Os amores que tive na vida me ensinaram muito. Desde as coisas mais simples do cotidiano, às questões objetivas relacionadas ao corpo, como também, aprendi a ver as manifestações mais diversas da alma. Seja pelas carícias, seja pelas dores, aprendi com meus amores a entender quem sou. Os meus limites e extensões, as minhas demandas, lacunas, intenções. E cada alma que me foi permitido entrar, roubei um pedaço e levei comigo, em troca deixei muito de mim. Levo comigo os mais diversos diálogos guardados que ajudaram a me lapidar. Trouxe leituras de livros que jamais conheceria sozinha, filmes dos mais banais aos mais cults, músicas das pops às clássicas. Visões diferentes quanto a espiritualidade, religiosidade, formas de seu exercício. Aprendi sobre meu corpo, sobre o corpo do outro. Sobre como através das sensações físicas, chegamos mais perto da nossa própria alma e da alma alheia. Com os meus amores, aprendi sobre o ser humano, o que alguém que não ama, não aprenderia em cem anos. Aprendi sobre as palavras, como podem ser usadas, aprendi que a fala serve para a sinceridade e para outras coisas, aprendi sobre os limites da sinceridade, entendi que o outro é quase sempre parte e espera muito da gente... mas aprendi muito mais sobre os silêncios, a entender os olhares, e que as vezes assim se diz mais do que se pode falar e escrever em milênios. Soube que apesar das guerras frias e armadas que vivemos em relacionamentos, a nossa memória, seletiva que é, guarda as cenas de ternura, e que sem elas não sobreviveríamos, nem no relacionamento, nem na vida de verdade. Entendi com os amores que tive que somos movidos e removidos de nossas zonas de conforto através do amor, que no fim, é o amor que nos motiva à vida, ao movimento, ao aprendizado, a superar nossas limitações objetivas e subjetivas... é o amor que faz com que possamos ver a nós mesmos, é o outro como espelho da gente que vai fazendo com que tenhamos alguma margem adulta de comparação. É o ato de amar que faz com que saiamos da simplicidade da infância, aos valores prontos que herdamos de nossos pais. É o amor que nos torna complexos, e quanto mais amamos, mais complexos nos tornamos, quanto maior a entrega da nossa alma a alma do outro, mais incorporamos o que a alma do outro tinha, e quanto maior o número de vezes que fazemos isso, mais diversidades passam a existir dentro de nós. E assim, o nosso código de acesso fica diverso, e quanto mais isso acontece, mais difícil fica de entregar a alma, de alguém atingir seu centro... e por isso, quanto mais são os amores que vivemos, mais sozinhos nos tornamos... porque são tantas as almas que habitam dentro de nós ao longo da história e do passar dos anos... o que nos torna únicos, com uma percepção de mundo tão vasta e profunda... que ninguém nos entende mais.
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