domingo, 18 de junho de 2017

Talvez... que bom... que pena!


Já não dói mais como doía... e eu já passei por isso antes!! Não dói mais como doía e há um lado muito triste nisso. Não dói porque a memória está reconfigurando, apagando as sensações... deixando as lembranças vazias de suas cores, de suas esquinas. Deletando os cheiros, as dimensões exatas dos toques... os frios na barriga, as emoções verdadeiras... a memória está deletando os deleites, as risadas, a dimensão exata do prazer da companhia, a magnitude do que era poder te tocar. Mesmo com registros, fotografias, músicas, poemas... por mais que eu olhe para eles, já não me darão a exatidão do que vivemos. E isso vai trazendo um certo alívio, permitindo que eu siga em frente plenamente, que não sofra todos os dias, que não chore toda semana, que não dê um jeito de te encontrar todo mês... mas com o alívio que chega, também se vão os sonhos, a intensidade da alegria, as motivações que me moviam na sua direção. A minha memória se apaga para que eu possa ser eu, inteira, não carregue uma ferida aberta enquanto corro o mundo por aí... mas é triste, porque esta memória protetora, quando apaga suas cores aqui dentro, é como se apagasse também uma parte de mim. Aos poucos o amor está dando lugar a melancolia. Sei como funciona, já aconteceu antes... me lembro de quando a gente foi lá insistir em reavivar tudo de novo... como eu fui relembrando cada sensação de estar com você, as conversas, os toques, os encontros, as danças, as esperanças, os sonhos... me lembro de comentar... de me indignar como eu podia ter esquecido tudo, e que por mais que me lembrasse dos fatos, não lembrava das cores... as cores tiveram que ser refeitas... e foram!!! Agora eu estou aqui, percebendo que a cada dia me lembro menos, a exatidão das coisas escorre por entre minhas mãos...a cada dia tudo vai ficando distante... talvez tão distante que daqui a pouco você seja um bom amigo do rol dos conhecidos de longa data, que de vez em quando, uma vez por ano quem sabe... a gente marca um café, conta as novidades, diz que se apaixonou de novo por outra pessoa, e até comemora que o outro esteja feliz, fica feliz pelo outro sentindo assim só uma pontinha de desconforto... segue em frente meio sem saber o que houve. Talvez... que bom... que pena!

Nenhum comentário:

Postar um comentário