Ficar doente deixa a gente cheio de reflexões que se diferenciam das triviais. Por que de certa maneira inverte as nossas prioridades e provoca uma desestabilização nas zonas de conforto que estamos acostumados (até porque, muitas vezes, doentes, isso acaba sendo literal pois não há posição confortável). Com a saúde em pleno vigor esquecemos de boa parte da nossa fragilidade e finitude. Aquela sensação falsa e conhecida de que somos eternos. A questão é que quando estamos com saúde e temos juventude, as desperdiçamos com bobagens, já que sentimos ter todo o tempo do mundo e energia para gastar. E não os jogamos fora somente em coisas egoístas e para o nosso próprio bem, com elementos fúteis.
Em vários momentos, desperdiçamos energia preciosa e tempo em questões que nos incomodam muito, nos fazem mal e diminuem nossa auto-estima, acreditando que isso nos levará a algum lugar maravilhoso como prêmio de consolação por tanto sofrimento. O problema é que este pensamento é uma crença totalmente irracional. Primeiro porque ele é baseado numa moral cristã das mais pobres que existem: a cultura da culpa ou da troca (que na minha opinião não tem nada a ver com a moral cristã verdadeira que é baseada na graça que pouca gente conseguiu entender até hoje). Segundo, que este lugar maravilhoso não existe necessariamente, é abstrato e a vida não é linear... resumindo, muitos sofrimentos e gastos de energias com coisas ruins podem não nos levar a lugar algum e não nos reservar nenhum pagamento.
Estes gastos de tempo e energia podem ser com muitas coisas: pessoas, tarefas, culpas, passados, pensamentos, medos e por aí vai... poderia fazer aqui uma lista infinita de cenas, objetos, situações ou seres que não merecem a atenção que temos dado. E que quanto mais insistirmos neles, mais seremos fortes candidatos a velhos cantando a musiquinha dos Titãs... "devia ter amado mais (...) e ter me preocupado menos com problemas pequenos..."
Minha gripe, só uma gripe, mas forte o bastante para me causar algum sofrimento e muitos pensamentos, me fez refletir sobre como volta e meia me equivoco em relação ao que dou prioridade na vida. Não quero ficar gripada nunca mais. Mas estas reflexões, podem ficar, são bem-vindas.
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