domingo, 14 de abril de 2013
Reinventar
Meu blog anda muito abandonado. Escrevo raramente, quando alguma coisa muito especial me vem. Esse abandono não é por acaso. Sempre considerei escrever como algo importante pra mim, no qual sempre tive alguns alívios. Por muito tempo, vir aqui e postar um texto, um poema ou uma imagem foi algo fundamental para minha saúde mental. Em alguns períodos escrevi diariamente por que sentia que isso era um desabafo importante para minha alma... um descarregar de impurezas. Uma vez no papel, meus fantasmas se iam.
Hoje, cada dia tenho escrito menos sobre minhas dores e confusões. Também metaforizado menos, já que os poemas estão ausentes de mim. Aí a pergunta: será que isso é porque tenho tido menos dores, menos dúvidas, menos sentimentos confusos sobre a vida e como me posicionar diante dela? Acho que não.
Penso que é exatamente o contrário. Continuo tendo momentos de tensão imensa, de angústias, de dores, de dúvidas, de paixão, de intensidade. No entanto, acho que a forma com que venho sentindo e vivendo tudo isso foi se tornando mais complexa, e outras válvulas de escape surgiram. Válvulas, acredito eu, muitas vezes mais serenas do que muitos textos que já postei.
Houve também uma mudança na vontade de expor meus sentimentos a um público... cada dia mais meus textos passaram a ser longas conversas com as pessoas que amo, o que em muito alivia a maior parte de minhas angústias.
Contudo, não quero perder o hábito de discutir idéias, de levantar questionamentos, de registrar pensamentos. Por isso, acho que preciso reinventar meus temas, minha forma de escrever, guardando essas novas reivindicações da minha alma. Vou tentar.
segunda-feira, 4 de março de 2013
CULPA
A culpa é um tema que costuma habitar minhas reflexões. Na verdade muitos comportamentos humanos giram em torno da culpa. Seja por tê-la, ou pela tentativa de gerá-la no coração alheio. Talvez a imensa maioria da pessoas já teve a oportunidade de estar em um ou outro pólo destas situações descritas. Seja se vitimizando para causar culpa no outro, seja se sentindo um grande vilão.
Até certo ponto, tais movimentos fazem parte do cotidiano da vida... pois o sentimento de remorso em níveis baixos, indica certo grau de sanidade e sensibilidade para com as dores do outro. O problema é que no geral, boa parte das relações estão sedimentadas nestas bases. Pessoas internalizam culpa por fazer coisas absolutamente saudáveis e libertadoras. Homens e mulheres se sentem culpados por por terem mais sucesso que seu cônjuge na vida profissional, por terem amizades com pessoas do sexo oposto, por desejaram uma vida social mais ampla do que a vida doméstica. Filhos se sentem culpados por não atenderem as expectativas desleais de seus pais, pais se sentem culpados pelos fracassos de seus filhos. Pessoas sentem culpa por destoarem dos modelos mais tradicionais de comportamento.
Penso que a culpa, da maneira com que nossa sociedade a impõe nas relações íntimas, é o instrumento mais opressivo que já fora inventado. A questão mais tratada nos consultório de psicólogos e psiquiatras é a culpa, e estes profissionais começam justamente pela tarefa de desconstruí-la e evidenciar para seus pacientes que seus comportamentos não são moralmente condenáveis. A culpa no geral é internalizada de maneira inconsciente pelas pessoas. E o indivíduo ao não conseguir lidar com esse sentimento, inicia um processo de sabotagem em diversas áreas de sua vida. Esse é o mecanismo que faz com que mulheres violentadas não queiram denunciar estupradores, por exemplo. Por que de alguma maneira acreditam que foram elas que provocaram a violência.
A culpa é capaz de destruir a sanidade de milhões de homens e mulheres, sem falar no papel que a religião cumpri para sedimentar esse sentimento na vida das pessoas. Acho que é necessário identificarmos como a culpa nos corrói por dentro e desconstruirmos os seus efeitos. Mas não é fácil... pois a culpa é um dos elementos mais perversos e acentuados de nossa cultura.
sábado, 2 de março de 2013
AMOR
Acredito que já amei algumas pessoas durante a minha vida. Já me apaixonei algumas vezes de maneira profunda e avassaladora. Já vivi muitos momentos felizes durante os relacionamentos que tive. Já senti profunda compatibilidade com almas alheias a minha, que tive a felicidade de encontrar em meu caminho. E por isso, sei que o mundo é grande e as pessoas são diversas... e gosto do fato de, nestes 27 anos que tenho de vida, ter podido conhecer um pouquinho do infinito particular de pessoas muito especiais deste meu universo.
Costumo ter uma memória muito boa sobre os bons momentos que guardo, com riquezas de detalhes e de sensações. Não carrego dentro de mim frustrações por ter deixado de viver o que desejei, porque vivi. E exatamente por isso, por ter uma dimensão grande daquilo que já senti e vivenciei. Sei... o que sinto hoje, o amor que tenho por quem está comigo hoje, não tem precedentes dentro de mim.
Na verdade, não sei explicar o porque disso. As qualidades do homem que amo e a compatibilidade de nossos corpos e de pensamentos entre nós são fundamentais para a manutenção do nosso relacionamento, mas esta não é a razão do meu amor. Descobrimos nossas semelhanças e a beleza de muitas de nossas diferenças posteriormente ao momento que tivemos clareza de que nos amávamos.
Portanto, não entendo a razão, e nem preciso. Posso dizer apenas o que este sentimento faz comigo. Faz surgir o melhor de mim. Modifica alguma parte da minha alma sem usurpá-la. Faz nascer sonhos que concretamente, nunca foram pauta em minha vida. Faz com que eu queira tudo que sempre quis sozinha, agora, acompanhada.
Este amor traz ao meu coração um sentido de simplicidade diferente do que havia antes. Agrega em mim valores que pareciam banais, mas que hoje me parecem lindos. Tenho um profundo desejo pela constante vivência das trivialidades da vida ao lado dele. Sorrio sozinha com minhas memórias recentes de seu jeito, fala, olhares, cheiros, silêncios, beijos. E sonho acordada com o cumprimento mais simplista das etapas da vida ao lado dele. Chegando ao ponto de sonhar que em um futuro próximo, os nossos traços possam estar misturados num terceiro rosto, resultante desse amor.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Crente
Há um tempo atrás ser crente era motivo de bulling. Essa turma era considerada muito careta, com padrões morais os mais rígidos possíveis. Mas isso vem mudando muito. Primeiro mudaram o termo, crentes passaram a ser chamados de evangélicos e com a chegada das igrejas neopentecostais, houve uma popularização total dessa religião.
Uma religiosidade que antes era baseada numa vivência espiritual mais profunda e constante, que marcava a identidade das pessoas fortemente, um modo de vida... que nem sempre ou quase nunca era confortável. Hoje em dia, com a disseminação da teologia da prosperidade, as igrejas evangélicas atraem milhões de fiéis e penso que logo logo essa será a religião oficial da classe C e D. Não é mais motivo de bulling ser evangélico nas camadas populares, ao contrário, mesmo quem pratica outra religião, passou a dar alguma moral para a igrejinha evangélica na esquina de casa, que antigamente era um gueto de senhoras muito reprimidas que usavam saias cumpridas e cabelos sem corte.
Acho tudo isso muito estranho. Sou crente, de uma denominação não fundamentalista e não pentecostal, de linha calvinista, que está muito distante da teologia da prosperidade. Na verdade, acho que de maneira até anacrônica, meu modo de pensar está muito mais próximo é da teologia da libertação. E na minha infância, na escola, ser crente, era ser minoria. E nunca imaginei que eu iria viver pra ver essa proliferação de evangélicos. Aposto que nas escolas públicas de hoje as crianças crentes devem se sentir maioria.
Contudo, acho que essa popularização da religião protestante não se deu de maneira muito saudável... inúmeras vezes observo coisas absurdas quando passo pelos programas evangélicos na TV. Fico chocada com as interpretações bíblicas que em minha visão são extremamente equivocadas e simplórias e com a maneira fisiológica com que se lida com a crença. Transformando algo que anteriormente tinha como base relacionamento, entendimento do significado do amor incondicional de Deus a partir da compreensão de uma metáfora profunda representada pelo sacrifício da Cruz, libertação de qualquer processo de culpa, devido ao fato de o sacrifício já ter sido realizado por Cristo e vivência constante, em ritual simplório de troca, culpa e sacrifício humano. Acho que se eu tivesse um humor um pouquinho mais ácido, me ofenderia com o modo que esses pastores muito loucos ignoram a Palavra.
Isso é um lado da moeda... mas de outro, acho que essa releitura do protestantismo cabe como uma luva no Brasil de hoje. E de uma maneira peculiar, acaba por ajudar as pessoas. Ouço histórias de gente que realmente conseguiu organizar a vida a partir da teologia da prosperidade. Pois estava num estado de calamidade tamanha, que só o fato de ter uma religião para seguir, ajudou. Muitas vezes a religião funciona como uma teoria de organização da vida. Que neste caso, é muito pouco complexa, claro, mas num país no qual a grande maioria das pessoas é muito pouco complexa, principalmente em se tratando da área espiritual, essa filosofia tende a funcionar.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
2012
Chegando o fim do ano temos a mania de querer fazer balanços quanto ao saldo do que vivemos nos últimos doze meses. Acho algo óbvio, mas sempre faço porque é um movimento realmente importante para entendermos melhor a nós mesmos. O meu ano teve saldo positivo em todos os sentidos. Tenho a impressão de que nada ficou parado dentro de mim. Mexi em gavetas fechadas que há muito eu não mexia, resolvi assuntos pendentes, cresci profissionalmente, estudei, perdi e ganhei eleições, fiz novos e importantes amigos, mergulhei de forma plena em um relacionamento amoroso, no qual pude viver sensações jamais vividas e outras que há muito tempo eu não encontrava. Vivi tantas coisas apenas neste ano que tenho a sensação de que em 2012 vivi uma vida inteira.
Todos os movimentos foram importantes, mas deles, os mais significativos tiveram a ver com a pessoas. Foi neste ano que conheci gente que vou levar para toda a vida... almas nas quais a minha alma se reconheceu. Ah, e como isso é maravilhoso. Como é bom sermos capazes de estabelecer vínculos.
Também foi neste ano que iniciei um processo de auto-preservação... ao me afastar de algumas pessoas que já haviam virado piruá para comigo (piruá é o milho da pipoca que mesmo passando pelo fogo não vira pipoca). Relações que não evoluíram, que não seguiram em frente com o tempo. Várias relações... entre elas estão amigas cuja admiração foi subvertida em inveja, amigos que acabaram tornando-se vampiros de recursos internos... ex-amores com os quais havia alguma tentativa de sublimação para que nem tudo fosse perdido da profundidade do vínculo um dia estabelecido, mas que a prática provou não haver caminhos, e outros vínculos aparentemente obrigatórios que na vida real se mostraram artificiais, capazes de destilar doídos venenos.
Enfim, seja no estabelecimento de novos vínculos, na manutenção de outros já existentes ou no afastamento daqueles que me faziam mal, esse foi um ano bom. Um ano de crescimento, amadurecimento, elaborações. Desejo que todos os anos daqui pra frente sigam assim, cheio de mudanças, desafios... que sejamos capazes de fazer escolhas cada vez mais conscientes.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
A inveja
A inveja é mesmo um sentimento curioso. Tenho lido os escritos do rabino Nilton Bonder em "A Cabala da Inveja" e a partir disso tenho pensado várias coisas. Acho que é um sentimento que a maioria de nós subestima seu poder e inserção nas relações. A inveja é um desejo obscuro. Um sentimento bom desvirtuado. Nasce da admiração, do desejo de compartilhar, nasce da observação. Mas torna-se inveja somente no momento em que este sentimento bom é frustrado. Invejamos o outro quando o que ele tem, de certa maneira, nos agride. Faz com que nos sintamos menores. É quando depois de admirar, passamos a perceber que aquela qualidade de alguém, objeto, elemento esta distante de nossas mãos. E aí entra uma contradição... o que fazemos com um desejo que não pode ser realizado? Resta-nos então, destruir este objeto ou o dono dele. Um mecanismo primário do tipo... "se não pode ser meu, não será de ninguém."
Mas como já disse antes, a inveja é um sentimento obscuro. Ela nunca vem à tona. Pois quando vem, é admitida, deixa de ser inveja e volta para sua origem, admiração. Caso eu inveje alguém e diga isso, estou apenas confessando uma admiração. A inveja se fantasia... age como um mecanismo inconsciente. E faz com que seu próprio dono acredite em seus argumentos. Na reta final, quando o dono da inveja está na fase de destruir o objeto, seu ódio é verdadeiro, o seu maldizer é quase legítimo, pois ele acredita que aquilo ou aquela pessoa deve ser destruída.
Subestimamos o poder da inveja em nosso mundo. A inveja é capaz de destruir coisas, estruturas, ou pessoas imensas. A inveja é base também para outros sentimentos... como o ciúme, que entende o outro como pose. É base para o desencorajamento de pais para com seus filhos. É a base para o início de muitas guerras. Age na subjetividade.
E o menos óbvio é que a inveja é capaz de transformar pessoas grandes em pequenas e pequenas em grandes por um momento. Um rei pode invejar seu súdito e competir com ele por um momento por causa da inveja... porque quando sentimos inveja perdemos a dimensão de nós mesmos. Por um momento, por maior que sejamos, diante da inveja, nos sentimos pequenos diante do outro, ainda que o outro no geral seja mais simplório que a gente.
Como se livrar dela dentro de nós? Conhecendo a nós mesmos. Quando a inveja chegar, fazer com que ela volte a ser o sentimento original, admiração. Não deixar que ela aja em nosso inconsciente. Como evitar a inveja do outro sobre nós? Isso ainda não sei... vou continuar com as leituras.
domingo, 16 de dezembro de 2012
Distância
Procuro crer que todas as pessoas possuem uma complexidade imensa que não pode ser medida pelos olhos alheios. Não somos capazes de calcular por onde passa a vivência alheia. Portanto, qualquer tentativa que se proponha a descrever alguém deve ser cuidadosa. Temos uma tendência, com relação as pessoas que convivemos há muito tempo, de achar que elas cabem num quadrado do nosso pensamento. Então criamos estereótipos. Esquecemos que ao avaliar o outro, fazemos isso com um olhar nosso, sempre viciado com o que sabemos e pensamos de nós mesmos. Quando penso em alguém, procuro sempre deixar lacunas, entender os limites do meu olhar, por mais intimidade que haja entre mim e a pessoa em questão. Procuro pensar que as generalizações são pobres e tem muito mais de mim do que do outro nelas. Enfim, quando acontece o contrário, quando tenho a impressão de que sou objeto de generalização, me incomodo profundamente. Por mais intimidade que alguém tenha comigo, nunca será capaz de avaliar tudo o que se passa dentro de mim e todos os elementos que me compõe ao longo das minhas vivências. Quando alguém tenta cristalizar minha imagem dentro de si, o único sentimento que tenho é a vontade de me afastar. Por um motivo... não quero que isso me contamine. Não quero que olhares estanques sobre mim me influenciem, principalmente os negativos. Até porque, há em mim uma capacidade de reinvenção constante. E acho que quando alguém nos coloca dentro de um quadro, essa pode ser uma forma muito sutil de dominação caso caiamos em tentação de aceitar a limitação que o outro nos traz. Pois o outro está cristalizado em algo e deseja, no fundo, que estejamos também. Não quero isso pra mim... e as vezes, o mais saudável a ser feito é manter distância. No começo pode incomodar, mas logo a vida segue.
Assinar:
Postagens (Atom)