terça-feira, 19 de junho de 2012

Atraso



É curioso como algumas pessoas chegam atrasadas. Sempre detestei atrasos, literalmente. Tive um namorado na adolescência que conseguia a façanha de se atrasar durante mais de duas horas para sairmos. Depois melhorei, tive outro que se atrasava de meia a uma hora. Sempre me irritei muito com isso. Parecia-me surreal marcar com alguém numa cidade do tamanho de Maringá e a pessoa conseguir se atrasar. Não há desculpas plausíveis... na época e nos horários marcados não havia trânsito denso na cidade. A impressão que me dava era que isso soava desrespeitoso. Mas com o tempo acabei sendo mais tolerante com essa de horários para preservar a mim mesma e não me irritar. E então desisti de fazer qualquer debate referente a atrasos, passei a criar outros mecanismos, pensar compromissos que não importassem o fato de estarmos sempre atrasados e comecei a me aprontar na última hora. Contudo isso era sempre uma agressão a minha natureza. Porque eu gostava mesmo era da pontualidade. 
No entanto, nos meus relacionamentos passados, nos dois primeiros, oficiais e longos, um mais e outro menos, respectivamente, o atraso literal era um problema. Um lance que incomodava. Que me causava um certo desconforto. Mas não fossem outras coisas, como por exemplo o transtorno bipolar de um mal diagnosticado na época e ausência de subjetividade de outro, eu dificilmente os teria deixado por causa de seus atrasos literais. Estaria até hoje, possivelmente perdendo uma ou duas horas em todos os meus finais de semana, super arrumada a espera de algum sem noção com crises de adolescência mal resolvidas. Mas ainda assim não seria grave.
Grave mesmo foram outros tipos de atrasos que pessoas conseguiram realizar na vida. Sempre procurei acreditar no amor, e apesar de ser jovem, penso que amei verdadeiramente algumas pessoas que passaram por aqui. Entre elas... amei uma de um jeito muito especial. Mas ele se atrasou, muito. Diferente dos outros, que se atrasavam todos os dias uma ou duas horas, este se atrasou anos da vida, tardou tanto, que falhou, perdeu o time, o bonde da história. Subestimou a vida e sua capacidade de se reinventar e proporcionar novas coisas na mesma intensidade. 
Este é um atraso que não posso tolerar... mas muito pior que isso. Este é um atraso que não desejo, não quero, não tenho motivação alguma para tolerar. Não é orgulho, não é birra. Não resta em meu coração nenhum batimento mais forte ao saber que o atraso findou-se. Apenas durou tanto, que há algum tempo deixou de fazer sentido. Todos os sonhos que um dia tive ao lado de quem nunca veio, já se foram, não existem mais. 
Tem até uma fábula do menino pobre e a princesa (acho que é alguma coisa assim): o menino apaixonou-se pela princesa e queria casar com ela, mas como ele era pobre as coisas não eram tão simples. Então ao se declarar pra ela, a princesa o propôs um trato... se o menino ficasse por 365 dias em sua janela, vivendo ao relento e comendo somente o que ela oferecesse, então ela se casaria com ele. O rapaz topou... ficou dia e noite a espera de sua amada. Passaram-se as várias estações, ele sentiu calor extremo e frio severo, tudo em nome do amor. Mas quando completaram-se 364 dias o rapaz se levantou e foi embora. Moral da história, o amor não era aquilo, não poderia ser unilateral e ele queria mais da vida... e já não havia mais sentido naquela espera.
É isso, os meus 364 dias já se foram há muito tempo, a princesa deixou de ter brilho e eu me fui de sua janela não é de hoje, e tanto esforço só valeu a pena porque é sempre um aprendizado e a gente cresce ao quebrar ilusões. Foi tanto atraso, que eu parti sozinha para um mundo que eu não queria seguir sem aquela companhia. Mas fui... e no caminho... ah no caminho... descobri que há coisas muito melhores do que os contos de fadas que ele me contava. Hoje a minha resposta é simplesmente não. O mais engraçado é que ele era literalmente pontual, nunca se atrasou para nenhum compromisso que marcamos. Só na vida.

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