Não tenho tempo a perder com ressentimentos. Eles ficam em mim por algum tempo, o tempo da digestão. Depois se vão pra longe. E as coisas boas vão ficando. Ressentir-se é criar jurisprudência contra si mesmo. Por que se ainda não decepcionamos alguém, se o relacionamento for profundo, um dia iremos decepcionar. Por isso, de alguma maneira que não sei direito explicar, não guardo mágoa. Essa semana conversei com uma pessoa, minha conhecida há muito tempo, uma década talvez, o que representa mais de um terço da minha existência. Em determinado momento da minha vida fomos muito amigas, eu e essa pessoa, e na mesa do bar, ela abriu o quanto tinha mágoas. Disse que guardava rancores quanto ao desfecho daquela antiga amizade que já não existe mais. Relembrou com detalhes minuciosos coisas tristes que minha memória não guardou. Nisso fiquei pensando como boa parte dos seres humanos tem suas vidas paradas no tempo, um tempo que há muito deixou de existir. Sei que cada um tem um mecanismo específico para lidar com questões que afligem o coração. Mas tive a certeza de que não quero isso pra mim.
Na política e na vida aprendi que é preciso seguir em frente com as pessoas porque é com elas que construímos o mundo. Por mais que nos magoemos, no dia seguinte as alegrias retornam. E as dores aos poucos vão passando. A mágoa, a tristeza não são a última palavra. Todos os dias encontro pessoas com feridas abertas devido a rancores de pai ou mãe. Gente que não foi amada na infância como queria ou devia. E que não conseguem seguir em frente. Acho triste. Sei que estas não são relações simples, e que perdoar algumas coisas é algo realmente muito difícil. Mas o que o orgulho das pessoas não permite que elas saibam, é que perdoar é libertador para quem perdoa, e não necessariamente para quem é perdoado. E que o perdão não é algo que se instala na base do mérito... é na base do amor. E quando conseguimos elaborar isso dentro de nós, o coração é leve, os olhos são brilhantes e a vida flui dentro de nós. Por isso, não tenho tempo a perder.