Era uma permanente tentativa de segurar alguma quantidade de água nas mãos e dar passos rápidos. Simplesmente escorria, não importava o quanto se concentrasse na missão. Isso porque talvez tivesse escolhido o recipiente errado, ou a maneira errada de fazer as coisas? Talvez devesse beber a água da fonte e seguir em frente... não carregá-la para necessidades futuras...? Mas seu medo do que poderia acontecer no deserto que atravessava a fazia tentar buscar garantias, mas não havia. Não havia, não por uma circunstância na qual a vida lhe desfavorecera, não havia porque não haveria para ninguém tais garantias, essa era a regra da vida. Seria preciso procurar, entender melhor os caminhos que saciariam sua sede. Dentro dela pulsava a intuição de que numa caverna escondida havia uma fonte infinita de água limpa, uma fonte que a acompanharia para todo sempre quando desvendasse os caminhos até lá. Mas que caminhos eram esses? Já tinha percorrido infinitos quilômetros em seu deserto... Mas intuía que caso o achasse, não precisaria carregar nunca mais aquelas pequenas quantidades de água que escorriam por entre suas mãos que tomavam toda a sua energia... o que fizera tantas vezes na vida, um caminho pobre que conhecia. As vezes pensava o quanto estava distante dessa fonte... mas ao contrário, a fonte, na verdade sempre esteve com ela... do outro lado do pequeno espelho que sempre carregara consigo naquela longa travessia. Mas para atravessá-lo seria preciso transcender, expandir seu olhar para além do óbvio, para além de um reflexo simples de si mesma, teria de alcançar novas formas de abstração, mais complexas, acreditar num oásis enquanto atravessava um deserto que lhe parecia infinito, deveria inverter a lógica, seria necessário crer no aparentemente impossível.
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