quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Ando Tão Cansada
Ando tão cansada...
Cansada dos silêncios inoportunos,
Exausta ante aos triviais infortúnios.
Ando tão cansada...
Cansada dos olhos fechados para a vida,
Cansada daquela gente que se sente
Tão bem resolvida...
Ando realmente cansada
De tantas fotos bonitas,
De gente que não chora mais,
De tantos rostos tão iguais...
Ando cansada dos discursos repetitivos,
Dos cardápios exaustivos,
Dos sentimentos fragmentados...
Ando cansada, tão cansada...
De ver por aí tantos amores
Que se dizem eternos, tão mal amados
Dos comodismos,
Dos encostados,
Dos olhos acostumados.
Ando cansada...
Da esquerda envergada,
Dos valores invertidos,
Dos ideais distorcidos,
Dos gritos mudos e envergonhados,
Das defesas contidas,
Das rebeldias caladas
Da demagogia enraizada.
Ando tão cansada...
Cansada da falsa felicidade,
Das carências camufladas em paisagens,
Do tom politicamente correto do mundo,
Dessa tal pós-modernidade.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Crônicas de delegacia IV: Coisas de cozinha
Quando eu dava aula de noções de direito constitucional em um curso técnico, ficava besta de ver como as pessoas não tinham noção da diferença entre os poderes legislativo, executivo e judiciário. Acompanhando a política e o mandato de um amigo vereador, percebi que tal dúvida é mesmo acentuada em nossa sociedade, pois não paravam de chegar pessoas cobrando dele que fizesse coisas relativas ao executivo.
Pois bem... se a maioria da população não tem noção da diferença dos três poderes, muito menos teriam noção da diferença entre as diversas áreas do Direito. Há uma confusão absurda quanto ao que é cível e ao que é de âmbito criminal.
Pessoas se metem em confusão o tempo todo. Confusões trabalhistas, comerciais, cíveis... e elas tem certeza que o problema é da polícia... só que não! Homens e mulheres se relacionam, em muitas ocasiões de suas vidas, de uma maneira extremamente precária, fazem negócios que não devem, tem romances problemáticos e por aí vai.
Tudo bem, as pessoas são livres, podem fazer o que desejam e se relacionar com quem querem. Contudo, o revoltante é que a ignorância reina. Pois, problemas pequenos de âmbito pessoal tornam-se facilmente, na cabeça delas, casos de polícia. E o pior, os culpados nunca são aqueles que criaram os problemas... e sim a polícia, a justiça, as leis, os políticos.
É claro que todas estas instituições tem problemas sim, mas teriam muito menos problemas e muito mais capacidade de resolução caso o povo fosse menos ignorante e soubesse se relacionar de um jeito um pouco mais saudável.
Fazer boletim de ocorrência porque a ex-namorada fez escândalo na frente da casa do fulano, definitivamente, não ajuda a polícia a combater a criminalidade e nem torna o país mais seguro! Coisas de cozinha devem ser resolvidas na cozinha. E tenho dito.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Crônicas de Delegacia III: O Cárcere
Ela nunca tinha visto imagens tão chocantes. O barulho da batida das portas de ferro lhe era até familiar devido sua fixação por filmes policiais. Mas sentia algo diferente ao estar ali. As imagens de um lugar envolto a grades e cimento... um mundo paralelo em tom cinza e âmbar... onde, fosse qual fosse o foco dos seus olhos, não era possível encontrar harmonia. Um cenário deprimente. E os homens que viviam ali, pareciam fazer parte dele. Olhares sem esperança. Pessoas também em tons cinza e âmbar. Em uma das paredes, um vestígio de poesia para mostrar que a vida existia, apesar de parecer não estar ali... quase apagadas, as letras denunciavam resquícios de humanidade: "Viajo em um barco, a procura de um porto, cujo nome é a liberdade."
Panos sujos por todos os lados, insetos habitantes da sujeira, sujeira por toda parte. Roupas rasgadas, pés descalços. Um lugar absoluto em ausência de tudo o que é bom. A dor era a palavra de ordem... a dor que podia ser sentida de longe... um mundo paralelo, ou melhor, um submundo. Mas caso o cenário, os olhares, a miséria lhe tivessem deixado alguma dúvida quanto a que lugar era aquele... o cheiro da morte confirmava que o inferno era ali.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Crônicas de Delegacia II: Fechar os olhos
Como em uma história
de novela, Carla, parecia ser a mocinha. Uma jovem mulher trabalhadora,
lutadora. Mãe de dois filhos, casada, emprego fixo. Mania de
limpeza, sua casa era um brinco. Sua imagem também, impecável,
unhas feitas por ela mesma, mas bem feitas. Maquiagem leve, luzes no
cabelo castanho.
Carla trabalhava como
costureira em uma fábrica, ganhava pouco, mas com o seu salário e o
do marido, tinham uma vida digna, capaz de suprir as necessidades
daquela família. A empresa em que exercia sua função, no geral era
um bom local de trabalho. Um ambiente saudável, relativamente leve.
E Carla era uma funcionaria de confiança, alguém reconhecidamente
de bom caráter, por isso tinha grandes perspectivas de crescer na
empresa.
Porém, nas últimas
semanas, Carla percebera algo um pouco estranho, a empresa que
confeccionava bonés e camisetas promocionais para festas, eventos,
etc., tinha agora um novo desafio produtivo. Fabricaria grandes
marcas.
Carla achou um pouco
estranho que a pequena fábrica em que trabalhava, numa cidade do interior, pudesse começar a
fabricar marcas tão relevantes. O alerta de sua intuição ligou.
Mas ela seguiu em frente, afinal era apenas uma funcionária. E
depois, certo ou errado, isso era comum, normal. Quantas vezes
comprara um DVD na banca da rua de um filme que ainda estava em cartaz no cinema, quantas vezes fora a 25 de março em
São Paulo comprar uma besteira ou outra.
Contudo, por mais
normal que tudo parecesse, não era lícito. E em uma manhã de
quarta-feira, isso tudo ficou claro. A polícia entrou. Os donos não
estavam lá. E na ausência deles, Carla apresentou-se como
responsável pelo local. Ela, uma mulher simples e de bem. Não tinha
medo, porque achava que não devia nada, apenas cumpria sua função.
Mas as provas do crime
de falsificação, estavam lá. Um flagrante delito. E Carla, que
sempre assistia na televisão casos extremos, agora era protagonista,
na vida real, de uma história triste. Estava presa. E também
desesperada. Não acreditava que aquilo pudesse acontecer com alguém
como ela, muito menos com ela.
Um dia inteiro de
tensão, na véspera de um feriado, se as coisas não melhorassem
naquele mesmo dia, tudo se prorrogaria ao menos por quatro dias,
quatro eternos dias, e o pior, quatro noites, num ambiente que jamais
imaginou estar, que jamais desejou estar.
Não conseguia comer,
não conseguia pensar. O advogado que a empresa mandara não lhe
inspirava confiança. Perguntava-se até onde aquela terrível
circunstancia iria. Sentia muita dor. Sentia raiva, vergonha, culpa,
humilhação. Só pensava em ir embora, em seus filhos, nas pessoas
que amava. O que elas pensariam? Como ela andaria novamente de cabeça
erguida?
Ao fim do dia, quando o
Sol já estava indo embora, pode finalmente respirar. O juiz havia
expedido seu alvará de soltura, responderia por aquele fato ilícito
em sua casa, poderia provar que não estava envolvida, que só
cumprira ordens.
Um trauma. Mas também
uma lição. Não pode haver naturalização do crime. Basta ser pego
uma única vez para que as coisas se compliquem. E mesmo que você
não o cometa, fechar os olhos é compactuar com ele. Carla nunca
mais seria a mesma depois deste fato. Aprendera que tudo na vida
passa por escolhas. E que ficar calado, as vezes, pode ser a pior de
todas elas.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Crônicas de Delegacia I: Dona Laura
Dona Laura vagava pelas ruas dia após outro. Os moradores estavam acostumados com sua presença. Volta e meia batia palmas na frente das casas, pedia um café, um prato de comida, e assim o tempo passava, assim o seu tempo ia. Dormia no antigo bar do campo de futebol do bairro. Ali acumulava coisas que as pessoas não queriam mais, objetos que tinham com ela mesma, profunda identidade.
Mas em uma madrugada qualquer, destas que ninguém teve insônia, a angústia da maior parte de quem vive, chegou a ela. Possivelmente acordada, provavelmente em meio a dor. E só, absolutamente só. No pescoço uma corrente, com um pingente de cruz, onde talvez, guardasse a esperança... não sei. Sei que o que estava ali não era ela, não mais. Um objeto rígido, entregue, vazio. Ela não tinha ninguém, não era prioridade na vida de ninguém, sua única sobrinha fora contactada, e ao saber da notícia, não pode comparecer ao local, pois estava ocupada. E assim partiu, no fim de sua história, um frio boletim de ocorrência. As fotos de seu corpo ausente de alma para o registro policial talvez tenham sido os únicos retratos seus em toda a vida, ou talvez não, talvez antes tenha tido alguma história bonita, alguma história de amor. Em sua memória, além dos registros oficiais, esta crônica, esta crônica de delegacia.
sábado, 2 de novembro de 2013
Eu já vou indo...
Eu já vou indo.
Deixei a casa arrumada,
A geladeira vazia,
Nenhuma louça na pia.
Eu já vou indo.
Meio feliz pelo desconhecido,
Meio triste... triste e meio.
Por tudo o que foi dito.
Pelo que ficou calado.
Por tudo o que ficou certo,
Pelo que fiz errado.
Eu já vou indo.
Mais uma vez vou indo...
Deixando um ou outro
Amor mal resolvido,
Uma ou outra tarefa por fazer,
Alguma coisa da vida por viver.
Eu já vou indo.
E sinto... sinto muito,
Muito de não sei o quê.
Muito do que não sei porquê.
Eu já vou indo.
Talvez logo ali,
Eu esteja de novo vindo,
Pode ser...
Mas sei que já vou indo,
Com a alma ardendo,
E o coração doído.
Mais uma vez...
Eu já vou indo.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Esgotamento
Não sei se choro, não sei se rio.
Pois a verdade
É que, frente ao esgotamento do que sinto,
Me divido
Entre comemorar a liberdade
E lamentar um vazio.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Violências Sutis
Há muitas formas de violência neste mundo. E todos nós em algum momento da vida já sofremos com isso ou fizemos alguém sofrer. Há formas muito evidentes de ser vítima de alguma violência. A física é a principal delas e se revela de forma muito gritante por aí. Contudo, assim como a pior mentira é aquela que vem escondida junto a noventa e nove por cento de verdade, a pior violência é aquela que chega de maneira sutil em tons que não estamos esperando. As vezes a violência vem em formato de graça, piada, risada... e só percebemos que fomos vítimas depois. Quando as agressões são sutis, elas entram na gente de uma forma muito pior do se fossem explicitas. Quando as percebemos já é tarde, não se pode mais reagir, passou o momento da defesa. E é aí que começa a pior parte. Porque se a gente perde o momento de devolver, colocar pra fora, a dor vira uma ferida. Uma ferida que se a gente não cuidar corrói por dentro, infecciona e fica pior. No fim das contas, muitas vezes, frente a violências sutis, resta-nos a racionalização, o uso das válvulas de escapes metafóricas, os exercícios físicos, as terapias, as conversas com amigos, as crônicas, os poemas.
domingo, 15 de setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
Dúvida
Ao mesmo tempo que duvido de lá,
Uma dúvida ao pé do ouvido,
Se instala de cá.
E me pergunto...
Dessa dúvida, o que será?
terça-feira, 10 de setembro de 2013
NÃO
Os nomes do que sinto,
São as palavras que eu não dou.
Os olhares infinitos,
São os lugares que eu não vou.
E em meio a uma profunda solidão,
Percebo-me sendo a minha mais real companhia.
E ao afastar as paixões,
Diminuir as infinitas demandas de desejos,
Coloco no centro o que deve estar,
E afasto de mim as idolatrias.
E então... viva!
Resignificada está... a Vida!
Os donos da pauta já não são eles,
Os elogios sublimes, as afinidades de pensamentos,
Os corpos peculiares, as elaborações subjetivas,
Os olhos caídos, as canções bonitas, as peles macias,
Os gostos e cheiros intrigantes, as paisagens lindas,
As formas côncavas ou convexas,
Os clássicos alimentos ao meu ego, os espelhos mágicos,
As relações complexas.
Não, já não são.
Os vícios vão indo, os ciclos são rompidos.
E o que eu não quero, vai ficando nítido.
E me encontro inebriada da mais profunda gratidão,
Porque de um luto esquisito eu encontro a saída,
E sobre uma morte desencadeada por um estranho "não",
Sem muita explicação,
Maravilhosamente, vai se produzindo vida...
sábado, 17 de agosto de 2013
domingo, 4 de agosto de 2013
Sublimação
Não há em mim uma alma indiferente.
Há sim, uma alegria sobriamente embevecida,
Um prazer na companhia,
Um gosto despretensioso e reverente.
Desejos sublimados em diálogos,
Uma amizade que não é sendo,
Um funcionamento eficaz.
E as palavras que eu não digo,
Diante de um compreender genuíno
Do seu não convicto,
Diante de um compreender genuíno
Do seu não convicto,
Manterão sempre tudo, na mais profunda paz.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Sobre política e paixão...
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Fernando Pessoa
Sempre escrevo sobre a política. Nunca me canso de dizer que esta sempre foi, e provavelmente sempre será, a maior paixão da minha vida. E quanto mais converso com as pessoas deste meio, encontro outros apaixonados também. De diversos partidos diferentes, ou os sem partido, que se dedicam à política na área acadêmica, estudam política, respiram política.
Mas o fato é que não há outra forma de se fazer política, sem que seja com paixão. Porque paixão "é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento desconte...", e é exatamente assim que a coisa funciona. Nem tudo é delícia, mas as dificuldades se tornam desafios quando somos apaixonados.
Hoje, numa discussão calorosa com velhos e bons amigos comunistas, que me conhecem há quase uma década e meia, perguntaram-me sobre o PT e os porquês da minha militância. Respondi, defendi o partido, o projeto nacional que vem sendo construído, as mudanças no Brasil. Contudo, ao continuarem o confronto, com bons argumentos, no fim, encerrei a questão com uma só resposta, a mais verdadeira das respostas que eu poderia oferecer... "é paixão".
Na verdade, a política faz parte da minha identidade, do meu DNA, e é a tradução, a metáfora de mim mesma. Representa um processo evolutivo constante, um diálogo entre o velho e o novo, uma efervescência infinita, das idéias, da prática, do pensamento e da ação. É racionalidade e sentimento, objetividade e subjetividade entrelaçadas... tudo junto, num mesmo ambiente, um Universo inteiro. Pura relação.
Sempre brinco, quando vejo alguém na política com medo de colocar a mão na massa, de fazer acontecer de verdade, de dar a cara pra bater, de sujar os pés de barro no bairro mais simples... digo que deveria procurar outra coisa pra fazer, um tanque de roupa pra lavar, uma data pra carpir, uma petição pra assinar. Menos estar ali, porque não se pode fazer política pela metade... da mesma forma que não se pode amar pela metade.
Pois, como tudo na vida que é verdadeiro, exige entrega. É preciso mergulhar, tocar nela e deixar-se tocar por ela por inteiro. Só é possível fazê-la, transformar a vida através dela, transformando-se por ela, entregando-se de corpo, alma, entendimento e coração.
E ao mesmo tempo que a política é doce e bela, é também guerra... contudo, este é o único campo de batalha em que se pode matar ou morrer infinitas vezes. As vezes, todos os dias.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Padrões de Beleza
Gosto de exercícios físicos. Mas também gosto de muitas outras coisas. E na verdade nunca consegui atravessar um inverno inteiro disciplinadamente na academia. Noites de queijos e vinhos sempre me seduziram mais. No geral me mantenho firme nas estações mais quentes. Mas desta vez, por vários fatores da vida, tenho conseguido atravessar o frio. Sinto-me bem, vejo nitidamente o quanto meu humor é melhor por isso... entre tantos outros óbvios benefícios.
E pra me motivar, ando lendo muito sobre isso... alimentação saudável, exercícios e por vai. E nestas pesquisas tenho visto muitas páginas do facebook sobre o assunto em questão. Uma delas publica textos e fotos o dia todo. Fotos de gente linda, malhada, com cara de quem se dedica muito à construção de um corpo perfeito, e eu admiro isso.
Mas como disse no início do texto... gosto dos exercícios, mas gosto de outras coisas também. Entre estas outras coisas está a luta por uma sociedade melhor. A política, que aliás é meu relacionamento sério mais duradouro, é minha maior paixão. E dentro dos diversos temas que a política aborda, um sempre me encantou: a luta das mulheres.
E hoje, também numa página do face, uma página feminista, li um texto de uma menina que dizia o quanto é difícil ser gorda. Fiquei pensativa com o desabafo dela. E triste também ao ver o quanto ela se sente mal por causa dos padrões de beleza impostos socialmente. Os efeitos que isso tem para que a auto-estima dela seja cada vez pior, e que tem que lutar com isso diariamente. Sei que essa não é uma dor só dela, mas de muitas mulheres... converso com minhas amigas, gente que convive comigo, e vejo nos olhos delas as mesmas dores todos os dias. Vivemos numa sociedade em que homens devem ser ricos e poderosos e mulheres devem ser bonitas e outras milhões de qualidades.
E por mais que as coisas comecem a melhorar no que diz respeito aos padrões impostos, a sociedade é muito machista sim, e cobra de nós mulheres padrões difíceis de alcançar, especialmente para mulheres pobres que precisam trabalhar o dia todo, dar conta de suas casas e filhos, sem muito tempo para se cuidar e sem grana pra pagar academia e muitos menos os suplementos e a alimentação ideal.
Minha conclusão é a de sempre. Que a vida é dura e não é justa. Não estou criticando quem busca ter um corpo malhado... até porque quero isso pra mim. E nem estou propondo um "bolsa academia" ou "bolsa Whey Protein" como solução para pessoas carentes (risos). Sou muito influenciada pelos padrões também. E se eu cuidar só do meu corpo e não da minha cabeça, entro na neurose de me achar feia por qualquer gordurinha besta. Mas justamente porque cuido da minha mente... tento estabelecer algum equilíbrio em meio a isso tudo. Penso que é necessário se aceitar e se amar independente de padrões, sei que isso é soa como um senso comum, e é... mas é correto também. É necessário saúde mental para ter saúde física. E os padrões não devem nos pautar. O amor próprio é que deve. Há belezas completamente inusitadas que não fazem parte dos padrões globais... e também devem ser cultivadas e valorizadas.
domingo, 7 de julho de 2013
Mudanças
Cedo ou tarde mudanças acontecem em nossas vidas. Algo vem e nos leva para longe das zonas de conforto que tanto queremos permanecer. Somos cheios de contradições... ao mesmo tempo que buscamos evolução, superação, queremos isso com segurança, sem riscos, sem dor e com conforto. Gostaríamos de estar sempre numa crescente, num processo evolutivo permanente e natural. Mas isso é pura ilusão.
Precisamos das mudanças para evoluir. É necessário que percamos o chão para procurarmos nova superfície. A dialética explica como tudo isso funciona... tese, antítese, síntese, girando sem parar. E essa é a vida.
Contudo, quando estamos no olho do furacão, sentindo as dores de ter que mudar, não é simples adquirir a serenidade necessária... todo problema no auge de sua existência parece absoluto, maior que a gente. Temos a sensação que será a última palavra em nossa vida.
Por isso, ter paciência com a nossa própria história, perseverança naquilo que estabelecemos como foco é fundamental. Pois é fato que os problemas irão passar, até que venham novos. Mas o que não pode acontecer é negociarmos nossos valores no processo.
Há quem enfrente a vida e seus entraves de forma tão imatura que acaba por repetir os mesmos erros várias vezes... constituindo um ciclo vicioso que no fim da linha leva ao caos. Temos que encarar lutas como oportunidades de evolução. Caso contrário é possível que saiamos delas, menores do que entramos.
Um inteiro
Conviver com as pessoas é algo importante, é parte integrante e fundamental da vida. É a partir das relações que ampliamos nossa visão de mundo, que crescemos, que percebemos coisas para além das restrições de nosso próprio mundo-umbigo. É a partir da convivência com irmãos na infância, por exemplo, que percebemos lições fundamentais para a vida, como ter que dividir, compartilhar aquilo que é nosso, ser solidário com o outro, é nessa convivência que também aprendemos a competir, a equilibrar atenções, entre tantas outras coisa.
Contudo, há quem exagere nas relações e não perceba a importância de estar só. Estar consigo mesmo é descanso, é digestão, saúde. Tem gente que nunca pára, que não consegue estar acompanhado de si mesmo, que nunca sentiu prazer na própria companhia, que nunca mergulhou em seus próprios pensamentos e reflexões, há quem espere sempre do outro alguma coisa. Gente que pensa que não há nada pior que a solidão.
Mas a verdade é que há beleza em estar só, e uma importância nisso. É necessário momentos de solidão para que possamos crescer também. Vivemos tempos em que estamos cercados de pessoas o tempo todo... seja de maneira presencial ou virtual. Solidão saudável inclui também a valorização do silêncio. Neste mundo hiperativo, somos invadidos por milhares de estímulos diariamente, os diálogos são muitos, mas rasos, superficiais, repetitivos. Pessoas não param de falar banalidades, lugares-comuns, cada vez um assunto do momento... semana passada protestos, hoje a derrota de Anderson Silva. Sempre posições maniqueístas e simplistas. O que faz parte do cotidiano, mas há exageros.
Por isso, as vezes é preciso silenciar, calar, ler, respirar fundo, refletir, meditar... elaborar sobre a semana, escrever. Sentar no meio fio de nossos próprios pensamentos, como canta Zélia Duncan em sua música "O lado bom da solidão". Quem não encontra prazer na própria companhia, tampouco encontrará prazer genuíno na companhia alheia, convive para matar carência, para se completar. Desconhece que para ser dois, antes é preciso ser um inteiro.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Fazendo Parecer Menos Dias III
Com a mesma leveza que você veio,
Você se foi.
Mas tudo ficou misturado...
embaralhado.
E o sofrimento...
Que eu achei que não vinha, veio.
Ainda bem que veio.
Porque assim como as alegrias devem ser vividas,
As dores também.
Mas que esses dias nublados
Possam parecer menos dias...
Diante daqueles dias de sol que vivi junto a você.
Memórias que nunca serão apagadas
Contrastam com as músicas
Que provavelmente nunca mais serão cantadas.
Cheiros que se perderam,
Sabores que não existem mais... olhares que se foram.
É uma parte de mim que se vai.
E não importa o que pra frente faremos,
Mas os próximos dias, eu sei...
Não parecerão menos.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
E sorria...
Ela era capaz de explicar muitas coisas... sempre gostara de elucubrações infinitas. Fosse em seus assuntos cotidianos ou ainda nos temas relacionados aos corações de outrem. Ela de boca e olhos falantes, quase sempre conseguia escutar e entender os silêncios também. Aos poucos, depois de muito articular palavras, aprendera que por vezes o calar poderia ser mais gritante do que quaisquer gritos. Uma vida intensa... uma percepção deveras imensa. Estudos minuciosos de personalidades alheias... observações sem fim. Mas de repente (nas palavras do poeta... "não mais que de repente"), perdeu-se. Pois desta vez não. Não sabia descrever. Seus olhos calaram diante do que lhe parecia inexplicável. E sua boca só fazia... disparar disparates. Ela não podia entender aqueles olhos caídos, não podia interpretar aqueles gestos, as vezes secos, as vezes mistério. Não encontrava nexo. Contudo... apesar de um incomodo sem fim transpor a totalidade do seu ser, havia um gosto. Um prazer na surpresa. Uma deliciosa sensação de admiração verdadeira ao semi-desconhecido. Sentia-se autêntica, viva, plena, plenamente surpreendida. Uma estranha felicidade. Talvez ele fosse um mistério que ela jamais desvendaria. Mas não havia nada a perder... o presente já lhe havia sido dado pela vida... a alegria de perder-se a trazia mais perto de si mesma. E sorria...
domingo, 16 de junho de 2013
Plenitude
Que elas venham e com elas tragam tudo o que quiserem. Eu me entrego, pois quando mais rápido vierem, mais breve se irão. Que elas venham quando cada uma das músicas tocar, quando cada fotografia for revista, quando cada lembrança pular na memória. Que venham todas, que se entrelacem com a minha história. Não só as dores pelas últimas seis estações. Que venham por uma década inteira... que sangrem, que se relembre cada entrega. E que pareça que todos os amores vividos, sejam apenas um. E que da mesma forma com que eles vieram, emendados, costurados, diferentes e semelhantes como fossem uma colcha de retalhos... que assim eles partam, como algo único que se vai de dentro de mim. E quando elas se esgotarem, as dores... quando todas as músicas já tiverem sido tocadas, quando todas as danças prometidas já não puderem mais ser dançadas, quando todos os sonhos estiverem absolutamente desacreditados, quando todas as expectativas estiverem quebradas, quando as declarações de amor nunca mais puderem ser declaradas, quando não houver mais nenhum tema a ser debatido... quando tudo for definido, quando não restar vestígios. Então existirá tudo, por não haver mais nada!
Desorganização
Passei um bom tempo sem escrever, ou escrevendo muito pouco. Sinto que venho retomando isso, e acho que é um bom sinal. Pois escrever me ajuda na organização da alma. Que aliás anda muito, muito desorganizada. Mas como já dizia a música "é desorganizando que eu posso me organizar...". E é exatamente isso que sinto que está acontecendo.
São tantas sensações e sentimentos misturados dentro de mim que não ando conseguindo observá-los direito. Sabe quando seu quarto chega em um estado de desorganização tão grande que você nem sabe mais por onde começar a colocar as coisas no lugar...? Pois é, até que você começa e depois não para mais.
Não sou alguém que fica parada na tristeza ou em qualquer outro sentimento negativo. Sou aberta pra vida e dificilmente me canso de investir nas pessoas. Mas neste exato momento, acho que preciso parar. Preciso de um certo espaço de tempo pra voltar a ver as coisas com nitidez. As vezes tenho a impressão que muitas coisas das quais vivi nos últimos anos passaram muito mais pela artificialidade do que pela realidade mesmo.
E talvez, se eu não parar, não aprofundar essa reflexão e elaboração subjetiva, vou sempre estar no mesmo lugar, ainda que as pessoas sejam outras. Desapegar-se de alguém que foi importante em nossa vida exige luto. É semelhante a uma morte, talvez pior, porque você sabe que ele está vivo. O outro mecanismo para superar isso, é a substituição imediata. Que não é uma forma psiquicamente saudável.
Por isso, eu digo, as vezes as pessoas que estão em volta da gente podem ser outras, mas nós estamos no mesmo lugar.
E eu não quero mais isso. Quero, por pelo menos uma vez, ir até o fim nisso tudo. Quero ter que começar do zero. Quero ter que, aos poucos, destruir cada um dos vestígios dele (e dos que vieram antes também) que restaram dentro e fora de mim, mas que fizeram parte dos cenários da minha vida. Até que eu possa desintoxicar de todo passado, e aí sim seguir em frente.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Negligência
É comum vermos pessoas paradas no passado. Gente que já fez algo grande em um momento e depois nunca mais realizou algo bacana, então fica presa lá atrás. Ou ainda, pessoas que param em traumas, em desamores, em baques que também deveriam ter sido superados. E isso, estar preso ao que já passou, é uma prisão e uma inversão de valores.
Contudo, há um outro tipo de atitude, semelhante a está, fantasiada de algo bom. Mas que não é. Há pessoas paradas no futuro. Planejam tanto, acumulam, guardam, economizam em recursos objetivos e subjetivos, para usá-los no futuro. É claro que uma dose disso é algo bom... um pouco de planejamento, de economia é importante. Mas há quem guarde tudo para amanhã.
Estes se esquecem que nem o que foi, nem o que será, existe mesmo. E uma vez que negligenciamos o presente, não faz sentido cuidar do futuro. A vida, na verdade, é somente o exato instante que se tem agora. É o amor que você sente e demonstra agora, é o cuidado que você oferece aos seus agora, é a compaixão com o próximo que você tem hoje.
Vejo gente tentando ter um futuro lindo, com um presente precário, negligente. Vejo gente deixando o amor pra amanhã e colocando no lugar tanta coisa menor. É pena... mal sabem que a vida é tão rara, tão cara e acontece ou desaparece em um único instante!
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Barreiras
Ausências me invadem e se alojam em mim,
Preenchendo noites vazias, com vazios em si.
As palavras esfriam o que o meu coração aquece,
Deixando deste lado do mundo uma tristeza sem fim.
Enquanto isso, aqui dentro, surgem barreiras maiores
Que a Muralha da China ou que o Muro de Berlim.
Arya
O último episódio de Game of Thrones foi chocante. Amigos que leram o livro ficaram quinze dias anunciando que seria bombástico. "O casamento Vermelho". Eu não me aguentei, digitei "casamento vermelho"no google, e descobri antecipadamente o que iria acontecer por alto. Morte atrás de morte de personagens que já havíamos nos afeiçoado.
Mas o que mais me tocou em todo o episódio não foi exatamente a morte de alguns personagens. Mas a situação de Arya Stark. Ela, uma criança, que estava sendo levada para encontrar sua mãe e irmão, que não via há muito tempo, desde antes do seu pai ter sido assassinado diante de seus olhos, acusado de traição.
E quando chegou ao local onde os reencontraria, e estava prestes a ter sua segurança restabelecida sob a proteção dos que a amavam... percebeu que também haviam sido assassinados.
Acho que em muitos momentos da vida, nos sentimos como Arya. Chegamos tão perto daquilo que mais amamos, de momentos em que resolveremos algumas de nossas lacunas abertas, que curaremos feridas. Mas instantes antes, o cenário muda e tudo escorre pelas nossas mãos. E aí, ou morremos ou nos reinventamos. Restando-nos, de forma figurativa, dizer ao deus da morte: "hoje não."
quinta-feira, 30 de maio de 2013
Não tenho tempo a perder...
Não tenho tempo a perder com ressentimentos. Eles ficam em mim por algum tempo, o tempo da digestão. Depois se vão pra longe. E as coisas boas vão ficando. Ressentir-se é criar jurisprudência contra si mesmo. Por que se ainda não decepcionamos alguém, se o relacionamento for profundo, um dia iremos decepcionar. Por isso, de alguma maneira que não sei direito explicar, não guardo mágoa. Essa semana conversei com uma pessoa, minha conhecida há muito tempo, uma década talvez, o que representa mais de um terço da minha existência. Em determinado momento da minha vida fomos muito amigas, eu e essa pessoa, e na mesa do bar, ela abriu o quanto tinha mágoas. Disse que guardava rancores quanto ao desfecho daquela antiga amizade que já não existe mais. Relembrou com detalhes minuciosos coisas tristes que minha memória não guardou. Nisso fiquei pensando como boa parte dos seres humanos tem suas vidas paradas no tempo, um tempo que há muito deixou de existir. Sei que cada um tem um mecanismo específico para lidar com questões que afligem o coração. Mas tive a certeza de que não quero isso pra mim.
Na política e na vida aprendi que é preciso seguir em frente com as pessoas porque é com elas que construímos o mundo. Por mais que nos magoemos, no dia seguinte as alegrias retornam. E as dores aos poucos vão passando. A mágoa, a tristeza não são a última palavra. Todos os dias encontro pessoas com feridas abertas devido a rancores de pai ou mãe. Gente que não foi amada na infância como queria ou devia. E que não conseguem seguir em frente. Acho triste. Sei que estas não são relações simples, e que perdoar algumas coisas é algo realmente muito difícil. Mas o que o orgulho das pessoas não permite que elas saibam, é que perdoar é libertador para quem perdoa, e não necessariamente para quem é perdoado. E que o perdão não é algo que se instala na base do mérito... é na base do amor. E quando conseguimos elaborar isso dentro de nós, o coração é leve, os olhos são brilhantes e a vida flui dentro de nós. Por isso, não tenho tempo a perder.
terça-feira, 30 de abril de 2013
Disputas Solitárias
Deve haver poucas coisas mais pobres do que uma disputa solitária. Normalmente, disputar significa você agir em contraponto com alguém. Competir por determinado objeto de desejo em face de outra ou outras pessoas, tão ou mais comprometidas que você. As disputas mais óbvias são as políticas, esportivas, profissionais.
No entanto, existem disputas solitárias... gente que compete por algo que não sabe direito o que é, com alguém que não está reciprocamente comprometido com a disputa. E esse comportamento é muito mais comum do que imaginamos. Pois refletem problemas emocionais de diversos tipos... e seus desdobramentos me parecem um tanto amargos.
Gente que compete sozinha geralmente disputa um "objeto" indisputável. Isso ocorre com pessoas que disputam atenção, sentimentos, ou mesmo a posse de outras pessoas. Elementos não disponíveis para serem conquistados de maneira tão pobre ou ainda irreais. Já que a posse de um outro ser humano é absolutamente inviável, por mais que as pessoas ajam contrariamente a isso.
Gente que compete sozinha, na verdade, compete com seu próprio fracasso. Pessoas que estabelecem vínculos baseados em concorrências irreais procuram fundamentalmente preencher outras lacunas que fogem a questão presente. Por exemplo, alguém que necessita disputar o amor de uma pessoa com outra, não está disputando exatamente esse amor. Mas sim, depositando neste fato uma série de expectativas anteriormente frustradas em outras ocasiões da vida. Pois, quem sabe quem é e se sente amado, não disputa o amor de ninguém.
Gente que compete sozinha cai no ridículo ou na infantilização. É tipico das crianças competir para se autoafirmar diante de um mundo que estão conhecendo. Uma menina pequena que disputa com sua mãe o amor do pai, um menino que procura ser o melhor aluno para competir com as outras crianças pelo amor da professora, ou mesmo uma criança que compara seu brinquedos para se sentir superior... tudo isso soa absolutamente normal. Mas no adulto, cuja elaboração deveria ser muito mais complexa, torna-se ridículo.
E por último, gente que compete sozinha perde a oportunidade de amar e ser amado. Pois ao invés de estabelecer vínculos em bases construtivas, o faz de forma destrutiva. Uma pessoa que vive competindo sozinha estabelece um mecanismo infantil de sempre tentar parecer melhor. E ao invés de abrir os olhos para admirar o que está à sua volta e absorver o que há de bom nos outros, se compara. Neste ponto abre mão de construir pontes e experimentar relações plenas de amor.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
A mediocridade de pseudos líderes políticos
Faz algum tempo que milito na política partidária, o que me permitiu observar os mais diversos comportamentos desenvolvidos pelos seres humanos neste âmbito. Já convivi com pessoas de exímio talento para atuar na área, outras com uma técnica apurada pelo tempo e esforços e com estes, aprendi muito. Contudo, venho observando um lado mais triste disso tudo.
Como em toda área de atuação, na política há pessoas que não possuem a menor afinidade com o que se propõe a fazer. Ultimamente tenho observado alguns medíocres que por sua vontade de ter poder, tentam ascender à política e acabam por transformar este ambiente num cenário ainda mais precário do que já é.
E a forma mais comum de equívocos que tenho observado se chama mediocridade. Minha formação marxista me ensinou que as relações sociais caminham num processo dialético cujos elementos são tese, antítese e síntese, que tendem, se houver energia aplicada nesta direção, à evolução. Este processo, se pensarmos que vivemos numa democracia e não em um momento cuja disputa do poder se dá literalmente nos campos de batalha, tem base nos diálogos e debates políticos. Contudo, o que venho observando é que alguns, devido a sua mente limitada, impedem justamente a ocorrência deste processo evolutivo.
Em alguns cenários políticos tenho visto gente desenvolver fobia para com debates e discussões. Pessoas com uma ausência tão grande de talento para a área (seja no âmbito do falar ou do calar e ouvir) que resolvem tacitamente proibir os debates para não enfrentarem possíveis opiniões divergentes. As motivações para este comportamento em minha opinião, são duas: a primeira já citada, a falta de talento ou apuração técnica para a área; a segunda e ainda mais grave, uma vaidade paupérrima e mal elaborada (o que logo leva o agente a queda, já que neste âmbito a vaidade é sim um dos elementos mais característicos, contudo, a vaidade pobre não é aceita).
Penso que o resultado disso é trágico. Quando um pseudo líder comete determinados atos de impedimento do debate, o resultado é a criação de uma cultura medíocre de "polianismo" reinante. Primeiro os não medíocres se afastam e depois, ficam neste determinado ambiente somente bajuladores do poder, que diante de qualquer ação do suposto líder, batem palmas e distribuem elogios.
O bom é que a história prova que esses cenários não duram para sempre. E que isso forma panelas de pressão, pois falsos líderes ou líderes medíocres colecionam forças de resistência à sua mediocridade, e não demora... as verdades vem à tona.
domingo, 14 de abril de 2013
Reinventar
Meu blog anda muito abandonado. Escrevo raramente, quando alguma coisa muito especial me vem. Esse abandono não é por acaso. Sempre considerei escrever como algo importante pra mim, no qual sempre tive alguns alívios. Por muito tempo, vir aqui e postar um texto, um poema ou uma imagem foi algo fundamental para minha saúde mental. Em alguns períodos escrevi diariamente por que sentia que isso era um desabafo importante para minha alma... um descarregar de impurezas. Uma vez no papel, meus fantasmas se iam.
Hoje, cada dia tenho escrito menos sobre minhas dores e confusões. Também metaforizado menos, já que os poemas estão ausentes de mim. Aí a pergunta: será que isso é porque tenho tido menos dores, menos dúvidas, menos sentimentos confusos sobre a vida e como me posicionar diante dela? Acho que não.
Penso que é exatamente o contrário. Continuo tendo momentos de tensão imensa, de angústias, de dores, de dúvidas, de paixão, de intensidade. No entanto, acho que a forma com que venho sentindo e vivendo tudo isso foi se tornando mais complexa, e outras válvulas de escape surgiram. Válvulas, acredito eu, muitas vezes mais serenas do que muitos textos que já postei.
Houve também uma mudança na vontade de expor meus sentimentos a um público... cada dia mais meus textos passaram a ser longas conversas com as pessoas que amo, o que em muito alivia a maior parte de minhas angústias.
Contudo, não quero perder o hábito de discutir idéias, de levantar questionamentos, de registrar pensamentos. Por isso, acho que preciso reinventar meus temas, minha forma de escrever, guardando essas novas reivindicações da minha alma. Vou tentar.
segunda-feira, 4 de março de 2013
CULPA
A culpa é um tema que costuma habitar minhas reflexões. Na verdade muitos comportamentos humanos giram em torno da culpa. Seja por tê-la, ou pela tentativa de gerá-la no coração alheio. Talvez a imensa maioria da pessoas já teve a oportunidade de estar em um ou outro pólo destas situações descritas. Seja se vitimizando para causar culpa no outro, seja se sentindo um grande vilão.
Até certo ponto, tais movimentos fazem parte do cotidiano da vida... pois o sentimento de remorso em níveis baixos, indica certo grau de sanidade e sensibilidade para com as dores do outro. O problema é que no geral, boa parte das relações estão sedimentadas nestas bases. Pessoas internalizam culpa por fazer coisas absolutamente saudáveis e libertadoras. Homens e mulheres se sentem culpados por por terem mais sucesso que seu cônjuge na vida profissional, por terem amizades com pessoas do sexo oposto, por desejaram uma vida social mais ampla do que a vida doméstica. Filhos se sentem culpados por não atenderem as expectativas desleais de seus pais, pais se sentem culpados pelos fracassos de seus filhos. Pessoas sentem culpa por destoarem dos modelos mais tradicionais de comportamento.
Penso que a culpa, da maneira com que nossa sociedade a impõe nas relações íntimas, é o instrumento mais opressivo que já fora inventado. A questão mais tratada nos consultório de psicólogos e psiquiatras é a culpa, e estes profissionais começam justamente pela tarefa de desconstruí-la e evidenciar para seus pacientes que seus comportamentos não são moralmente condenáveis. A culpa no geral é internalizada de maneira inconsciente pelas pessoas. E o indivíduo ao não conseguir lidar com esse sentimento, inicia um processo de sabotagem em diversas áreas de sua vida. Esse é o mecanismo que faz com que mulheres violentadas não queiram denunciar estupradores, por exemplo. Por que de alguma maneira acreditam que foram elas que provocaram a violência.
A culpa é capaz de destruir a sanidade de milhões de homens e mulheres, sem falar no papel que a religião cumpri para sedimentar esse sentimento na vida das pessoas. Acho que é necessário identificarmos como a culpa nos corrói por dentro e desconstruirmos os seus efeitos. Mas não é fácil... pois a culpa é um dos elementos mais perversos e acentuados de nossa cultura.
sábado, 2 de março de 2013
AMOR
Acredito que já amei algumas pessoas durante a minha vida. Já me apaixonei algumas vezes de maneira profunda e avassaladora. Já vivi muitos momentos felizes durante os relacionamentos que tive. Já senti profunda compatibilidade com almas alheias a minha, que tive a felicidade de encontrar em meu caminho. E por isso, sei que o mundo é grande e as pessoas são diversas... e gosto do fato de, nestes 27 anos que tenho de vida, ter podido conhecer um pouquinho do infinito particular de pessoas muito especiais deste meu universo.
Costumo ter uma memória muito boa sobre os bons momentos que guardo, com riquezas de detalhes e de sensações. Não carrego dentro de mim frustrações por ter deixado de viver o que desejei, porque vivi. E exatamente por isso, por ter uma dimensão grande daquilo que já senti e vivenciei. Sei... o que sinto hoje, o amor que tenho por quem está comigo hoje, não tem precedentes dentro de mim.
Na verdade, não sei explicar o porque disso. As qualidades do homem que amo e a compatibilidade de nossos corpos e de pensamentos entre nós são fundamentais para a manutenção do nosso relacionamento, mas esta não é a razão do meu amor. Descobrimos nossas semelhanças e a beleza de muitas de nossas diferenças posteriormente ao momento que tivemos clareza de que nos amávamos.
Portanto, não entendo a razão, e nem preciso. Posso dizer apenas o que este sentimento faz comigo. Faz surgir o melhor de mim. Modifica alguma parte da minha alma sem usurpá-la. Faz nascer sonhos que concretamente, nunca foram pauta em minha vida. Faz com que eu queira tudo que sempre quis sozinha, agora, acompanhada.
Este amor traz ao meu coração um sentido de simplicidade diferente do que havia antes. Agrega em mim valores que pareciam banais, mas que hoje me parecem lindos. Tenho um profundo desejo pela constante vivência das trivialidades da vida ao lado dele. Sorrio sozinha com minhas memórias recentes de seu jeito, fala, olhares, cheiros, silêncios, beijos. E sonho acordada com o cumprimento mais simplista das etapas da vida ao lado dele. Chegando ao ponto de sonhar que em um futuro próximo, os nossos traços possam estar misturados num terceiro rosto, resultante desse amor.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Crente
Há um tempo atrás ser crente era motivo de bulling. Essa turma era considerada muito careta, com padrões morais os mais rígidos possíveis. Mas isso vem mudando muito. Primeiro mudaram o termo, crentes passaram a ser chamados de evangélicos e com a chegada das igrejas neopentecostais, houve uma popularização total dessa religião.
Uma religiosidade que antes era baseada numa vivência espiritual mais profunda e constante, que marcava a identidade das pessoas fortemente, um modo de vida... que nem sempre ou quase nunca era confortável. Hoje em dia, com a disseminação da teologia da prosperidade, as igrejas evangélicas atraem milhões de fiéis e penso que logo logo essa será a religião oficial da classe C e D. Não é mais motivo de bulling ser evangélico nas camadas populares, ao contrário, mesmo quem pratica outra religião, passou a dar alguma moral para a igrejinha evangélica na esquina de casa, que antigamente era um gueto de senhoras muito reprimidas que usavam saias cumpridas e cabelos sem corte.
Acho tudo isso muito estranho. Sou crente, de uma denominação não fundamentalista e não pentecostal, de linha calvinista, que está muito distante da teologia da prosperidade. Na verdade, acho que de maneira até anacrônica, meu modo de pensar está muito mais próximo é da teologia da libertação. E na minha infância, na escola, ser crente, era ser minoria. E nunca imaginei que eu iria viver pra ver essa proliferação de evangélicos. Aposto que nas escolas públicas de hoje as crianças crentes devem se sentir maioria.
Contudo, acho que essa popularização da religião protestante não se deu de maneira muito saudável... inúmeras vezes observo coisas absurdas quando passo pelos programas evangélicos na TV. Fico chocada com as interpretações bíblicas que em minha visão são extremamente equivocadas e simplórias e com a maneira fisiológica com que se lida com a crença. Transformando algo que anteriormente tinha como base relacionamento, entendimento do significado do amor incondicional de Deus a partir da compreensão de uma metáfora profunda representada pelo sacrifício da Cruz, libertação de qualquer processo de culpa, devido ao fato de o sacrifício já ter sido realizado por Cristo e vivência constante, em ritual simplório de troca, culpa e sacrifício humano. Acho que se eu tivesse um humor um pouquinho mais ácido, me ofenderia com o modo que esses pastores muito loucos ignoram a Palavra.
Isso é um lado da moeda... mas de outro, acho que essa releitura do protestantismo cabe como uma luva no Brasil de hoje. E de uma maneira peculiar, acaba por ajudar as pessoas. Ouço histórias de gente que realmente conseguiu organizar a vida a partir da teologia da prosperidade. Pois estava num estado de calamidade tamanha, que só o fato de ter uma religião para seguir, ajudou. Muitas vezes a religião funciona como uma teoria de organização da vida. Que neste caso, é muito pouco complexa, claro, mas num país no qual a grande maioria das pessoas é muito pouco complexa, principalmente em se tratando da área espiritual, essa filosofia tende a funcionar.
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