quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Morre lentamente


"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem 
não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu 
amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma 
em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não 
muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem 
não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre 
lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os 
pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as 
que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços 
e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, 
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se 
permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre 
lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva 
incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, 
não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe 
indagam sobre algo que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando 
sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de 
respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio 
esplêndido de felicidade."
Pablo Neruda

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