quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Intervalo


Ando refletindo muito sobre a saudade. Talvez porque este sentimento esteja presente em minha vida agora. Dias atrás andei olhando fotografias não muito recentes sentindo falta de momentos que já foram. Acho que isso não é bom... porque não é saudade, é o tal do saudosismo... saudosismo é idealização de algo que já se foi. Não vai voltar, então a gente eterniza na memória (ou na fotografia), corta qualquer coisa ruim da lembrança referente ao objeto da falta e guarda, achando que o passado era melhor que o presente. Saudade não é isso. Saudade é um desejo realizável... dialoga com o passado que foi bom e com o futuro cheio de esperança... saudade é quando o presente é um vácuo afetivo... então a gente vai sentindo falta, mas também vai nutrindo esperança quanto ao reencontro... vai amando mais e mais, mesmo em condições adversas. As vezes sou saudosista porque isso é a cara da minha personalidade. Sou capaz de passar horas vendo fotos antigas... flertando com a melancolia, chorando a falta do que não volta mais na caverna da minha solidão. Sinto um prazer estranho nestas coisas. Mas hoje, neste exato instante, não é saudosismo que sinto. É pura saudade... profunda, verdadeira. Porque sinto falta de algo real, bonito, existente, e ao que me parece, recíproco. Belos momentos de um passado recente, dialogando com a esperança, a felicidade de um futuro próximo. Saudade do tipo que se tivesse um pouquinho mais de poder, me teletransportaria. Uma saudade que foi mudando de formato nestes mais ou menos trinta dias (nunca acerto essas contagens). No início alimentava, chegava até a envaidecer... porque me visitava em graus leves, poéticos e sutis. Mas foi dando lugar a uma dor, um incômodo que não dá para ignorar, um sentimento que não deixou de ser poético, porque mesmo doendo, gosto de ter, mas deixou de ser sutil. Contudo, não há muito o que possa ser feito neste exato momento, além de ordenar ao coração que se acalme, e escrever. Enquanto isso, permanecem as boas lembranças, lembranças estas que quase posso tocar, vivas aqui dentro. E permanece a esperança, a certeza de que mesmo doendo, o tempo há de passar. E falando de sentimento... permanece a espera do momento em que o presente não será um intervalo... e sim, sua presença em mim.

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