segunda-feira, 30 de julho de 2012

Manuela


Eu a conheci num curso de formação da UJS em Itapicirica da Serra, onde, por acaso, dividimos um quarto coletivo com mais trocentas pessoas. Nesses cursos a gente ficava internado durante quase dez dias em um lugar longe de tudo e comendo uma comida mais ou menos. Longe de tudo mesmo, inclusive longe de lugares que vendessem chocolate. Então, juntamos uma turma de meninas viciadas em chocolate (naquela época eu era, pois ainda não tinha trabalhado com a produção de bombons, que me fez enjoar do bendito), e encomendamos leite condensado e chocolate em pó para fazer brigadeiro. Então descobri que pra gaúcho, brigadeiro se chama negrinho. 
Foi divertido... na turma ela já era o que podemos chamar de celebridade local... pois com vinte pouquíssimos anos, tinha sido eleita vereadora, em um partido cujas dificuldades estruturais e financeiras sempre foram imensas, e já como legisladora municipal, fez diferença, instituindo algo simples, chamado mandato itinerante, correndo os bairros e baseando seu mandato no diálogo com as pessoas. 
Ela era celebridade no nosso meio não só pelo mandato eletivo, coisa rara para a juventude. Mas também porque sempre teve algo de muito especial. Uma energia, uma alegria, um sorriso sincero que contagiava todo mundo... e uma serenidade que só existe em pessoas humildes e satisfeitas de serem quem são. Provavelmente, ela nem se lembra do "negrinho"que a turma de meninas comeu na panela apavoradamente. Mas eu nunca pude esquecer. Porque desde lá, mesmo depois que saí do PCdoB e me tornei Petista, acompanhei seus passos na política com a mais profunda admiração. 
Vibrei quando dois anos depois de ela se eleger vereadora, se tornou Deputada Federal. E não me esqueço da chamada dos últimos dias de campanha "Manuela rumo aos cem mil", porque precisava de mais ou menos isso para se eleger. E quase que por ironia feliz fez em torno de 300 mil. Meu coração vibrou.
Logo depois, em 2008 concorreu para a prefeitura de Porto Alegre, ficou em terceiro lugar. Me  entristeci... queria tê-la visto prefeita desde lá. Mas, ainda assim, ela poderia ter sido só uma onda passageira, como tantos outros jovens que se elegeram em determinado período histórico favorável e não foram capazes de permanecer por falta de preparo. Poderia em 2010 ter sido esquecida. Mas não foi. Novamente se elegeu, e desta vez, com mais de meio milhão de votos, sendo a mulher mais bem votada do Brasil para Deputada Federal, com apenas 28 anos. Senti orgulho. Não simplesmente porque um dia a conheci e me simpatizei... porque a eleição dela representa muito, representa a esperança... nos diz que é possível fazer política de um jeito diferente, dialogando com a sociedade, enchendo os corações das pessoas com coisas novas, novos ares. Quebrando a lógica de que é preciso ter muita experiência e estrutura para fazer o que precisa ser feito... mostrando que a coragem de sonhar e transformar a realidade pode fazer a diferença. 
Caso eu morasse em Porto Alegre, não votaria nela... por sou de outro partido que também tem candidato a prefeito em Porto Alegre... e ser fiel ao meu partido é fundamental para mim, porque estar num coletivo e construir com ele faz parte das minhas convicções e da minha identidade. Mas sei que se eu morasse em Poa, meu coração sangraria por ter que fazer essa opção, não por ele, o candidato do PT, que é alguém competente e também digno de ser prefeito da capital gaúcha, mas por ela. Porque o desejo do meu coração é livre, não pode ser negado e torcer eu posso... posso gostar de ver uma mulher jovem, de esquerda transformando o mundo dela num lugar melhor... torço por essa menina... e se pudesse estaria com ela. Força Manuela!!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Gabriela


Não assisti a primeira versão de Gabriela e nem li o romance de Jorge Amado. Tudo que sei da série antiga devo ter visto no Vídeo Show. Portanto, esse lance que todo mundo fica fazendo de comparar uma coisa com a outra, não posso fazer, e nem quero... além de achar meio pedante. Gosto da única versão que estou tendo acesso... acho as imagens lindas, gosto das roupas e das reflexões dos personagens... talvez a primeira novela, protagonizada por Sônia Braga tenha sido melhor... contudo, detesto comparações de coisas incomparáveis... outros tempos, outra forma de ver o mundo e de interpretar uma obra. Pode ser ignorância minha, talvez a comparação seja justamente o mecanismo para ampliar nossos horizontes... mas nesse caso, minha ignorância é preciosa e implica na mais ampla felicidade... assistir novela e relaxar.
E confesso que tenho gostado especialmente das reflexões de Gabriela quanto ao fato de gostar. O turco com o qual ela tem um rolo resolveu que quer casar. E Gabriela na sua simples sabedoria sabe que naquela sociedade o casamento só serve para que ela se transforme em posse de Nassib. E toda vez que vem à tona esse assunto, Gabriela diz que gostar é simples e não tem nada a ver com casamento. Aí o homem apaixonado argumenta..." eu te darei o meu nome", Gabriela pergunta, "faço o que com seu nome, seu Nassib?"... ele responde algo mais ou menos assim "assina meu nome e será uma senhora de respeito na sociedade...", e Gabriela retruca " e para que serve ser uma senhora de respeito na sociedade?" ele fica sem resposta. 
Estou lendo o último livrinho de Rubem Alves que não lembro o nome, mas é alguma coisa relacionado a pimenta, e numa de suas crônicas ele fala sobre os gatos... que os gatos são seres inteiros e que não tem grandes carências de nada, por isso são tão auto-suficientes, sabem o que são... não tem vazios. E vendo Gabriela falar que gostar é simples e não tem nada a ver com as convenções sociais... tive a mesma impressão da personagem... um ser inteiro, sem vazio, que ama ser quem é.
Fiquei pensando que as vezes não ter nada é a mais plena liberdade... porque quem não tem nada, também não tem nada a perder e isso pode ser um estado de alegria. Não ter nada e não ficar buscando ser melhor, não ter em mente que a vida é um processo de acúmulo constante, deve ser bom, deve dar uma sensação de plenitude. Simplesmente ser. Quanto tiver fome comer, quando tiver curiosidade, olhar, quanto tiver desejo, transar... quando gostar, gostar. Sem complicações. Há quem possa dizer que isso é pobreza de espírito e animalização do ser humano. Há quem possa afirmar que isso é a máxima elevação de espírito que podemos chegar. Eu não sei.
Só sei que achei lindo: " Gostar é gostar... como a lua é a lua e as estrelas são as estrelas". E ela, é Gabriela.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dia do Amigo

Essa minha mudança para São Paulo fez com que se quebrassem várias ilusões que eu tinha a respeito de  mim. Sempre achei que eu fosse uma pessoal comunicativa.... descobri que não. Comunicar-se bem é diferente de ser comunicativo. Falo bem em público, no geral... me comunico bem com as pessoas em conversas... mas não sou comunicativa, expansiva... ao contrário, acho que sou bem autista, evito falar quando estou longe dos que amo e confio.
Em Maringá, eu parecia comunicativa, mas acho que tinha a ver com o fato de eu transitar por lugares e pessoas que me conheciam há muito tempo... então eu sempre estava a vontade para falar livremente. 
Uma outra ilusão era a de que tenho facilidade para fazer amigos. Uma mentira completa. Tenho dificuldades e preguiça de sair fazendo amizades. Em Maringá, morei durante 16 anos e obviamente, neste tempo fiz bons amigos... convivi profundamente com uma quantidade razoável de pessoas... isso me fez acreditar que eu tinha facilidade. Não é verdade... em três meses e meio em Sampa... meu círculo de pessoas é muito restrito... os mais frequentes são os meus dois companheiros diretos de trabalho, minha professora de inglês e a minha amiga Debora que morei com ela durante dois meses e tem sido muito preciosa para mim. 
Convivo diretamente com apenas quatro pessoas aqui em São Paulo. Claro que esporadicamente, me encontro com outras também, outras pessoas legais no trabalho, na igreja que vou de vez em quando, nos salões de beleza que frequento. Mas de forma constante, são só quatro. Isso se dá por timidez e preguiça. As vezes estou na acadêmia e alguém puxa conversa comigo, respondo com monossílabos para acabar logo com aquilo... tenho uma sensação, talvez equivocada, de que é meio deselegante tentar fazer amigos na academia. 
E também acontece que mantenho fortes vínculos com pessoas que não moram em São Paulo, que falo quase diariamente, as vezes durante horas ao telefone. Primeiro, o meu namorado que mora na Bahia e nos vemos de 15 em 15 dias, depois o meu pai, que a cada dois dias falamos por mais de duas horas ao telefone... depois tem o Emar e o Wil... e ainda, meus irmãos  e tantas outras pessoas que fazem parte da minha história que volta e meia me comunico ao telefone ou no facebook,  a Sara, a Rafa, a Kelly, a Paty,o Osafá, o Leo, a Miriam...
Não sou de fazer amizades facilmente, mas as que já fiz são bastante confortáveis e suficientes para mim. Inclusive, as vezes penso, que já fiz a imensa maioria dos amigos que vou ter a vida inteira... já que os verdadeiros são sempre poucos. E depois, mesmo que isso me incomodasse, esse lance de não ter facilidades para fazer amizade, não se muda uma característica dessas depois de adulto... a gente é o que é... e eu pelo visto sou meio anti-social mesmo. Sou involuntariamente seletiva para esse lance de amizade. Mas acho que por um lado isso é bom... não banaliza... me mostra como é valioso esse encontro de alma chamado amizade. 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quadrado


O amor é um fato,
Que uma vez consumado,
Pode até ter um sabor redondo,
Complexo, convexo ou côncavo,
Mas na hora que aperta,
Finge não haver nada de errado
Em ser quadrado, quadrado!!!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A nova face das novelas brasileiras


Gosto muito das novelas brasileiras. Gosto tanto que gosto até das ruins. Sempre que dá um tempo, dou uma olhadinha, e devido a prática, rapidamente me ambiento e pego amor aos personagens. Acho que as novelas refletem muito os sentimentos coletivos que estão vigentes em determinados momentos do país. Sei que muitas vezes também podem ser alienantes e imprimir ideologismos que na minha opinião não são bem vindos. Mas faço o filtro e me divirto.
Assisto novela porque acho relaxante. Não é como filme cult que a gente precisa pensar, que mexe profundamente com a gente e aí tem que ficar digerindo. As vezes não quero pensar, quero apenas vegetar em frente a TV e embarcar num universo lúdico, leve e diferente da minha realidade.
Mas o fato é que ultimamente venho me divertindo mais do que já me divirto assistindo as novelas. Penso que devido a reorganização social do Brasil, o povo passou a ter mais auto-estima, e percebeu que ser trabalhador, morar na periferia e cultivar valores que coloquem em primeiro plano as questões coletivas não é vergonha pra ninguém, e sim um orgulho imenso.
É por causa dessa nova auto-estima do brasileiro, essa identidade positiva quanto a ser povo que tem surgido uma nova roupagem para a dramaturgia no Brasil. Antes, nas famosas novelas ultra-românticas de Manoel Carlos, mostrar a vida do rico era o que dava ibope, as mocinhas eram sempre umas desocupadas, lindas e maravilhosas, ou tinham um emprego apenas para constar, verdadeiras dondocas... quem trabalhava de verdade eram apenas os homens, e os protagonistas sempre em profissões consideradas da elite. Essas eram as novelas que mais davam ibope... pobre não queria ver pobre... queria assistir e sonhar com a vida do rico.
Mas as novelas que estão passando agora, principalmente as das sete e das nove mostram como protagonistas trabalhadores e trabalhadoras. Na das sete, Cheias de Charme, as grandes mocinhas são três empregadas domésticas, lindas e talentosas, que sofrem na pele todos os dias a dureza de serem domésticas. Claro, que há muitas licenças poéticas aí... empregada que usa maquiagem da MAC não é assim algo real. Mas o fato é que as vilãs são as patroas que não respeitam as leis trabalhistas e só exploram as meninas. O principal ambiente em que a novela se passa é a periferia e tem até personagem que é artista grafiteiro e socialista... acho a novela um charme, e pelas notícias que leio quanto a aceitação, a Globo voltou a ter ibope, porque diferente de antes, agora o povo, com sua auto-estima alta quer ver é sua própria vida relatada na TV.
A novela das nove, também traz esse mesmo cenário... é uma novela mais séria e que envolve mais drama. Contudo o ambiente também é a periferia, e vários elementos da vida cotidiana do povão estão lá. Tem a periguete, vivida pela ótima atriz Issis Valverde, que no fundo é uma feminista orgânica e que afirma ser livre porque faz com seu corpo o que quer... tem os bailes funk´s... a família que era pobre do jogador de futebol que ficou rica, mas ao invés de se mudar para um bairro luxuoso, fez é uma mansão na periferia mesmo e continuou investindo na comunidade. Tem até ambiente de lixão sendo mostrado. E dona de salão é relatada como grande empresária. Os diálogos, as brigas, as paixões, tudo está diferente. Até crente anda sendo relatado com menos preconceito devido a expansão do pentecostalismo no Brasil.
Portanto, o que já era divertido, anda muito mais, e eu que adoro um romance de novela, chego a rir sozinha desta nova face relatada nas telinhas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Que seja sempre assim...


Que seja sempre assim,
Leve como hoje me parece,
Leve como um pensamento feliz,
Intenso como quando você aparece,
De um jeito sério ri,
Beija, enaltece, bebe e diz,
Que seja sempre assim... um amor que aquece,
Pulsante, fluente... doce, quente...
Um diálogo amigo... macio... latente.
Que lembre os amores antigos,
Daqueles com sabor de eternidade.
E que mesmo em meio a luxúria própria aos amantes,
Guarde também pureza e serenidade,
E que seja sempre novo...
E que o nosso desejo seja sempre assim,
E depois da intensidade mais sublime,
De quando eu estou em você e você está em mim....
Que ela possa acontecer de novo e de novo,
Num alcance sem fim.
E que essa nossa sensatez e senso de liberdade
Sempre existam...
Mas não nos façam esquecer,
Que por outro lado amor não é só pensamento,
E que nunca nos deixem apagar essa chama e perceber
Que além de ternura, amar é também loucura...
Fogo... para enlouquecer.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O casamento


Devido as minhas reflexões desde a pré-adolescência referente a relacionamentos, fui nutrindo uma certa aversão ao casamento e tudo o que fosse parecido com isso. Sinceramente, em toda a vida, vi poucos que pareciam dar certo. E alguns que aparentemente eram legais, depois descobri que não. No geral as pessoas são muito infelizes no relacionamento a dois. Vivem a castrar umas as outras, estabelecendo regras e limites artificiais que ser humano algum seria capaz de cumprir. E ao basear a convivência em tantas cobranças, criam também abismos, passando com o tempo, a serem dois desconhecidos vivendo debaixo do mesmo teto. 
E muita gente pensa como eu. Observa o caos geral que são os casamentos e tem críticas severas. Contudo, pessoas, mesmo as inteligentes, continuam se casando. E quando isso acontece... gente sem ilusão, que sabe que relacionamento e liberdade não são coisas fáceis de se combinar, mas mesmo assim topam essa parada... acho que tem algo de muito bonito nisso.
Além de ser bonito, penso que tem alguma coisa de revolucionário no ato de duas pessoas inteligentes que se casam. Porque buscam a reinvenção, a resignificação. Acreditam que mesmo em meio a condições improváveis, isso pode dar certo. 
Meu pai, depois de doze anos vivendo com a mesma pessoa, casou-se com ela no último sábado. Ele, um ser humano inteligente e solidário como poucos, ela, também muito acima da média... resolveram oficializar o que foi e é construído todos os dias. E ao ser perguntado porque queria se casar por um dos religiosos que fez o casamento, respondeu: "vou me casar porque não tenho mais motivo para isso... agora, quero apenas cuidar dela, e que ela cuide de mim..."
Todas as superficialidades foram superadas, as convenções sociais que poderiam envolver o casamento foram vencidas... não se casaram para fazer família, para ter filhos, para lustrar seus egos, para mostrar que são capazes de conquistar alguém, para realizar um sonho, para construir uma vida, para facilitar as coisas, para resolver uma questão moral, para serem felizes... porque isso já foi feito e felizes, eles já são individualmente, na medida do possível na vida adulta... não há motivo, não há expectativas desleais... porque não há motivo e nem explicação para o amor. E isso é lindo!