidade precisa assumir seu destino de forma racional. No entanto, leva isso até as últimas consequências e acaba por se tornar uma ideologia, apresentando uma proposta de mundo engessada e perfeccionista.
Os positivistas acreditam que "nenhum progresso pode efetivamente se realizar se não tender finalmente para à evidente consolidação da ordem". E seguem dizendo que "a ideia de ordem está ligada a ideia de hierarquia como sistema de subordinação rígida da parte ao todo, do inferior ao superior, do processo ao resultado, e isso dá a chave da famosa palavra de ordem: pelo progresso para a ordem".
Ocorre que nem coletiva e nem individualmente essa direção absolutamente ordenada é possível de ser colocada em prática. Essa maioridade atingida pela razão, esse assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas são questões importantes e devem ser perseguidas por nós. Mas não podem tornar a vida linear e nem desumana. E esse é um risco que se corre quando acreditamos que devemos abandonar a espontaneidade da vida, substituindo tudo por foco, objetivo e racionalidade.
No meu atual momento, tomei uma série de decisões baseadas em formulações racionais e não me arrependo delas, acho que já não era sem tempo. No entanto, vez por outra, elementos de outros âmbitos vem a tona e me fazem questionar tais decisões e as vezes até negá-las. Quando me encontro num momento como este, procuro acalmar minhas emoções e não abafá-las, mas aprender com elas, escutá-las. Isso não me faz menos adulta, ou mais frágil, ao contrário, me faz plena, mais complexa e mais intensa. Porque assim como sou minha razão, também sou meus sentimentos.
O que nos torna humanos, além de nossa capacidade racional, é também a complexidade do nosso sentir, e até mesmo as contradições que residem em nosso coração. Da mesma maneira que tomamos decisões importantes para nossas vidas com base na razão, muitas vezes, decidimos seguir a esperança, e ambos os caminhos são legítimos. E o equilíbrio disso (ou não) nos faz ser quem somos, nos faz humanos.
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