Assim, algo o impediu de amá-la, não que por ela amor não tivesse,
seu dolorido empecilho residia em outra gaveta de sua alma,
ele fora incapaz de crer em si mesmo,
e em conseqüência, fora incapaz de crer nela,
não porque para ele, ela parecesse realmente mentirosa ou algo assim,
desconfiava dela no momento em que desconfiara da sua própria autenticidade.
Ele era assim, demasiadamente montado, como um teatro para receber seu público, porém ao se esvaziar, logo se desmonta e volta a ser galpão vazio,
ainda que com certo glamour, mas vazio,
cheio de poeira, de silêncio, de ausência...
e assim era, gostava de seus cenários e sentia-se convincente quando preparado para espetáculos,
porém, o que lhe intrigava era que ela já havia ultrapassado seu pequeno palco
e já começara a perceber seu vazio, sua poeira,
então aí se alojara sua desconfiança,
como ela poderia amá-lo sendo ele tão ilegítimo quanto aquilo que apresentara ser?
Sendo assim, a saída que pode enxergar, concluir,
foi que o amor dela só poderia ser falso,
e que aquela dissimulação discreta presente naqueles belos olhos,
aqueles ares de menina leviana tinham mais raízes do que pudera antes imaginar....
e foi assim que seu pavor de ser enganado,
seu pavor de ser vítima de um veneno encoberto de doçura,
da mulher que desejara com tudo quanto podia desejar,
se fez verdade, mas não como pensava,
fora vítima de seu próprio veneno, o veneno de seu ciúme,
de sua falta de amor por si...
pois ao desconfiar dela, a agredia,
e não pode amá-la pelo medo de não ser amado por ela....
sua frieza, seu desdém a jogou para longe e tornou seus pesadelos em verdades,
ainda que antes não tivessem sido.
Sua falta de si mesmo,
sua exacerbada desconfiança sobre aquilo que realmente era, a mataram,
para que então o sofrimento temido não fosse mais caracterizado pelo medo,
deixasse de ser temor e passasse a ser apenas sofrimento
e a ausência que ele achava tão presente em si,
o vazio que desconfiava ser, agora era, era vazio pleno, era ausência dela!
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