O rabino Nilton Bonder, o qual já citei em vários textos aqui, em sua
obra "O Sagrado", escreve sobre os segredos que os livros e teóricos da
autoajuda relatam para se ter sucesso.
Segundo o autor a obra surgiu de seu espanto diante do sucesso
de livros que oferecem um segredo capaz de mudar a vida das pessoas.
Para ele, a busca incessante pela plena satisfação do desejo leva ao
que ele chama de ‘religião dos indivíduos’, tão em voga na atualidade.
Em nome da autorrealização, o homem se coloca no centro de um universo
no qual ele é um sujeito especial, que merece consumir
indiscriminadamente e acumular dádivas por suas conquistas.
Para Bonder, o verdadeiro segredo, camuflado pelos livros de
autoajuda, é ter consciência dessas limitações; é questionar o desejo
como fonte absoluta de bem-estar, ao invés de simplesmente tentar
preenchê-lo. “Pensar que somos o centro do universo só nos fez
intolerantes e ignorantes no passado”, afirma. “Esse é um engano trágico
que mais cedo ou mais tarde levará à frustração e à descrença”.
Bonder
denomina esta percepção quanto a um segredo por trás do segredo, de
Sagrado. Que parte, na verdade, da inversão da lógica dos segredos
postos. Pois, se os segredos difundidos levam a satisfação do ego e dos
desejos, o sagrado parte de uma percepção em ser parte de um todo, da
minimização dos infantilismos egóicos, de abrir mão do sentimento de ser
o centro das atenções.
Disserta que "não somos um fim, somos um meio pelo qual se dá um projeto muito além de
nossa biografia individual. E essa não é uma má notícia. Ser parte e
não a integralidade nos aproxima da realidade e possibilita a
experiência do sagrado – de ser especial não como algo isolado,
independente, mas inserido na Árvore da Vida”
O que o
autor chama de Sagrado, poderíamos chamar, sem riscos de sentido, de
elemento humano ou humanização de nossa consciência, como seres
coletivos. Acontece que o que ele propõe não é fácil e não é simples.
Estamos acostumados com as receitas simplistas propostas pela
sociedade.
No fundo, nossa racionalidade é de não envolvimento, de receitas fáceis, e fundamentalmente de individualismo. Queremos brilhar, ser o todo. E desejamos que as partes estejam a nosso serviço.
Portanto, o que Bonder chama de sagrado, é mesmo sagrado, mesmo que numa perspectiva apenas humanista. É a cultivação de valores para que o mundo seja um lugar melhor para se viver. Recomendo o livro.
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