Eu a conheci num curso de formação da UJS em Itapicirica da Serra, onde, por acaso, dividimos um quarto coletivo com mais trocentas pessoas. Nesses cursos a gente ficava internado durante quase dez dias em um lugar longe de tudo e comendo uma comida mais ou menos. Longe de tudo mesmo, inclusive longe de lugares que vendessem chocolate. Então, juntamos uma turma de meninas viciadas em chocolate (naquela época eu era, pois ainda não tinha trabalhado com a produção de bombons, que me fez enjoar do bendito), e encomendamos leite condensado e chocolate em pó para fazer brigadeiro. Então descobri que pra gaúcho, brigadeiro se chama negrinho.
Foi divertido... na turma ela já era o que podemos chamar de celebridade local... pois com vinte pouquíssimos anos, tinha sido eleita vereadora, em um partido cujas dificuldades estruturais e financeiras sempre foram imensas, e já como legisladora municipal, fez diferença, instituindo algo simples, chamado mandato itinerante, correndo os bairros e baseando seu mandato no diálogo com as pessoas.
Ela era celebridade no nosso meio não só pelo mandato eletivo, coisa rara para a juventude. Mas também porque sempre teve algo de muito especial. Uma energia, uma alegria, um sorriso sincero que contagiava todo mundo... e uma serenidade que só existe em pessoas humildes e satisfeitas de serem quem são. Provavelmente, ela nem se lembra do "negrinho"que a turma de meninas comeu na panela apavoradamente. Mas eu nunca pude esquecer. Porque desde lá, mesmo depois que saí do PCdoB e me tornei Petista, acompanhei seus passos na política com a mais profunda admiração.
Vibrei quando dois anos depois de ela se eleger vereadora, se tornou Deputada Federal. E não me esqueço da chamada dos últimos dias de campanha "Manuela rumo aos cem mil", porque precisava de mais ou menos isso para se eleger. E quase que por ironia feliz fez em torno de 300 mil. Meu coração vibrou.
Logo depois, em 2008 concorreu para a prefeitura de Porto Alegre, ficou em terceiro lugar. Me entristeci... queria tê-la visto prefeita desde lá. Mas, ainda assim, ela poderia ter sido só uma onda passageira, como tantos outros jovens que se elegeram em determinado período histórico favorável e não foram capazes de permanecer por falta de preparo. Poderia em 2010 ter sido esquecida. Mas não foi. Novamente se elegeu, e desta vez, com mais de meio milhão de votos, sendo a mulher mais bem votada do Brasil para Deputada Federal, com apenas 28 anos. Senti orgulho. Não simplesmente porque um dia a conheci e me simpatizei... porque a eleição dela representa muito, representa a esperança... nos diz que é possível fazer política de um jeito diferente, dialogando com a sociedade, enchendo os corações das pessoas com coisas novas, novos ares. Quebrando a lógica de que é preciso ter muita experiência e estrutura para fazer o que precisa ser feito... mostrando que a coragem de sonhar e transformar a realidade pode fazer a diferença.
Caso eu morasse em Porto Alegre, não votaria nela... por sou de outro partido que também tem candidato a prefeito em Porto Alegre... e ser fiel ao meu partido é fundamental para mim, porque estar num coletivo e construir com ele faz parte das minhas convicções e da minha identidade. Mas sei que se eu morasse em Poa, meu coração sangraria por ter que fazer essa opção, não por ele, o candidato do PT, que é alguém competente e também digno de ser prefeito da capital gaúcha, mas por ela. Porque o desejo do meu coração é livre, não pode ser negado e torcer eu posso... posso gostar de ver uma mulher jovem, de esquerda transformando o mundo dela num lugar melhor... torço por essa menina... e se pudesse estaria com ela. Força Manuela!!