Era como estar em um limbo de si mesma. Entre a plenitude e a confusão absoluta. Faltava-lhe o ar. Havia uma lacuna em sua identidade, preenchida por estranhos que não deveriam estar lá. Onde procurar? Tudo era feito de brumas... seus referenciais pareciam sem cor.. tudo lhe sugava a energia que juntava com todo o esforço. Culpa. Não importava o que dissessem. Culpa. Não importava o que a racionalidade ditasse. Culpa. Perguntava-se como pôde não enxergar... acusações sutis eram proferidas... tão suaves, aos poucos soltas no ar. Mas parte dela via tantas outras coisas... um mundo aberto, uma vida cheia de possibilidades, alguém lá dentro que dizia o quão pequenas eram aquelas coisas... versões ilimitadas da vida, uma vida complexa, não linear. Isso quase a convencia... mas quando conseguia dar alguns passos nessa direção, de novo... as culpas a jogavam no chão... as culpas a visitavam em pensamentos fortuitos, em sonhos...moendo sua energia que antes parecia inesgotável. O desejo primário era de que pudesse se afastar de qualquer daqueles cuja memória registrasse as coisas de maneira negativa. O olhar dele a acusava. Será? Ou acusava a si mesma, e seu próprio olhar se refletia nele. Reputações em jogo...no passado, no presente, talvez no futuro... esperava que não... um desencadear complexo de coisas difíceis. Dores. Tudo se misturava... inseguranças infantis, solidão, desejos... um acerto de contas com a vida. Resignificações. Recomeços. O que permaneceria? A poesia que a inspirara por toda a vida... havia vestígios dela ressurgindo...e isso era bom, apesar de estar num tom rudimentar, um tanto desacreditado, um vocabulário repetitivo, um estilo batido. A fé... sim, ainda estava lá de uma certa maneira um tanto fragmentada, sob alerta. A esperança... talvez, talvez não...O amor... traduzido em silêncios que os corpos as vezes eram capazes de expressar... ou não... ou não era isso, ao menos não sempre, não em toda parte. Dias difíceis... tempos difíceis... Um deserto! Mais um deserto!
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