Deve haver poucas coisas mais pobres do que uma disputa solitária. Normalmente, disputar significa você agir em contraponto com alguém. Competir por determinado objeto de desejo em face de outra ou outras pessoas, tão ou mais comprometidas que você. As disputas mais óbvias são as políticas, esportivas, profissionais.
No entanto, existem disputas solitárias... gente que compete por algo que não sabe direito o que é, com alguém que não está reciprocamente comprometido com a disputa. E esse comportamento é muito mais comum do que imaginamos. Pois refletem problemas emocionais de diversos tipos... e seus desdobramentos me parecem um tanto amargos.
Gente que compete sozinha geralmente disputa um "objeto" indisputável. Isso ocorre com pessoas que disputam atenção, sentimentos, ou mesmo a posse de outras pessoas. Elementos não disponíveis para serem conquistados de maneira tão pobre ou ainda irreais. Já que a posse de um outro ser humano é absolutamente inviável, por mais que as pessoas ajam contrariamente a isso.
Gente que compete sozinha, na verdade, compete com seu próprio fracasso. Pessoas que estabelecem vínculos baseados em concorrências irreais procuram fundamentalmente preencher outras lacunas que fogem a questão presente. Por exemplo, alguém que necessita disputar o amor de uma pessoa com outra, não está disputando exatamente esse amor. Mas sim, depositando neste fato uma série de expectativas anteriormente frustradas em outras ocasiões da vida. Pois, quem sabe quem é e se sente amado, não disputa o amor de ninguém.
Gente que compete sozinha cai no ridículo ou na infantilização. É tipico das crianças competir para se autoafirmar diante de um mundo que estão conhecendo. Uma menina pequena que disputa com sua mãe o amor do pai, um menino que procura ser o melhor aluno para competir com as outras crianças pelo amor da professora, ou mesmo uma criança que compara seu brinquedos para se sentir superior... tudo isso soa absolutamente normal. Mas no adulto, cuja elaboração deveria ser muito mais complexa, torna-se ridículo.
E por último, gente que compete sozinha perde a oportunidade de amar e ser amado. Pois ao invés de estabelecer vínculos em bases construtivas, o faz de forma destrutiva. Uma pessoa que vive competindo sozinha estabelece um mecanismo infantil de sempre tentar parecer melhor. E ao invés de abrir os olhos para admirar o que está à sua volta e absorver o que há de bom nos outros, se compara. Neste ponto abre mão de construir pontes e experimentar relações plenas de amor.