domingo, 16 de dezembro de 2012

Distância


Procuro crer que todas as pessoas possuem uma complexidade imensa que não pode ser medida pelos olhos alheios. Não somos capazes de calcular por onde passa a vivência alheia. Portanto, qualquer tentativa que se proponha a descrever alguém deve ser cuidadosa. Temos uma tendência, com relação as pessoas que convivemos há muito tempo, de achar que elas cabem num quadrado do nosso pensamento. Então criamos estereótipos. Esquecemos que ao avaliar o outro, fazemos isso com um olhar nosso, sempre viciado com o que sabemos e pensamos de nós mesmos. Quando penso em alguém, procuro sempre deixar lacunas, entender os limites do meu olhar, por mais intimidade que haja entre mim e a pessoa em questão. Procuro pensar que as generalizações são pobres e tem muito mais de mim do que do outro nelas. Enfim, quando acontece o contrário, quando tenho a impressão de que sou objeto de generalização, me incomodo profundamente. Por mais intimidade que alguém tenha comigo, nunca será capaz de avaliar tudo o que se passa dentro de mim e todos os elementos que me compõe ao longo das minhas vivências. Quando alguém tenta cristalizar minha imagem dentro de si, o único sentimento que tenho é a vontade de me afastar. Por um motivo... não quero que isso me contamine. Não quero que olhares estanques sobre mim me influenciem, principalmente os negativos. Até porque, há em mim uma capacidade de reinvenção constante. E acho que quando alguém nos coloca dentro de um quadro, essa pode ser uma forma muito sutil de dominação caso caiamos em tentação de aceitar a limitação que o outro nos traz. Pois o outro está cristalizado em algo e deseja, no fundo, que estejamos também. Não quero isso pra mim... e as vezes, o mais saudável a ser feito é manter distância. No começo pode incomodar, mas logo a vida segue.

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