quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Estranhas palavras


As palavras nada mais eram do que um espelho pobre de alguma alma estranha que a habitava. Escrevia quase como um padre sem preparo tentando exorcizar espíritos imundos... sentia medo do resultado, sentia um pavor imenso do momento em que ao acabar seu texto, teria que relê-lo... do momento de olhar o mal nos olhos. Mas ainda assim continuava a expor palavras, a completar estranhas frases que saiam de dentro dela quase involuntariamente, como numa espécie de transe. Seu único desejo é que aquele peso estranho fosse embora. Sensações corporais se confundiam com reflexões metafísicas... dores. Reflexões que doíam,  corpo que chorava, sangrava. Pesos de conteúdo desconhecido... misturado com sentimentos que comumente deveriam ser bons, esplêndidos... mas não eram, ou não estavam. Qual a razão para tais manifestações? Não havia, pelo menos não ao alcance de seus olhos... seus olhos doíam, pesavam, viam e não enxergavam. Lembrava-se de um livro que lera há muito que dizia para se tomar cuidado com as metáforas... que o amor poderia nascer de uma única metáfora. Sempre que as usava guardava um certo temor, talvez porque as palavras do querido escritor um dia foram cravadas em sua alma. Temia ter pensado em sua angústia como espíritos imundos. Tinha medo de acordá-los, medo que eles nascessem de sua metáfora... tinha medo. Medo do dia seguinte, medo de sentir medo... medo de transformar tristezas efêmeras em patologias. Medo que o medo as transformasse. Afastava. Rejeitava pensamentos e sentimentos que não pareciam ser seus. Mas quem era para poder saber ao certo o que era seu? Quem era ela? Seria capaz de responder esta pergunta? Sentia que as vezes era. As vezes era tudo, as vezes era nada. Em momentos era o centro, em outros apenas não existia. Porém, ao confessar-se, ao escrever tudo que lhe vinha... continuava sem entender a razão de suas palavras, da tradução de suas angústias... mas ao contrário do que pensava... fez com que seus demônios dormissem ou fossem habitar outras almas... porque ao escrever, eles já não eram mais dela... mas talvez dos que lessem as suas estranhas palavras. E apesar de se sentir despreparada... exorcizara. 

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