Sempre vejo gente reclamar que as redes sociais não representam a vida de forma eficaz. Que são superficiais, que as fotos são cheias de filtros e que todo mundo parece ser mais bonito e feliz do que realmente é. Tem também a ala militante, que vive convidando a gente para copiar e colar na timeline alguma coisa em relação ao tema da vez... e que também parece ser muito mais de luta do que realmente é... e volta e meia é criticada por outros militantes realmente "revolucionários".
Acho que tudo isso é verdade. Mas sinceramente não acho que seja um problema. Não vejo porque as redes deveriam ser exatamente iguais a vida real, pois isso nem seria possível. E ainda, há aspectos dessa tal vida real que eu, particularmente, gostaria de esquecer que existem.
Sou uma "postadora" assídua no Facebook e no Instragram, mas sou dessas que no geral, só postam coisas boas mesmo, fotos o melhor tratadas que meu celular de pobre permitir... e adoro acompanhar como as curtidas vão crescendo a cada minuto na foto postada. Adoro observar a assiduidade dos curtidores. Fico observando a curtida dessa ou daquela pessoa. E sinceramente, acho isso muito normal e até positivo.
Não vejo diferença nisso para o jeito de agir de outras gerações nas quais não havia as redes sociais da internet. Talvez as coisas fossem mais lentas. Mas me lembro de quando éramos crianças e nossas mães, tias e avós, quando recebiam visitas, adoravam mostrar seus longos albúns de fotografias, em ocasiões especiais, nas quais a família inteira se preparava para as fotos.
Com relação aos militantes políticos de internet, também não encontro novidade. Faz quase 17 anos que eu atuo na política, e sempre houve militante de ocasião, que nunca ia nas manifestações, nunca entregava um panfleto, mas tinha um discurso mega revolucionário quando aparecia numa reunião ou estava na mesa do bar. A diferença é que agora a gente consegue observar tudo isso de maneira mais clara.
Tenho estudado um pouco de história da arte, e contam os livros sobre o assunto que há 20 mil anos atrás, alguns dos desenhos rupestres nas paredes das cavernas eram feitos com técnicas avançadíssimas. E pela noção de perspectiva de algumas obras, é possível perceber que mesmo antes do início da linguagem escrita, o ser humano não tinha uma racionalidade muito diferente da que temos hoje. Tinham seus rituais, produziam arte, cultivavam a esperança, lidavam com a natureza, transavam, amavam e provavelmente faziam mimimi também.
No fundo somos os mesmos, dos tempos das cavernas aos tempos das redes sociais. Na pré-história o que se pintava na parede provavelmente eram coisas importantes para o grupo retratado, não se pintava qualquer coisa. Por isso, acho injustiça colocar a culpa desse nosso ímpeto de querer retratar o nosso melhor, no Facebook ou no Instagram.
Na verdade todo adulto queria ser mais feliz do que é. Todo militante queria ser mais líder do que é. Todo mundo queria ser mais bonito, não ter marca de espinha na cara, nem ruga, não queria ter barriga, nem braço gordo. Todo crente gostaria de ser mais espiritual do que é... enfim, a lista é infinita. Mas não é de hoje. A gente pode aceitar isso ou fazer coro com o saudosismo que afirma que "no meu tempo era tudo diferente...", o que geralmente não é verdade. Mudam os aspectos objetivos, a tecnologia avança, mas nossa essência é a mesma.
O que era diferente no tempo de quem diz essas coisas é que, em vários aspectos, o mundo era muito pior e mais difícil. Para ter notícias do seu crush, por exemplo, você precisava, as vezes, esperar semanas até receber uma carta ou qualquer notícia de terceiros, hoje em dia você marca ele entre os melhores amigos no face e estranha quando ele fica mais de 12 horas sem postar nada. Simples assim. Tem gente que acha o passado das cartas romântico, tem quem prefira mandar nudes nos tempos do agora. Não vou emitir minha opinião. Até porque já estou fugindo do tema.
Nem as pinturas rupestres, nem as obras gregas, nem a arte medieval, nem as obras literárias escritas ao longo de toda a história, nem programas de TV, séries e filmes, nem Facebook e nem Instagram são exatamente iguais a realidade. São representações, e por isso a retratam em parte, geralmente a parte boa. Só a vida real é a vida real, o resto é metáfora. Ainda bem. Aceitemos isso e usemos as redes com diversão e parcimônia!
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