sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Sem Sentido...
Uma das coisas mais interessantes que tenho aprendido nas minhas aulas de inglês é que as palavras são vinculadas as sensações. Nossa memória é assim, precisa de significado para acentuar as coisas. Acho que há similaridades dessa lição aprendida em aula com outras coisas na vida. Fico vendo o horário eleitoral com um monte de candidatos a vereador falando coisas sem sentido em seus pouquíssimos segundos de televisão. E tudo parece muito sem significado, nada daquilo mexe com os meus sentidos, sensações, nada fixa mesmo. Isso porque sou da política e estou adaptada a linguagem, imagina pra quem não é? Acho que boa parte das pessoas que fazem política deveriam rever totalmente suas formas de se comunicar... tudo tão igual e com cara de discurso pronto, feito sem reflexão e realidade que fico impressionada com a inversão de valores. Política nada mais é do que realidade, envolve transformação, ampliação da qualidade de vida, envolve as dores e as delícias do dia-a-dia, o cotidiano das pessoas... boa parte dos candidatos parece não ter a menor noção disso. Fico pensando no filme Homens de Preto, e a única explicação possível é que a Terra está infestada de ET´s disfarçados, recém chegados dos seus planetas e inadaptados a vida na terra e todos resolveram ser candidatos a vereadores ao mesmo tempo.
Justo ou simplório?
"Bontche, o silencioso. Um homem simples levava uma vida sem maiores ambições, fazendo o seu trabalho de limpeza das ruas. Humilde e sem filhos, nunca se envolveu em disputas e, ao morrer, foi enterrado como indigente, nem sequer uma lápide lhe foi ofertada. Nos céus, porém, houve um enorme alvoroço quando da sua chegada. Nunca haviam recebido lá alma tão ilustre, e todos acorreram ao Tribunal Celeste para receber aquela figura tão pura.
O próprio Criador fez questão de oficiar o julgamento, enquanto o Promotor Celeste se contorcia de ódio pela causa que percebera perdida. Bontche foi trazido diante dos anjos, do Criador e do Promotor, que foi logo desistindo de fazer qualquer acusação. O Criador então tomou a palavra e, elogiando Bontche, lhe disse: "Tão maravilhoso foste em tua vida que tudo aqui nos céus é teu. Basta que peças e terás de tudo. Vamos, o que queres, alma pura?" Bontche olhou com desconfiança e, tirando o chapéu, disse: "Tudo?" "Tudo!", respondeu o Criador, ainda que ciente da ousadia de tal oferta. "Então... eu queria um café com leite e um pãozinho com manteiga." Quando disse isso, a decepção tomou conta dos céus. O Criador sentiu-se constrangido, e o Promotor não conteve a risada. Bontche não era um justo - era um simplório."
História de I.L.Peretz, no livro A Cabala do Dinheiro de Nilton Bonder.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Ponte
Tive uma porção razoável de relacionamentos durante a vida. E com todos eles aprendi muitas coisas. Foi a partir dessas relações que aprendi a integrar minhas visões de mundo com as de outras pessoas de maneira profunda. Foi a partir da intimidade com essas pessoas que pude mergulhar no ato de conhecer o outro. E não nego, incorporei muitos elementos que não foram elaborações minhas à construção da minha identidade. Desde preferências musicais e culinárias até a elaboração de metáforas para explicar o inexplicável. Tudo isso foi aprendizado, beleza, poesia, profundidade que pessoas trouxeram à minha vida a partir de dores e delícias. Não tenho um arrependimento sequer. Foram relações complexas com os mais diversos desfechos, alguns inclusive com a sensação estranha de não ter havido desfecho, encarregando o tempo de fazê-lo. Mas o fato é que apesar de tanto aprendizado, apesar de muitas vezes me sentir uma pós-doutora em relacionamentos e gente... me sinto despreparada. Sinto que me relacionar, construir uma ponte entre a minha alma e outra é sempre novo, surpreendente e amedrontador. Sempre parece ser a primeira vez. Parece porque é. Porque cada pessoa é uma e o que se constrói com ela é único. Não há receitas, não há linearidades a serem adotadas, regras a serem seguidas. Visitar e se misturar com a alma alheia é sempre um processo no escuro... e apesar de ser muito bom, causa medo. Medo do que se pode descobrir sobre o outro, mas principalmente, temor quanto ao que se pode descobrir sobre si mesmo.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Ditadura da Felicidade
Há uma lógica da nossa geração de que a gente tem que estar o tempo todo feliz, bonito e limpinho. Quem não está feliz, é logo diagnosticado com depressão. Ou você está pleno... ou está completamente mal. Uma artificialidade sem tamanho. Nas redes sociais, todo mundo sempre expressando a felicidade... tenho a impressão que as pessoas fotografam momentos que nunca viveram... tipo, montam cenas, só para colocar no facebook. Treinam tanto parecer alegres, que ficam vazias de si mesmas e de suas complexidades, que necessariamente abrange momentos negativos.
Ando num momento de sentimentos acentuadamente oscilantes... porque a minha realidade de vida anda oscilante. Nada mais natural. Mas volta e meia, vem gente quase que tentando me obrigar a sorrir e a falar. Não conheço coisa mais irritante e pobre de espírito. Sou cíclica... e preciso de tempo para entender e digerir mudanças e circunstâncias complexas. E por isso, me asseguro tempos de recolhimento, de silêncio, de melancolia e até tristeza. Na verdade eu nem acredito em felicidade plena nessa vida.... acho que isso é uma ilusão idiota de gente incapaz de refletir. Quem nunca admite estar triste, nunca saberá ser alegre nos momentos que a vida nos dá essa possibilidade... está sempre na superfície das coisas e não sabe o que é sentir de verdade. Abaixo a ditadura da felicidade.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Expectativas
De uns tempos pra cá venho sentindo tudo em uma dose maior. Moro numa cidade muito grande, mas sinto que meu mundo é menor por aqui. Enquanto numa cidade média minhas relações eram amplas e mais fluídas... em São Paulo são poucas e mais truncadas. Acho que isso interfere na minha maneira de sentir o mundo. Quanto mais intensas e diversas são as nossas relações menos expectativas colocamos nelas... pois as expectativas se diluem para muitos pontos. Enquanto, quando são poucas, se concentram. E essa concentração de expectativas atrapalham. Quando a gente espera muito daquilo que muito não pode nos dar é frustração na certa. E isso é horrível, principalmente no que diz respeito as pessoas, mas não só. O problema é que não há solução fácil para isso. Não se pode mudar esse sentimento de um dia para outro apenas porque se quer. Acho que temos uma quantidade X de expectativas a serem distribuídas para com tudo o que nos relacionamos... se nos relacionamos com poucas coisas e pessoas, fica muita expectativa depositada em pouco... possibilidade de frustração gigante. Se nos relacionamos com muitas coisas e pessoas, poucas expectativas depositada em cada elemento... possibilidade de frustração muito menor. Uma matemática quase simplista... E nessa conta, obviamente, acho que sou uma pessoa muito melhor num mundo maior. Quando amplio, meu olhar se concentra nas coisas maiores, e as pequenas coisas que me incomodam passam rápido e são superadas com facilidade. No método da matemática mais tradicional não há muito o que fazer para diminuir minhas expectativas e sentir as coisas de maneira mais branda... mas ainda bem que conheço métodos alternativos e eficazes.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Lugares Comuns
Há
que se ter cuidados com relação as influências que os relacionamentos causam em nós. Da mesma maneira que nos relacionar afetivamente com
as pessoas pode evidenciar o que há de melhor em nós, facilmente, pode ocorrer
o contrário. No início da vida adulta temos firmado a maior parte de nossos
valores, identidades, manias, etc. Contudo, passear pelo jardim da alma alheia
pode ser um perigo, ainda que tenhamos muita firmeza de caráter. Sim, um
perigo, principalmente porque não demora, na sociedade em que vivemos, surgem
as sensações de posse. E aquilo que achamos que possuímos, passamos a ter um
sentimento de que é extensão de nós. E que por um tempo pode ser ótimo. O
sentimento de sermos um só com o outro é uma imagem aparentemente linda... já
dizia a Bíblia... e ao se casarem “serão uma só carne”. Não discordo... sim,
podemos ser uma só carne com o outro muitas vezes no campo objetivo e
subjetivo, e principalmente, no que diz respeito as questões sexuais, cuja
própria imagem que se cria, nos passa essa sensação. Mas, há dimensões mais
complexas aí. E crer nessa de ser um só, pode ser uma grande roubada. Talvez a
principal armadilha que faz dar errado a maior parte dos relacionamentos.
Ter
a consciência de que a solidão não é um estado negativo... e que no fundo
sempre seremos solitários, é um bom ponto de partida. Não como uma descrença no
amor... mas justamente para crer nele de forma consequente e sem expectativas
desleais. Pois, se sou um ser único, individual, incapaz de entender de forma
plena as dimensões do outro... isso me faz ter um cuidado e um respeito maior.
E entender o relacionamento e as portas que se abrem para a alma alheia como um
privilégio, desconstruindo assim a dimensão da posse. Minhas vontades são
minhas vontades, minhas capacidades, minhas capacidades, e o outro é o outro.
O
caos acontece, quando caímos na armadilha de achar que nossas carências e
demandas devem ser atendidas por alguém que não nós mesmos. A mulher espera seu
príncipe encantado para lhe salvar dos perigos que o mundo oferece. O homem
espera sua princesa, compreensiva, passiva como a representação da sua zona
máxima de conforto. Caso fosse possível que ambos cumprissem esses papéis de
maneira linear e perfeita, pode ser que houvesse um resultado positivo. No
entanto, o ser humano é bem mais que isso... e mesmo que tente cumprir a risca
com esse modelo... irá falhar.
Contudo,
acho que temos que rever o modelo. Precisamos aprender a ser mais inteiros.
Mais solitários... mais senhores de nós mesmos. Isso não implica em não amar.
Isso implicar em basear as coisas mais exclusivamente no amor. O fato é que
volta e meia perdemos o foco e fatalmente aguardamos uma atitude ou uma reação
automática de outro ser humano em nosso favor... como se ele fosse uma máquina,
um ser sem demandas próprias a nossa mercê.
Expectativas
são difíceis de não serem nutridas. Lugares comuns são difíceis de serem
evitados... por isso são “comuns”. Exige muita elaboração nadar contra a maré.
De vez em quando não consigo evitar... e me envergonho quando isso acontece.
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