segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sobre mim, a política e meus vazios...

             
              Durante 17 anos, isso é, toda a minha vida adulta, tive a política em meu horizonte. Aprendi a ver o mundo através desta lente. No início, devido a proximidade com o Partido Comunista, minha visão se vinculava quase exclusivamente ao viés marxista, depois no PT, isso acabou se ampliando para outros campos de análise. 
             No ensino médio, participei do movimento estudantil secundarista, tanto no grêmio como na UMES. Na Universidade, continuei no movimento. Ao me formar, mergulhei na militância de juventude partidária. Também sempre fui feminista e participei de diversas instâncias dos movimentos de mulheres. Fui membro de conselhos municipais em Maringá, conselho da mulher e conselho de saúde. Fui secretária de juventude do PT-PR, depois trabalhei no PT Nacional em 2012, acompanhando as eleições municipais. Participei da executiva estadual do PT e por fim, em 2016 fui candidata a vereadora, tendo feito 432 votos.
              E não, não estou escrevendo isso para ser candidata a qualquer coisa... apenas quero contextualizar meu prezado leitor ou prezada leitora que aqui estiver. 
              Mas o fato é que durante esses dezessete anos, a política sempre foi absolutamente apaixonante para mim. Era potencializadora da minha energia como se tivesse um efeito mágico. Esse efeito se dava por diversos mecanismos. Primeiro pela representação da utopia, pela esperança que me trazia e a noção de que minha militância representava a construção de uma outra sociedade. Segundo, por que a política e seu fazer coletivo me davam identidade, sempre bebi das fontes das instituições, me relacionava com as pessoas a partir deste viés. Terceiro, por que através desta participação eu me tornava incomum, alguém que fazia mais do que apenas existir, sobreviver. Enfim, poderia elencar aqui centenas de coisas.
              Acontece que depois da campanha e de todos estes anos de participação, de dedicação de mais de uma década e meia, não sinto a política da mesma forma que eu sentia. No início do pós-campanha cheguei a pensar que eu apenas estava de ressaca (e como faz só quatro meses talvez ainda esteja), mas agora começo a pensar que não.
             Construí minha identidade toda através deste instrumento, e sei que o golpe contra o governo da Dilma, além de ter um grande impacto social, também impacta profundamente minha vida pessoal, pois quando penso nisso, sinto uma dor particular, tenho uma ferida na alma ao ver o partido que faço parte há tantos anos sendo atacado como se fosse uma organização de bandidos. Quando vejo os nossos direitos conquistados escorrendo pelo ralo sofro como sofro ao ser ferida por alguém muito próximo, carrego comigo uma profunda angústia frente a tudo isso.
             Sei que as relações de poder são complexas, sei que há grandes equívocos na atuação da esquerda, mas entendo também as origens de tudo isso, e não acho que o PT está pagando um preço somente pelos seus equívocos, mas sim e principalmente, paga um preço pelos seus acertos e pelo lado que escolheu estar.
             Mas mesmo com todo esse entendimento, tenho tido grande dificuldade de enxergar poesia na atuação política. No último fim de semana fui ao encontro da juventude do PT de Cascavel. Um evento lindíssimo, com aproximadamente setenta jovens, muito animados para a militância. Pessoas com imensos talentos, com fruição para  arte, com produção cultural, associando tudo isso a luta política. 
            No entanto, mesmo presenciando tal evento, não me senti motivada a voltar. Achei que talvez em contato com algo tão bom, eu pudesse sentir de novo aquele frio na barriga, aquela esperança intensa, mas não veio. Fiz bons amigos lá, conversei sensivelmente com várias pessoas, e se elas precisarem de mim, não tenho problemas em ajudá-las. Mas meus olhos não brilham mais... acho que não estou com ressaca devido a derrota, algo mudou dentro de mim, um ciclo se fechou. Não vejo maneiras de resignificar esta relação. Não há caminhos para reciclar esse amor... e eu sinto muito por isso.
           Não sei ao certo o que fazer com este imenso vazio. Tudo aberto, tudo a zero.

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