Como em uma história
de novela, Carla, parecia ser a mocinha. Uma jovem mulher trabalhadora,
lutadora. Mãe de dois filhos, casada, emprego fixo. Mania de
limpeza, sua casa era um brinco. Sua imagem também, impecável,
unhas feitas por ela mesma, mas bem feitas. Maquiagem leve, luzes no
cabelo castanho.
Carla trabalhava como
costureira em uma fábrica, ganhava pouco, mas com o seu salário e o
do marido, tinham uma vida digna, capaz de suprir as necessidades
daquela família. A empresa em que exercia sua função, no geral era
um bom local de trabalho. Um ambiente saudável, relativamente leve.
E Carla era uma funcionaria de confiança, alguém reconhecidamente
de bom caráter, por isso tinha grandes perspectivas de crescer na
empresa.
Porém, nas últimas
semanas, Carla percebera algo um pouco estranho, a empresa que
confeccionava bonés e camisetas promocionais para festas, eventos,
etc., tinha agora um novo desafio produtivo. Fabricaria grandes
marcas.
Carla achou um pouco
estranho que a pequena fábrica em que trabalhava, numa cidade do interior, pudesse começar a
fabricar marcas tão relevantes. O alerta de sua intuição ligou.
Mas ela seguiu em frente, afinal era apenas uma funcionária. E
depois, certo ou errado, isso era comum, normal. Quantas vezes
comprara um DVD na banca da rua de um filme que ainda estava em cartaz no cinema, quantas vezes fora a 25 de março em
São Paulo comprar uma besteira ou outra.
Contudo, por mais
normal que tudo parecesse, não era lícito. E em uma manhã de
quarta-feira, isso tudo ficou claro. A polícia entrou. Os donos não
estavam lá. E na ausência deles, Carla apresentou-se como
responsável pelo local. Ela, uma mulher simples e de bem. Não tinha
medo, porque achava que não devia nada, apenas cumpria sua função.
Mas as provas do crime
de falsificação, estavam lá. Um flagrante delito. E Carla, que
sempre assistia na televisão casos extremos, agora era protagonista,
na vida real, de uma história triste. Estava presa. E também
desesperada. Não acreditava que aquilo pudesse acontecer com alguém
como ela, muito menos com ela.
Um dia inteiro de
tensão, na véspera de um feriado, se as coisas não melhorassem
naquele mesmo dia, tudo se prorrogaria ao menos por quatro dias,
quatro eternos dias, e o pior, quatro noites, num ambiente que jamais
imaginou estar, que jamais desejou estar.
Não conseguia comer,
não conseguia pensar. O advogado que a empresa mandara não lhe
inspirava confiança. Perguntava-se até onde aquela terrível
circunstancia iria. Sentia muita dor. Sentia raiva, vergonha, culpa,
humilhação. Só pensava em ir embora, em seus filhos, nas pessoas
que amava. O que elas pensariam? Como ela andaria novamente de cabeça
erguida?
Ao fim do dia, quando o
Sol já estava indo embora, pode finalmente respirar. O juiz havia
expedido seu alvará de soltura, responderia por aquele fato ilícito
em sua casa, poderia provar que não estava envolvida, que só
cumprira ordens.
Um trauma. Mas também
uma lição. Não pode haver naturalização do crime. Basta ser pego
uma única vez para que as coisas se compliquem. E mesmo que você
não o cometa, fechar os olhos é compactuar com ele. Carla nunca
mais seria a mesma depois deste fato. Aprendera que tudo na vida
passa por escolhas. E que ficar calado, as vezes, pode ser a pior de
todas elas.
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