O Brasil chegou
longe, se tornou uma das maiores economias do mundo, fortaleceu sua
democracia, lutou contra a ditadura militar que amordaçava e
torturava aqueles que tinham sede de liberdade. Artistas,
militantes, cristãos, camponeses, estudantes levantaram-se para
lutar por aquilo que conquistamos hoje, um Brasil diferente, com
oportunidades, com menos discrepâncias sociais, com uma democracia.
Tantos debates políticos foram feitos, elaboramos uma Constituição
cidadã, discutimos projetos de país, a importância dos programas
de governos, formulamos leis de responsabilidade fiscal, incluímos
a alimentação como um direito social garantido pela Constituição,
e retiramos o Brasil da lista da ONU de países que tem fome.
Aprovamos estatutos para garantir os direitos de crianças e
adolescentes, o direito de idosos, leis para proteger as mulheres da
violência doméstica, construímos universidades como há tanto
tempo não se fazia e escolas técnicas em todo canto do país.
Avançamos muito no debate de idéias que colocaram o ser humano
como centro, fortalecendo assim um Estado Democrático Social de
Direito, um Estado laico, que não vise apenas garantir a igualdade,
mas que respeite as diferenças. Enfim, o tempo correu desde a idade
média, quando Igreja e Estado eram conceitos quase sinônimos, o
mundo evoluiu, e aqueles que desejam exercer sua fé independente do
que pensa a maioria, possuem seus direitos garantidos mesmo assim. A
aprovação da lei do divórcio no Brasil foi um ponto muito
debatido, pois a igreja Cristã era contra que o Estado acompanhasse
aquilo que já ocorria na prática, pessoas se casavam e se
separavam, e casavam-se novamente na prática, mas não tinham como
regularizar sua situação judicialmente, pois o Estado não
permitia o divórcio, e quem mais sofria com isso, sem dúvida eram
as mulheres que se tornavam estigmatizadas e eram discriminadas
devido a sua condição de “separada”. No entanto, com a
aprovação da lei do divórcio, aqueles que acreditavam, devido a
sua fé, que o casamento deveria ser um sacramento e em hipótese
alguma deveria ser desfeito, estes continuaram casados, independente
de o Estado permitir ou não a dissolução do casamento. Porém,
muitos que viviam infelizes, cheios de culpa, puderam regularizar
sua situação perante a lei, pedindo divórcio e casando-se
novamente. Por isso, percebemos que Estado avançou, cada vez mais
pôde respeitar as diferentes faces dos seus cidadãos,
personalidades, gostos, convicções e posturas.
Diante de tudo
isso, me indigna muito o que ocorre no Brasil, tenho visto em redes
sociais pessoas dizendo que cristão deve votar em candidato
cristão. Pessoas que ao invés de trazerem a tona o investimento no
ser humano como centro de seu debate, projetos políticos, políticas
públicas, reformas, investimentos, saúde, educação, segurança,
alimentação, ciência e tecnologia, comunicação, inclusão
digital, não, trazem para o centro do debate os moralismos, as
intolerâncias, as picuinhas, as invejas, as hipocrisias, os
fundamentalismos. Admira-me muito e negativamente, cristãos que
torcem para que Estado e a religião voltem a ser uma única coisa.
Que tentam impor a todos aquilo que é motivação de fé, que ao
invés de terem a tolerância e o amor como centro de suas vidas,
montam uma seqüência de regras religiosas a serem seguidas
absolutamente cheias de rituais e vazias de sentido. A história
prova que o Estado religioso cristão na idade média foi algo
desastroso. O tribunal da Inquisição instituído principalmente na
Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII, afirmam alguns historiadores,
chegaram a matar mais de nove milhões de pessoas. A principal prova
usada nos processos judiciais da Inquisição era confissão e
obviamente que tais confissões eram obtidas através dos mais
diversos tipos de tortura (cenário parecido, diga-se de passagem,
com a ditadura militar enfrenta pela nossa presidenta em sua
juventude). O ápice da confusão entre Estado e religião foi o
período Inquisitorial e foi algo absolutamente desastroso, pois com
o avanço do fundamentalismo, qualquer ação que contrariasse
aqueles que estavam no poder era considerado heresia e deveria ser
gravemente punido.
Então, diante
disso, me assusta que cristãos, depois de verem o caos que fora a
Igreja no domínio do poder, depois de presenciarem tantos avanços
promovidos por um Estado laico, possam querer que suas regras sejam
as regras gerais. Fato absurdo diante da fé cristã genuína. Pois,
a Bíblia diz que Deus é amor, portanto o cristianismo praticado
deveria ser justamente isso, atos de amor. E sinceramente, quando a
igreja defende que milhares de mulheres continuem morrendo ao
praticarem abortos clandestinos, sem assistência médica alguma, e
ainda sentirem-se criminosas diante de um ordenamento jurídico
completamente ultrapassado, não creio que isso seja um ato de amor.
Todos nós conhecemos ou acompanhamos alguém que já tenha feito um
aborto na vida, um processo marcado por sangue, lágrimas, baixa
auto-estima, marcado pela dor, mulheres que se viram incapazes de
levar em frente uma gravidez, muitas vezes por falta de condições
financeiras, mas quase sempre pelo moralismo imposto pela sociedade.
Muitas vezes, pais cristãos que são tão moralistas com seu código
de conduta contra uma gravidez fora do casamento, é que levam suas
filhas a opção de abortar por medo de serem julgadas por eles, é
o moralismo que, no geral, cria o ato de abortar. Este código de
ética pseudo-cristão não é um ato de amor! E muito menos querer
que o Estado acompanhe tal comportamento é uma atitude que exalte a
vida. Outra questão muito discutida pelos
fundamentalistas/neopentecostais nestas eleições é a questão do
homossexual. A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo
passa pelo reconhecimento do Estado quanto aquilo que já existia na
prática. Dentro de uma união gay, se um dos dois morre, tudo que
eles construíram juntos o outro não herdava, pois esta união não
era reconhecida pelo Estado para efeitos de direito civil. O fato de
lutarmos para o Estado descriminalizar o aborto e a legalização já
feita do casamento homossexual não significa que haverá uma
fábrica de gays e garotas na fila para fazer aborto. Meninos e
meninas cristãs poderão continuar casando-se da maneira que
quiserem dentro de suas igrejas, um de terno a outra de vestido
branco, as famílias poderão continuar comemorando o nascimento de
seus filhos e filhas na vigência do casamento heterossexual. A
permissão de algo pela lei, não significa a imposição, quando
aprovaram o divórcio como direito, não impuseram a ninguém a
obrigação de se divorciar, assim como a legalização do aborto
não condena ninguém a abortar ou a legalização do casamento
homossexual não transforma ninguém em gay. Mas, à medida que o
Estado avança em sua condição laica, que passa a cada dia mais
ter a tolerância e o respeito às diferenças como centro de sua
ação e debate, aí sim, passa a ser cada dia mais cristão,
cristão no seu melhor sentido, cristão porque cumprirá então os
ensinamentos de Cristo que nos ensina a tolerância e nos diz que
devemos amar uns aos outros.
Por isso, para que
o Estado brasileiro continue seguindo em frente, avançando em sua
condição laica, continue tendo como prioridade máxima o respeito
a vida humana de maneira integral, vote naquela que já provou
respeitar o Estado laico e diversidade de pensamentos e crenças dos
brasileiros e brasileiras, vote em quem ao invés de se preocupar em
sustentar suas teses fundamentalistas, preocupou-se com a saúde do
povo e trouxe médicos para os lugares mais improváveis. Vote nesta
mulher de coração valente que tem enfrentado os problemas do
Brasil de cara limpa e combatido a corrupção sem ter medo de nada.
Vote em quem amo o Brasil e sua juventude, proporcionando
oportunidades de emprego e profissionalização a jovens que antes
não tinham perspectivas. Nesta eleição defenda propostas, discuta
idéias, eleve o debate político ao lugar em que ele deve estar,
apresente propostas que incrementem as políticas públicas para o
Brasil. Abra mão do seu mimimi pseudo-cristão, abra seus olhos
para o que Deus e aqueles que o servem verdadeiramente, na prática,,
tem feito por esta Nação. Combatendo a fome, como Cristo nos
ordenou. Respeite o Estado laico para que possamos exercer a nossa
fé com liberdade, e sermos usamos pelo Espirito Santo de Deus,
segundo a Sua vontade, para levarmos o evangelho do amor a frente.
Não se engane com os falsos discursos. Não sejamos fariseus.
Votemos em DILMA para presidente, para seguirmos em frente.
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